Categoria Opinião  Noticia Atualizada em 31-08-2007

FOGUEIRA DAS VAIDADES
"Esta semana, ao ler os jornais com as transcri��es do chat entre a mineirinha Carmem L�cia e seu colega Lewandowski, durante o julgamento do mensal�o no STF, me lembrei muito de minha falecida m�e..."
FOGUEIRA DAS VAIDADES

Esta semana, ao ler os jornais com as transcri��es do chat entre a mineirinha Carmem L�cia e seu colega Lewandowski, durante o julgamento do mensal�o no STF, me lembrei muito de minha falecida m�e e das est�rias reveladoras que ela contava sobre a fam�lia Guimar�es, em Minas Gerais. Nos tempos da jovem Dilza - l� pelas d�cadas de 30, 40 do s�culo passado - dois "tipos de gente" n�o entravam na casa do meu av� Boanerges: o policial militar cal�ado com botas pretas - representativas de seu baixo n�vel, nem "preto".

A restri��o a esse �ltimo "tipo de gente" era, no m�nimo, curiosa. Carmozina, uma negra diminuta que trabalhava como empregada dom�stica - cozinheira, arrumadeira, passadeira, bab� - na casa do mesmo Boanerges, ajudou a criar minha m�e e todos os irm�os que vieram depois dela e � venerada por todos os sobrinhos e netos que a conheceram e a chamaram carinhosamente de "Dindinha" at� que ela desencarnou, h� alguns anos, j� bem velhinha.

Por que a associa��o? Por causa de uma frase da ministra mineira, segundo quem o relator do mensal�o no STF - o negro Joaquim Barbosa - iria ascender muito socialmente a partir da exposi��o que o papel que ele est� desempenhando lhe confere. Coment�rio t�pico do mineiro que sobrevive chafurdando na hipocrisia t�o natural quanto a beleza do montanhoso solo das Alterosas. Eu nasci, cresci e me rebelei neste meio. Sei exatamente como ele � e como funciona.

Funciona exatamente como nas elei��es passadas, por exemplo: o candidato � reelei��o para o governo do estado, com vota��o recorde, faz um acerto de longo prazo com o "inimigo", segundo se informa e, com isso, deixa � m�ngua o candidato a presidente que era do seu pr�prio partido, numa aparentemente inexplic�vel secura de votos. Foi mais ou menos como se a mineirada tivesse torcido para a sele��o brasileira nas eliminat�rias da Copa e resolvido apostar todas as fichas nos argentinos, durante a competi��o pra valer.

Foi bacaninha tamb�m, na esteira da controv�rsia gerada com a publica��o perfeitamente legal, constitucional, e de inquestion�vel interesse jornal�stico das fotos do(s) brilhante(s) rep�rteres fotogr�fico(s), constatar a fogueira de vaidades que arde no STF e acompanhar a rea��o de gente que j� fez parte daquele mundo e hoje, por exemplo, trata de correr atr�s de um sonho presidencial reajustando o espa�o dos assentos da avia��o comercial, promovendo "photo-ops" vazios nas pistas de aeroportos e abra�ada a animais selvagens, e dando declara��es desaforadas aos jornalistas quando questionada sobre seus desafetos. Gente que desqualifica a exist�ncia de montagem de esquemas de vota��o no STF quando, na realidade, era conhecida, reverenciada e temida pela maestria em fazer exatamente isso durante o tempo em que esteve l�.

Enquanto essas e outras rea��es explodiam nos jornais, como a da Ordem dos Advogados do Brasil, igualmente negativa, podia- se ver qu�o "outdated" - ou, para aplacar a f�ria dos antiamericanos, "demod�" - toda essa confus�o realmente �. H� cerca de trinta anos, o ent�o todo-poderoso secret�rio de estado Henry Kissinger lia documentos tarjados de "top secret" e "eyes only" durante uma sess�o de negocia��es internacionais com a ent�o Uni�o Sovi�tica. Ao ver os documentos espalhados na mesinha � frente de Kissinger, os fot�grafos das ag�ncias internacionais de not�cias n�o titubearam: clicaram e clicaram - e tudo foi publicado no mundo inteiro.

Para gente t�o estudada, t�o � frente de seu tempo, como os ju�zes do Supremo Tribunal Federal, essa � uma li��o que chega trinta anos atrasada.

Fonte: O Autor
 
Por:  Claudio Lessa    |      Imprimir