Categoria Opinião  Noticia Atualizada em 15-12-2006

Eleições da Câmara. Um circo ou jogo normal da política?
Nossa história começa no dia 12, última terça feira. O cenário é a Câmara de Vereadores de Marataízes. O fato, a eleição para os cargos da Mesa Diretora.
Eleições da Câmara. Um circo ou jogo normal da política?

Nossa história começa no dia 12, última terça feira. O cenário é a Câmara de Vereadores de Marataízes. O fato, a eleição para os cargos da Mesa Diretora.

Imagine a cena: Câmara lotada, a secretária dá início à sessão citando um salmo: "embora eu caminhe em um vale tenebroso, nenhum mal eu temerei", assim com essa frase ressoando na cabeça estava sendo dado o início de uma noitada no mínimo inusitada. Ato contínuo, a secretária emenda na leitura de uma resolução do atual presidente, vereador Agisse Melchiades, protocolada minutos antes do início da sessão, onde o mesmo destituía o procurador jurídico da Casa, funcionário concursado, de participar da sessão eleitoral, indo além, porque adiante efetiva a contratação, também somente para àquela sessão, de um advogado de Cachoeiro.

Por que um advogado de Cachoeiro? Era a pergunta que pairava pelo ar.

A resposta, ou melhor, parte dela, veio do próprio vereador presidente, que pelo microfone afirmava que o ato se dava em função há uma indisposição pessoal tida com o Procurador. Um som confuso e de muitas vozes toma conta do ambiente e de repente cessa, o silêncio foi provocado por uma atitude do vereador Cléber, que por questão de ordem pedia a palavra. "Solicito que a democracia seja mantida, de modo que o senhor submeta ao plenário a decisão sobre o afastamento do Procurador", bradou o edil. Indefiro o pedido, rebateu de pronto o presidente.

Novo burburinho e mais uma vez o silêncio, dessa vez porque quem se ocupava da tribuna era o próprio procurador. "Boa noite a todos, eu não preciso nem falar, nem lamentar das atitudes indignas que estão ocorrendo nesta Câmara... nós estamos vivendo uma situação atípica, inusitada, nunca passamos por esta situação", neste ponto o presidente o interrompe em sua fala, pois cioso que estava, espalhou para todos, atropelando o discurso do procurador, que a mágoa dele não era em verdade com o procurador, mas sim com o processo eleitoral.

Como assim, magoado com o processo eleitoral? Pensei eu!

O procurador retoma a palavra, afirma que um funcionário público concursado não pode ser afastado de suas funções pelo simples argumento de desentendimentos pessoais, e termina pedindo desculpas, dizendo enfim, que haviam tentado comprar sua dignidade e isso ele não aceitava.

Comprar? Quem? O que? Pensei eu de novo!

Esta seria a tônica da noite, uma noite de mágoas e sentimentos feridos, isso se ainda não viesse pela frente uma impugnação, claro, lembra que a sessão seria para votar no novo presidente da Casa?

Dois eram os candidatos ao cargo majoritário, o vereador Neolan e a vereadora Íris. Eram dois, porque nessa mesma sessão, o vereador Neolan solicitou a Mesa, ou seja, ao presidente desta, a impugnação da candidatura de sua adversária. A alegação era que ela estaria inscrita em duas chapas, na sua como vice-presidente e na outra como presidente, de forma que sob seu entendimento a vereadora Iris não poderia concorrer em duas chapas. Imediatamente ouve-se, defiro o pedido, em seguida gritos, palavras de ordem, piada, cachorrada, marmelada, vaias e coisas do gênero.

Sem se abalar, como um gentleman, o vereador presidente solicitava calma aos demais vereadores e a platéia, que neste momento já se via democraticamente cercada de policiais militares. Senhores, vossas excelências precisam referendar a chapa 1, conclamava o presidente.
Só para esclarecimento a respeito da composição de tal chapa, a chapa 1 era formada pelos vereadores Neolan, Irmão Milton e por ele próprio, o presidente.

Pela movimentação dos vereadores, a esta altura já dava para arriscar um palpite: a chapa 1 teria 3 votos e a adversária, até então impugnada, teria 6.

Como assim? A chapa 1 teria somente 3 votos? Isso mesmo.

Mas como eleger um presidente com apenas 3 votos se o Regimento fala em maioria absoluta, ou em outras palavras, pelos menos 5 votos? Essa era a questão que não se cansava de perturbar o bom andamento dos trabalhos legislativos!!!

Mas nossa história não termina aqui. Pois como manda a democracia, o grupo dos 6, ou seja, o grupo majoritário, não aceitou a derrota imposta pela impugnação personalíssima e partiu para o ataque. Eles buscaram assistência de um advogado, requisitaram conforme o regimento interno uma sessão extraordinária, pois agora está firme o propósito de afastar o atual presidente da Mesa e também de anular os atos praticados por ele, naquela que já é lembrada como uma sessão histórica.

Mas nossa história não termina aqui, pois certamente novos capítulos estão sendo escritos, o importante é que você também participe dessa construção, para que amanhã você também a conheça e possa contar, em detalhes, para seus filhos.


    Fonte: Autor
 
Por:  Renato Alves    |      Imprimir