Categoria Opinião  Noticia Atualizada em 29-07-2007

A REPÚBLICA DO TOP-TOP-TOP
A macabra comemoração do sub (e do sub do sub), que de certa forma oficializou a república do top-top-top, me traz lembranças
A REPÚBLICA DO TOP-TOP-TOP

A macabra comemoração do sub (e do sub do sub), que de certa forma oficializou a república do top-top-top, me traz lembranças; me dá oportunidade de reafirmar velhas convicções.

Lembro-me de um querido amigo já falecido, o jornalista e entusiasta do esporte amador Nilson Nelson, hoje nome do principal ginásio de esportes de Brasília. Quando via atitudes desse nível, dentro ou fora da sua Radiobrás, ele perdia o permanente sorriso nos lábios e exclamava, meio que irônico, meio que amargurado: "São uns brincalhões!"

Lembro-me também da queda do muro de Berlim, ocorrida sob a guarda de Bush Pai. Confirmada a queda, exibidos os vídeos, ele se mostrou impassível diante das câmeras, de forma a não deixar o outro lado numa situação constrangedora. Mais tarde, Bush Pai confessou que teve vontade de dar um salto e bater as pernas uma na outra para comemorar o fim da guerra fria e a derrocada soviética, mas que jamais se permitiria fazer isso em público, muito menos ao alcance de uma câmera. Sabe como é, leitor(a), coisa de postura, coisa de berço. Atitude de quem foi preparado para ser estadista.

Ao observar o lamentável esfacelamento ético e moral das nossas instituições - coroado agora, inclusive, por tentativas tanto subterrâneas quanto calhordas de intimidação que validam a expressão "todo brasileiro é honesto, até forja em contrário" - só me resta reafirmar: o sistema democrático brasileiro ainda é profundamente falho e é preciso reformá-lo, aperfeiçoá-lo, custe o que custar, e com urgência; as enormes falhas contidas no sistema propiciam a desinformação e o desinteresse do eleitor; esse baixo nível de participação intelectual e informacional, por sua vez, permitem que (des)governos como o atual sejam legitimamente eleitos e legitimem pífios desempenhos, dando suporte ao discutível conceito "cada povo tem o governo que merece". Você, leitor(a), acha mesmo que o Brasil merece tudo isso?

Para os que já me confundiram com tudo, de um extremo ao outro do espectro político, um esclarecimento necessário: nunca votei no atual presidente, e não por considerá-lo uma pessoa do mal. Muito pelo contrário: quando o conheci pessoalmente, em 1989, nos Estados Unidos, ele demonstrou simpatia, carisma e desejo de atacar os problemas brasileiros ao lado de uma esposa que sempre lhe dedicava um sorriso confiante e um olhar carinhoso. Percebi, no entanto, que seu esforço era muito nipo-brasileiro (mistura de kamikaze com macunaíma) para o meu gosto e ele não parecia dispor de recursos humanos capazes de ajudá-lo nessa travessia. Além disso, considerava (e ainda considero) a esquerda brasileira, na qual ele se apoiou para eleger-se e depois lhe deu as costas, em geral muito burra. Já escrevi isso aqui várias vezes, e lamento que seja assim, pois acredito que as diversas tendências e correntes devam ser igualmente bem preparadas para que a democracia seja ainda mais vigorosa. Só assim o povo sai lucrando e o país vai para a frente. E não há briga com os fatos: de 2003 para cá, o que tem se sucedido apenas confirma, reconfirma e comprova minha intuição original.

Numa democracia incipiente como a brasileira, onde a maioria dos eleitores é mal-informada ou não se informa, um dos maiores perigos é exatamente esse que estamos vivendo hoje em dia: um chefe de governo despreparado para suas funções precisa tomar decisões apoiado em opiniões, sugestões e influências de pessoas que talvez não possuam a causa brasileira como sua prioridade número um. E não custa nada lembrar - essas pessoas que alugam os ouvidos do presidente, ao contrário do pobre chefe de governo, não chegaram a seus postos pelo voto. E se já não se sabe muito sobre quem foi eleito, imagine o que esperar de quem chegou ali se movimentando pelas sombras.

Aliás, não precisa imaginar muito: é só acompanhar o bailado darth-vaderiano pelos jornais, revistas e emissoras de tevê, e constatar a admiração incontida pela ditadura venezuelana, o apoio incondicional ao insolente calote boliviano, as respeitosas reverências a gente como o cubano Fidel, o iraniano Ahmadinejad ou o líbio Khadafi. Como cerejinha no sundae, os patéticos gestos gravados pela TV Globo. Se fosse a novela das oito, a sonoplastia seria "top- top-top" e "créu!". Com leitura labial da garotada do Benjamin Constant, adiciona-se um "f.d.p.!" entredentes. Pena que o texto não seja a cores.

É isso aí. Como dizem nossos inefáveis irmãos do Norte, "what you see, is what you get".

Fonte: O Autor
 
Por:  Claudio Lessa    |      Imprimir