Categoria Opinião  Noticia Atualizada em 04-06-2007

NA RODA DO TEMPO
Eu havia me proposto a publicar aqui neste espa�o, uma vez por ano, textos de Carlos Casta�eda, um antrop�logo que marcou minha gera��o atrav�s dos relatos de seus encontros
NA RODA DO TEMPO

Eu havia me proposto a publicar aqui neste espa�o, uma vez por ano, textos de Carlos Casta�eda, um antrop�logo que marcou minha gera��o atrav�s dos relatos de seus encontros com feiticeiros mexicanos. Por falta de espa�o, n�o fa�o isso desde 2004. Hoje acordei pensando: Casta�eda, apesar de todos os seus cr�ticos e de todo o seu trabalho que mais tarde me pareceu muito desordenado, n�o deve ser esquecido. Portanto, aqui v�o, editadas, algumas de suas reflex�es.

A inten��o � o mais importante: para os antigos feiticeiros do M�xico, a inten��o (intento) � uma for�a que interv�m em todos os aspectos do tempo e do espa�o. Para poder utilizar e manipular esta for�a precisavam ter um comportamento impec�vel. A meta final de um guerreiro � poder levantar a cabe�a al�m o sulco onde est� confinado, olhar ao redor, e modificar o que deseja. Para isso, necessita disciplina e aten��o total.

Nada � f�cil: nada neste mundo � dado de presente: tudo precisa ser aprendido com muito esfor�o. Um homem que vai a busca do conhecimento deve ter o mesmo comportamento de um soldado que vai para a guerra: bem desperto, com medo, com respeito, e com absoluta confian�a. Se seguir estes requisitos, pode perder uma batalha ou outra, mas jamais ir� lamentar-se do seu destino.

O medo � natural: o medo da liberdade que o conhecimento nos traz � absolutamente natural; entretanto, por mais terr�vel que seja o aprendizado, � pior viver sem sabedoria.

A irrita��o � desnecess�ria: irritar-se com os outros significa dar a eles o poder de interferir em nossas vidas. � imperativo deixar este sentimento de lado. Os atos alheios n�o podem de maneira nenhuma nos desviar de nossa �nica alternativa na vida: o encontro com o infinito.

O fim � um aliado: quando as coisas come�am a ficar confusas, um guerreiro pensa em sua morte, e imediatamente seu esp�rito encontra-se de novo com ele. A morte est� em todas as partes. Podemos comparar aos far�is de um carro que nos segue por uma estrada sinuosa; �s vezes os perdemos de vista, �s vezes aparecem perto demais, �s vezes apaga suas luzes. Mas este carro imagin�rio jamais se det�m (e um dia nos alcan�a). S� a id�ia da morte d� ao homem o desapego suficiente para seguir adiante, apesar de todos os percal�os. Um homem que sabe que a morte est� se aproximando todos os dias, prova de tudo, mas sem ansiedade.

O presente � �nico: um guerreiro sabe esperar, porque sabe o que est� aguardando. E enquanto espera, n�o deseja nada, e desta maneira, qualquer coisa que receber � por menor que seja � � uma ben��o. O homem comum se preocupa em demasiado por querer aos outros, ou ser querido por eles. Um guerreiro sabe o que deseja, e isso � tudo em sua vida (e nisso concentra toda a sua energia). O homem comum gasta o presente agindo como ganhador ou perdedor, e dependendo dos resultados, transforma-se em perseguidor ou v�tima. O guerreiro, por outro lado, preocupa-se apenas com os seus atos, que o levar�o ao objetivo que tra�ou para si mesmo.

A inten��o � transparente: a inten��o (intento) n�o � um pensamento, nem um objeto, nem um desejo. � aquilo que faz um homem triunfar em seus objetivos, e levant�-lo do ch�o mesmo quando ele j� se entregou � derrota. A inten��o � mais forte que o homem.

A batalha � sempre a �ltima: o esp�rito do guerreiro n�o se queixa de nada, porque n�o nasceu para ganhar ou perder. Nasceu para lutar, e cada batalha � a �ltima que est� travando sobre a face da Terra. Por isso o guerreiro sempre deixa o seu espirito livre, e quando se entrega ao combate, sabendo que sua inten��o � transparente, ele ri e se diverte.


Fonte: O Autor
 
Por:  Paulo Coelho    |      Imprimir