Quem comemora em gesto fulo o "tá fudido",
Numa rechaça dessa culpa ao ar lançada,
I
Quem comemora em gesto fulo o "tá fudido",
Numa rechaça dessa culpa ao ar lançada,
Esquece as mortes, pois, na briga de partido,
Morte que vale é só a morte de bancada.
"Morram milhares de civis! Morram, mas deixem
Carta lavrada isentando o meu patrão,
Pois o governo é igual reverso de avião
Que não permite aos brasileiros que se queixem."
"Tá, fui filmado pela câmera indigesta
E não refuto foda em gesto que me livre
Da condição da caixa-preta mais funesta,"
"Porque até queda de avião é mal político:
Bastam umas mortes e nos baixam outro calibre
Que se não mata, deixa a gente paralítico."
II
"Foda-se choro de filha sem pai ou sogra sem nora!"
"Foda-se a carga miserável de quem paga
O pato nessa armadilha aérea e implora
Por nossa ajuda PAClística e aziaga!"
"Eu quero mais é que se foda a companhia
E o reverso e o flap e a asa e o avião!"
"Porque ao governo o mais vindouro é a calmaria
Duma gozada relaxando na isenção."
"Se foi o motor – beleza! - a sorte foi traçada
E agora apague o usuário sua revolta,
Pois nossa corja não tem culpa nessa alçada!"
"E a solução, vinda de nós – furgão sem escolta –
Ventilaremos só ao cair outro aeroplano
Numa estratégia de "empurra, pega e solta".
Marco Aurélio Garcia Lorca
Fonte: O autor
|