Categoria Opinião  Noticia Atualizada em 07-05-2007

NO TEMPO EM QUE OS ANIMAIS FALAVAM
Quando eu era crian�a, grande parte das hist�rias come�avam com duas frases: a primeira e mais conhecida � �Era uma vez..."
NO TEMPO EM QUE OS ANIMAIS FALAVAM

Quando eu era crian�a, grande parte das hist�rias come�avam com duas frases: a primeira e mais conhecida � "Era uma vez..."

A segunda, e tamb�m muito conhecida do brasileiro, era: "No tempo em que os animais falavam..." Talvez esta tradi��o tenha come�ado com as f�bulas de um antigo escravo, Esopo, que viveu h� mais de 2.500 anos. Sua origem � tamb�m lend�ria; seu lugar de nascimento varia, segundo a enciclop�dia consultada, da Gr�cia � Eti�pia. Mais isso n�o tem a menor import�ncia, seu legado atravessou o tempo, fez sucesso em todas as gera��es, e continua vivo at� hoje.

Volta e meia releio seus ensinamento, e me parecem mais importantes que o de muitos fil�sofos atuais. A seguir, algumas das f�bulas onde usa a raposa como tema; a for�a de suas hist�rias � t�o forte que at� hoje o pobre animal passou a ser sin�nimo de esperteza.

A raposa e o rei macaco

Os animais decidiram que o rei do grupo seria eleito por aquele que dan�asse melhor. Depois de uma grande festa, onde todos participaram, o macaco recebeu a coroa.

Ciumenta, a raposa foi passear pelas redondezas. Ali descobriu uma armadilha intacta, com comida dentro. Mais do que depressa, pegou-a e a trouxe at� o grupo:

- Achei este banquete, e me vi na obriga��o de entreg�-lo ao nosso rei, que ter� prioridade sobre tudo.

Sem pensar muito, o macaco colocou a m�o para pegar a comida, e ficou preso na armadilha.

- Voc� me traiu! � gritava ele.

- Como assim? Eu nem tentei pegar a comida! Mas pelo menos vimos que n�o est�s preparado para o cargo; um animal inteligente jamais toma uma decis�o sem antes pensar muito sobre todas as possibilidades e perigos envolvidos.

A raposa com o rabo cortado

Uma raposa caiu por acaso em uma armadilha. Conseguiu escapar, mas teve seu rabo cortado. A partir da�, passou a considerar-se monstruosa. Mas achou uma solu��o, ao encontrar-se com suas amigas:

- Penso que a nova moda � cortarmos o rabo. Desperta a cobi�a dos ca�adores, n�o nos serve para nada, e � um peso in�til que carregamos.

- Querida irm� �respondeu uma delas - Se tivesses rabo, estaria nos dando este conselho? Somos s�bias o suficiente para saber quando algu�m deseja nosso bem, ou quando est� querendo apenas nos igualar �s suas defici�ncias.

A raposa � o lavrador

Cansado de ver sua colheita sempre sendo parcialmente destru�da por aquele pequeno animal, o lavrador conseguiu capturar a raposa. Sem a menor piedade, colocou aguardente em seu corpo e ateou fogo.

Sabendo que ia morrer, ela come�ou a correr pelo meio da colheita, e tudo a sua volta come�ou a incendiar-se tamb�m. Enquanto se afastava, dizia:

- Da pr�xima vez, procura ser compreensivo e indulgente! � melhor sempre dar um pouco do que se tem, do que querer guardar tudo! Sempre que fazemos o mal, ele termina se voltando contra n�s mesmos!

A raposa e o corvo

O corvo roubou dos pastores um peda�o de queijo, e foi instalar-se em uma �rvore para com�-lo. Naquele momento passava uma raposa esfomeada, que pediu um peda�o, mas o corvo fez um sinal negativo com a cabe�a.

Foi ent�o que ela come�ou a dizer que ele tinha todas as qualidades: era sagaz, voava, tinha uma linda plumagem negra. S� tinha um defeito: n�o sabia cantar como os outros p�ssaros.

Para provar que ela estava errada, o corvo abriu a boca para cantar, e o queijo caiu no ch�o. Ela o pegou imediatamente, e saiu dali, dizendo:

- Querido amigo, esse � o pre�o da vaidade! Quando algu�m est� lhe elogiando muito, deves sempre ficar desconfiado!


Fonte: O Autor
 
Por:  Paulo Coelho    |      Imprimir