Categoria Opinião  Noticia Atualizada em 27-03-2007

CONTROLE REMOTO
Mais uma vez, levanta-se uma pol�mica no governo. Desta vez, � o ardente desejo de se criar uma rede de televis�o estatal supostamente destinada a divulgar projetos de interesse p�blico.
CONTROLE REMOTO

Mais uma vez, levanta-se uma pol�mica no governo. Desta vez, � o ardente desejo de se criar uma rede de televis�o estatal supostamente destinada a divulgar projetos de interesse p�blico.

A quest�o, aqui, n�o deve ser a de criar ou n�o criar. Quase todo governo que se preze, democr�tico ou desp�tico, desenvolvido ou sub-desenvolvido, possui uma rede de televis�o estatal, de uma forma ou de outra. � preciso que o estado mostre � popula��o - sem proselitismo pol�tico expl�cito - algo mais do que um concurso de garotas da laje, ou passeatas fabricadas em favor da paz pela avenida Atl�ntica, ou a divulga��o de costumes question�veis via novelas de intenso apelo popularesco.

Acontece que, de um jeito ou de outro, o Brasil n�o � diferente dos outros governos, e j� possui sua emissora estatal. Ela atende pelo nome de Radiobr�s e condensa for�as antigas e dispersas, como a Ag�ncia Nacional, a R�dio Nacional e a TV Nacional, que foram unidas debaixo do mesmo guarda-chuva no ocaso da ditadura militar. De l� para c�, a Radiobr�s tem sobrevivido somente porque Deus deixa.

Os sucessivos governos, ora m�opes, ora ignorantes, quase sempre despreparados para o exerc�cio consciente do poder, nunca se deram conta da verdadeira import�ncia de um canal de comunica��o direta com a popula��o - o que agora, em 2007, conjunturalmente, assume contornos perigosos, problem�ticos, venezuelan�sticos, terceiromandatianos, pseudo-ditatoriais. Os mais espertos e de maior tradi��o democr�tica, como a Inglaterra, por exemplo, j� perceberam as vantagens e cultivam sua BBC h� d�cadas. Uma BBC, ali�s, que informa sem ficar de joelhos, nem para trabalhistas, nem para conservadores.

� por isso, entre outras coisas, que a Radiobr�s, por exemplo, n�o possui canal aberto em outras cidades al�m de Bras�lia - onde o sinal, por falar nisso, � um lixo. Seu equipamento � completamente sucateado e o n�vel de insatisfa��o dos funcion�rios com essa situa��o j� furou o teto.

Quem conheceu, mesmo de longe, a hist�ria de abnega��o e empenho dos funcion�rios da Radiobr�s, espoliados pelos dirigentes de plant�o - sempre compromissados com uma agenda diversa dos interesses da emissora e seus reais objetivos de longo prazo -, e agora ouve falar em "cria��o de uma nova rede estatal", s� pode sentir o cheiro de picaretagem no ar.

N�o h� d�vida de que o Brasil precise, de alguma forma, de uma rede de comunica��o que se preocupe em levar ao cidad�o as realiza��es e objetivos do governo, promovendo a intera��o e a cidadania - sem proselitismo pol�tico, repito. Agora, criar alguma coisa do zero quando j� se tem a espinha dorsal montada e funcionando, bem ou mal, � sinal de mais uma maracutaia pronta para acontecer.

O que o poder Executivo tem a fazer, neste momento, � entender que a Radiobr�s j� existe e que seus funcion�rios est�o - como sempre estiveram - prontos para agir, desde que possuam equipamentos decentes e sal�rios condizentes com os de mercado, como em qualquer outra emissora. O Executivo tem como providenciar verba para isso, melhorando os sal�rios, e se houver o questionamento dos padr�es profissionais, isso se resolve por meio de concursos p�blicos bem mais exigentes. Comprar equipamentos e montar repetidoras Brasil afora tamb�m � f�cil. Basta querer.

Infelizmente, ainda prevalece o racioc�nio equivocado no governo - especialmente neste governo, t�o primariamente ideologizado - de que basta uma programa��o de qualidade para atrair a audi�ncia do p�blico. Errado. Televis�o � v�deo, depois �udio, e em terceiro lugar vem o conte�do. Por isso, n�o adianta entrar numa de querer fazer uma programa��o "cabe�a" se a imagem � uma droga, cheia de chuviscos e fantasmas, e o som chega cheio de interfer�ncias. Quem est� no sof� com o controle remoto na m�o n�o perdoa. E � a� que mora o perigo.



    Fonte: Direto da Reda��o
 
Por:  Claudio Lessa    |      Imprimir