Categoria Opinião  Noticia Atualizada em 06-04-2007

ELAS ESTíO DESCONTROLADAS
As crises; "isso tudo acontecendo e eu aqui na praça, dando milho aos pombos"
ELAS ESTíO DESCONTROLADAS

As crises; são tantas e não temos idéia melhor do que fazer aquilo que cantou Zé Geraldo: "isso tudo acontecendo e eu aqui na praça, dando milho aos pombos". A crise envolvendo os controladores de vôo brasileiros desta Semana Santa tem me feito pensar na falta de controle geral da situação em que vivemos.

Em setembro de 2001, o mundo descobriu que os Estados Unidos da América, na verdade, não detinham, como demonstravam, todo aquele controle sobre si e sobre tudo; assisti recentemente a um filme que ironizou ao mostrar como os controladores de vôo de Manhattan ainda nem tinham idéia do que estava acontecendo quando viram pela tv as primeiras imagens da tragédia.

Aqui no Brasil, o acidente com o vôo 1907 da Gol, em setembro de 2006, foi a ponta do iceberg de toda essa crise aérea, diante da qual o governo brasileiro tem se demonstrado completamente incapaz e sem planejamento. Os controladores aéreos resolvem fazer uma greve e o país simplesmente pára. De repente, quem não tinha medo de voar tratou de arranjar logo um, porque percebeu que o céu está mesmo descontrolado. Desmandos e desacatos à parte, foi bom sentirmos falta dos controladores, para tomarmos mais consciência do quanto estamos mesmo é sem controle, no céu, em casa, na política, no trabalho, em toda parte.

O rabino Henry Sobel acabou surgindo no meio deste grande turbilhão como um ícone da nossa situação: homem profundamente engajado historicamente na luta pela cidadania neste país, Sobel simplesmente perdeu o controle e, arbitrariamente medicado, roubou quatro gravatas de uma loja de grife americana. Transtorno de humor, dizem os médicos. É claro que uma pessoa deve ser julgada pelo conjunto das opções e atitudes que tomou na vida e não em função de um deslize, seja qual for a causa. O preocupante não é um crime com o qual devamos nos decepcionar, mas o descontrole, diante do qual apenas tememos.

Que bom: tanto os controladores de vôo como o rabino fora-de-si apareceram depois para pedir perdão pelo "descontrole". No pronunciamento de Sobel, uma frase me chamou a atenção: "é muito difícil para mim explicar o inexplicável". A nossa sociedade se sente exatamente assim, sem explicação para tantos descontroles. Há bem pouco tempo, os pensadores nos ajudavam a entender a pós-modernidade dizendo que era tempo de "mudança de paradigmas". Mas o que estamos sentindo é que parece simplesmente não haver mais paradigma a ser seguido.

Estamos passando a viver em função de controlar o incontrolável! Quer ver?: a falta de um programa de controle ambiental está sendo percebida agora por causa do alerta dos cientistas acerca do aquecimento global. No Rio de Janeiro, polícia entra em crise filosófica, para tentar descobrir as causas dos atentados contra policiais, que são simplesmente incontroláveis e sem causa razoável.

São Paulo, na Carta aos Gálatas, afirma que um dos frutos do Espírito Santo é o autocontrole, controle de si mesmo (cf. 5,22). Enquanto aprendemos a controlar coisas miúdas como o tráfego aéreo ou a temperatura global, não podemos deixar de lutar pelo controle do mais incontrolável das criaturas: nós mesmos...


    Fonte: O Autor
 
Por:  Juliano Ribeiro Almeida    |      Imprimir