Categoria Opinião  Noticia Atualizada em 27-02-2007

UM PAÍS BACANINHA
O Brasil é um país bacaninha. Tem tudo, mas não tem nada. Se acha, mas não é. Quer ser, mas não sabe como chegar lá. É o paraíso das contradições e da hipocrisia
UM PAÍS BACANINHA

O Brasil é um país bacaninha. Tem tudo, mas não tem nada. Se acha, mas não é. Quer ser, mas não sabe como chegar lá. É o paraíso das contradições e da hipocrisia. Pra quem gosta, é um prato cheio. Desconfio que a maior parte de seus habitantes não goste muito disso, dia após dia, mas… como se diz resignadamente por aqui, "é assim mesmo."

Outro dia recebi um e-mail sobre responsabilidade criminal, lembrando que em pocilgas fascistas como Canadá, Espanha e Holanda, a responsabilidade criminal começa aos doze anos; as ditaduras da Suécia, Finlândia e Noruega escolheram a idade de quinze anos. Alemanha e Japão, notórios por impor a seus jovens um regime contínuo de violência e degradação, preferiram os catorze anos…

Ah… não é que eu já ia me esquecendo? Aqui não dá pra fazer isso, porque nos outros países "a realidade é diferente". A experiência estrangeira aqui é tratada como algo surreal, extraterreno, que jamais se aplicará aos costumes locais – a suprema hipocrisia, claro, já que macaquear com o que é estrangeiro e não presta e premiar a impunidade funcionam direitinho.

Outro exemplo da cretinice tropical é o imaginário que nos coloca como uma nação vibrante, pujante, em desenvolvimento. Para ser desenvolvida, uma nação precisa ter intensa atividade comercial. Produzir, comprar, vender, importar, exportar. Quanto maior a escala, melhor para todos: fábricas (os que produzem), donos de lojas (os que revendem), consumidores (os que compram) e governo (que arrecada impostos).

Pois bem: no fazendão, as lojas fecham num piscar de olhos, por qualquer feriadinho vagabundo. Nos fins de semana, então, nem se fala. Por aqui, não adianta falar com as outras pessoas sobre a experiência e o exemplo do maior mercado do planeta – os Estados Unidos da América – nessa área. Como se entrassem em transe nessa terra, repetem o mantra de que "lá é diferente", e que aqui não dá para mudar as leis trabalhistas e pagar as pessoas por hora (é só subdividir o valor pago atualmente por mês, sem perdas para os trabalhadores, e contratar as pessoas por períodos igualmente subdivididos).

Só essa mudança de paradigma – claro, é preciso usar uma expressão bem ao gosto dos "universitários", porque falar em "cópia" pega mal por aqui – só essa mudança iria desengessar o empregador e permitir que ele contratasse mais gente, criasse mais escalas de trabalho de acordo com as necessidades de sua empresa e mantivesse o seu negócio aberto sete dias da semana, sem espoliar o supremo direito ao descanso semanal de ninguém.

Os bestalhões que dizem "zelar pelas virtudes e avanços de nossas leis trabalhistas" não percebem que este seu suposto "zelo" – sinônimo de cegueira –apenas corta empregos, em vez de multiplicá-los. Cria marginais e pilantras em cada esquina, em vez de uma população que estuda e trabalha, sobrevive com dignidade e tem orgulho de levar seu dinheiro conquistado de maneira honesta para dentro de casa.

Hoje, praticamente nada disso acontece, o povo sobrevive de biscate e bolsa-esmola e ainda é obrigado a ouvir notícias de planos brancaleônicos e rocambolescos de um crescimento acelerado que nos levarão a lugar nenhum.

Não é preciso ser o Mago Merlin ou a Madame Min para imaginar qual o resultado de uma poção que tenha as variáveis sociais e econômicas atuais como ingredientes, todos juntos num caldeirão fervente.

Daí não pode sair coisa boa.


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Por:  Claudio Lessa    |      Imprimir