Categoria Opinião  Noticia Atualizada em 18-07-2006

Livre Arbítrio, Nosso Drama
Está cada vez mais difícil para o cristão exercer-cumprir o seu direito-dever de votar. A relação da Igreja Católica com o regimes democráticos de poder sempre foi controversa...
Livre Arbítrio, Nosso Drama

Está cada vez mais difícil para o cristão exercer-cumprir o seu direito-dever de votar. A relação da Igreja Católica com o regimes democráticos de poder sempre foi controversa, às vezes até contraditória. Por um lado, ela não hesita em afirmar categoricamente não ser ela mesma uma democracia, mas quase uma monarquia teocrática (a Igreja sempre teve sérias reservas quanto ao dito "a voz do povo é a voz de Deus"); por outro lado, de seus bancos saíram e saem ainda militantes, pensadores e protagonistas de democracias por todo o mundo. Dizem os especialistas que o conceito de pessoa, com a conseqüente afirmação de sua dignidade fundamental e sua subjetividade, é o maior contributo que o cristianismo já deu ao modelo democrático.

Está se tornando uma minuciosa tarefa de discernimento espiritual a escolha dos candidatos pelos cristãos engajados, aqueles que "estão com a Igreja e não abrem". Se ainda fosse possível dividir o imenso turbilhão de propostas políticas nos velhos e fáceis jargões "conservador" e "progressista", teríamos a seguinte linha divisória: os políticos conservadores geralmente são mais religiosos e mais sintonizados com a ética cristã referente à vida humana em seus inícios e fins, mas também mais propensos a defender latifundiários, cometer nepotismo, tráfico de influência, compra de votos, desvio de verbas e outras atrocidades; os políticos identificados como progressistas, por sua vez, de forma geral são os que historicamente se comprometem mais com os pobres e excluídos, têm uma história de coerência e militância em prol dos direitos humanos, da reforma agrária e outras causas caras à Igreja, mas também são os que mais abertamente defendem a legalização do aborto, a eutanásia, o controle de natalidade, a união civil de homossexuais, questões que a Igreja se mostra incisiva em combater.

No fundo, é a antiga ambigüidade entre o posicionamento católico oficial anti-comunista e a inevitável associação da proposta do Evangelho com um certo socialismo cristão. Em nível de ideais, os critérios são claros, mas quando se fala em partidarismo, tudo se complica. Não é legítimo nem mais possível pedir que os cristãos votem em cristãos, primeiro porque isso macularia a liberdade das consciências; e também porque a identidade dos cristãos há muito se perdeu em uma imensa malha de denominações, tendências e ideologias antagônicas. Em que cristão devo votar? Naquele que enfatiza as bem-aventuranças (Mt 5,1-12) e a opção preferencial pelos pobres mas seculariza a moral sexual e a bioética? Ou naquele que espiritualiza seu discurso, colore seu programa de religiosidade mas se esquece de que é impossível "servir a Deus e ao Dinheiro" (Lc 16,13)?

Na teologia moral há um critério básico para circunstâncias em que se é obrigado a escolher entre dois males: a busca do mal menor. O sujeito, em plena posse de sua liberdade responsável e de seu compromisso com a verdade, opta pela proposta que lhe parecer menos maléfica, escolhe a solução que trará menores danos imediatos. Essa parece ser a única forma que o cristão tem de otimizar o seu voto, se não quiser simplesmente abdicar desse direito. E essa última possibilidade não equivale propriamente a uma terceira opção, já que votar não é só um direito, mas um dever cidadão, um compromisso civil. Mas essa já daria uma outra discussão...


    Fonte: Redação Maratimba.com
 
Por:  Juliano Ribeiro Almeida    |      Imprimir