Categoria Música  Noticia Atualizada em 23-07-2007

"Umbrella" está no topo da parada há oito semanas.
"Umbrella" está no topo da parada há oito semanas. Mesmo assim, americanos não sabem quem é Rihanna

Foto: www.maratimba.com

Há sinais de mau presságio já faz meses. Como o par de chinelos de dedo que chegou pelo correio, cortesia de alguma gravadora tentando influenciar os resultados. E as discussões apáticas entre amigos que mais pareciam estar simplesmente cumprindo tabela. E as paradas literalmente paradas, praticamente eliminando qualquer suspense.

Somados, esses e outros sinais indicam uma triste conclusão: talvez tenha chegado a hora de parar de falar da chamada Canção de Verão - que é a atual estação no hemisfério Norte.

A vencedora provavelmente seria Rihanna, que ao que parece encerrou a competição deste ano quase assim que ela começou. Seu sucesso, "Umbrella", com Jay-Z, é quase perfeito: uma composição pop graciosa com uma forte batida de hip-hop, uma alegre canção de amor incrementada pelos teclados com um som gótico imprevisível e pela sugestão despropositada de agonia da voz feminina de Rihanna.

A música "Umbrella" subiu para o topo das 100 mais tocadas das paradas da Billboard logo após a última semana de maio e de lá não saiu mais. A nova lista, a ser publicada hoje, revelará se ela conseguiu se manter em primeiro lugar pela oitava semana consecutiva. No entanto, mais da metade do verão nos EUA já passou e parece pouco provável que alguém supere Rihanna. (Embora Sean Kingston, o rapaz de 17 anos responsável pelo mais novo sucesso "Beautiful Girls", sem dúvida se esforçará).

O que há de tão especial sobre o sucesso de verão?

É uma idéia antiquada, mas que foi reacesa na década de 90 com o predomínio do hip-hop, quando esse gênero deu nova vida a tolas canções de amor. Qualquer histórico básico deve incluir "I'll be there for you/You're all I need to get by", dueto de Method Man e Mary J. Blige, que não parou de tocar no verão de 1995. Casas arejando, calçadões lotados na praia, carros com tetos-solares abertos, churrascos descontraídos: por algum motivo, os hábitos que chegam com o verão se potencializam tornando grandes canções ainda maiores. Em 2005, parecia que o país inteiro estava escutando Mariah Carey cantar "We belong together", que dominou as paradas de maio a setembro.

No entanto, observando a história, fica claro que a unanimidade do verão é a exceção, não a regra. A concorrência mais acirrada do verão passado é mais típica. "Crazy"? "Ridin' "? "Hips don't lie"? "Promiscuous"? Não houve um campeão disparado. E mesmo os grandes vencedores não são tão onipresentes como nós obsessivos às vezes achamos. Muita gente nos EUA – a maioria, sem dúvida – não consegue cantarolar "We belong together" e não sabe nem que cara tem Rihanna. (Uma dica útil: as pernas dela começam em algum lugar próximo às axilas e, como se diz por aí, preenchem todo o percurso até chegar ao chão). Com a multiplicação das opções de entretenimento, até mesmo o pop comercial está começando a virar um mercado de nicho.



Determinado padrão
Não se trata meramente de um concurso de popularidade: por tradição, a moderna Canção de Verão tem que seguir um determinado padrão. O modelo básico é o hip-pop; duetos são recomendados, mas não são uma exigência; o tema favorito é amor (embora luxúria também funcione bem, desde que haja bastante namoro); e a sensação preferida é de jovialidade. Em outros tempos, quando baladas de R&B estrondosas e rocks intensos costumavam tomar conta das paradas, este som de verão poderia parecer uma quebra nas regras. Mas já se passou uma década desde que Toni Braxton bramiu "Un-break my heart", e hoje a trilha do verão é o som da música pop, e não se fala mais nisso.

Sem dúvida o sucesso de verão de Beyoncé, "Irreplaceable", poderia facilmente agradar o pessoal da praia. O mesmo vale para sucessos recentes de Akon, Fergie, T-Pain, Justin Timberlake e Gwen Stefani, especializados em mandar músicas joviais de hip-pop para o topo das paradas entra ano sai ano, descaradamente ignorando a etiqueta das estações. Talvez a volta do mercado de singles (graças ao iTunes e similares) tenha tornado as Top 40 mais joviais, tirando a ênfase das baladas que os programadores das rádios tanto amam. Seja qual for o motivo, o resultado é que as paradas de sucesso parecem o pior pesadelo de Al Gore: 52 semanas de verão.

Talvez não importe que o concurso da Canção de Verão seja uma tola ficção. Certamente não é mais tola do que o concurso sazonal na Inglaterra: a disputa anual para ver quem estará no topo do topo das paradas no dia de Natal. Por tradição, a canção vencedora é quase sempre horrível: a campeã do ano passado foi Leona Lewis, vencedora do concurso de talentos da TV "The X factor", cantando "A moment like this", o antigo single de Kelly Clarkson. O concurso tem a intenção de comemorar o contexto e ao mesmo tempo, na verdade, criá-lo: a música de Leona Lewis está associada ao Natal porque ganhou, não o contrário. Da mesma forma, muitos ouvintes americanos provavelmente associam "We belong together" com dias inteiros na praia, ainda que jamais tenham escutado a música pisando na areia. Algo semelhante pode estar acontecendo com "Umbrella": uma música sobre chuva é indissociável do sol.

Hmm. Acho que chega de especulação sobre a Canção de Verão. É uma tradição duplamente duradoura porque agrega dois tipos de nostalgia de uma só vez: nostalgia daquelas férias intermináveis de verão e nostalgia de uma época de unanimidade – um período (fictício) quando escutávamos a mesma estação de rádio e comprávamos os mesmos discos. Para qualquer um que não seja mais estudante em tempo integral, o verão, como um amplo consenso cultural, acontece em pequenas e curtas manifestações. Nós o aproveitamos e inventamos quando podemos.

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matéria feita por Andy Angelzz

www.jussanguinis.com

Fonte: http://g1.globo.com
 
Por:  José Rubens Brumana    |      Imprimir