Categoria Opinião  Noticia Atualizada em 15-06-2007

FÉRIAS EM PARIS
Paris - É praticamente verão em Paris. O dia só termina às onze da noite. O movimento de homens, mulheres e crianças nas ruas da capital francesa acompanha a mudança oferecida todo ano pela natureza
FÉRIAS EM PARIS

Paris - É praticamente verão em Paris. O dia só termina às onze da noite. O movimento de homens, mulheres e crianças nas ruas da capital francesa acompanha a mudança oferecida todo ano pela natureza. É na França em tempos de descoberta de uma nova "direita" que eu me encontro, por alguns dias apenas, mas tempo suficiente para colocar o Brasil e seus vizinhos em perspectiva.

Por aqui, ninguém se incomoda nem ouviu falar no mais recente escândalo onde todos, claramente e cada um por um motivo próprio, queriam se dar bem - do político à amante, do lobista ao advogado da amante. Isso é claramente coisa de mundo subdesenvolvido. Por aqui, as estrepulias do ditadorzinho don Huguito são coisa de América Latrina. Nem ele, nem seu asseclinha boliviano, o cocaineiro Evito, resistem a dois dedos de prosa no Deux Magots, no coração de Saint-Germain des-Près. Há coisas mais sérias a serem tratadas, mesmo quando se joga conversa fora em mesa de bar.

É tempo de rever os clássicos no Louvre, experimentar o moderno - às vezes o apocalíptico, quase sempre indecifrável - no Beaubourg. É tempo de subir mais uma vez ao topo da torre Eiffel e, depois de se emocionar com a deslumbrante visão de Paris, chegar quase às lágrimas ao ler uma pequena placa que marca a aventura de um grupo de soldados franceses naquele mesmo lugar, há quase sessenta e três anos. No dia 25 de agosto de 1944, com Paris ainda ocupada pelos nazistas, eles conseguiram hastear a bandeira azul, branca e vermelha no topo da Torre Eiffel, para desespero de seus tirânicos invasores.

É tempo de andar pelas ruas de Paris. Andar, andar e andar, sem medo de se perder, como qualquer turista: um bom par de tênis, uma roupa confortável e um mapa da cidade nas mãos. É tempo de rever um sistema de transporte urbano que funciona, de poder andar nas ruas à vontade, novamente, sem aquele medo neurótico de ser assaltado na próxima esquina, de ser recebido nos restaurantes, nos museus, nas lojas, e até numa creperia de esquina com uma palavra de cortesia, em mais de um idioma.

É tempo de perceber alguns sinais de mudança na cultura francesa, no modo de a sociedade encarar os novos desafios e resolver abandonar certas convicções ditas imutáveis - ou pétreas, como se diz na imensa fazenda - e de imaginar que reflexos essas mudanças terão sobre aqueles que acreditam que a França e seus valores - alguns deles em adiantado estado de putrefação - são a última Coca-Cola do deserto.

É quase verão em Paris e no resto da Europa. As mudanças se anunciam discretamente, comme il faut. Mas elas estão chegando, em mais um ciclo de renovação que promete mexer, mais cedo ou mais tarde, e com intensidade ainda desconhecida, em alguns paradigmas bastante caros àqueles que cuidam de seus interesses enquanto fingem que cuidam dos nossos.

Fonte: O Autor
 
Por:  Claudio Lessa    |      Imprimir