Categoria Opinião  Noticia Atualizada em 14-09-2007

SE FINGINDO DE MORTO
Foi na �ltima segunda-feira, depois do feriado prolongado. Logo pela manh�, eu e meu filho sa�mos de casa e est�vamos na esquina � espera do Imensid�o Azul com o Barriga ao volante
SE FINGINDO DE MORTO

Foi na �ltima segunda-feira, depois do feriado prolongado. Logo pela manh�, eu e meu filho sa�mos de casa e est�vamos na esquina � espera do Imensid�o Azul com o Barriga ao volante. Sabe como � crian�a, n�o fica quieta esperando, arrastava a mochila de rodinhas pra l� e pra c�, balan�ava a lancheira, chutava gravetos no ch�o, descobria entradas de formigueiros em meio ao cal�amento... Num relance avistou o cachorro deitado, ou melhor, estirado no meio da rua, cercado pelos garis que suspenderam um pouco a labuta para confabular sobre o que se passava ali. Meu filho, mais que depressa, sup�s que o cachorro estava morto, mesma conclus�o, ali�s, dos garis.

Confirmei a suspeita dele, baseado no que podia ouvir da conversa dos garis e na posi��o do cachorro, estirada demais para quem estava apenas dormindo. Meu filho quis logo saber o que seria feito dele, teria que ser retirado logo dali porque sen�o come�aria a feder e tamb�m atrapalharia o tr�nsito. Disse a ele que os garis, como funcion�rios da prefeitura, deveriam providenciar a retirada do corpo. E, de fato, eles circundavam o c�ozinho defunto numa esp�cie de confer�ncia para saber que procedimentos tomar. Espichado na cal�ada, outro vira-lata acompanhava a discuss�o com olhar sonolento, pouco interessado no desfecho do caso. A cena se passava quase na esquina da avenida principal de Marata�zes, o corpo do falecido prostrado bem no meio da rua que findava ali na avenida. Enquanto a confabula��o dos profissionais da limpeza se desenrolava num clima de excessiva tranq�ilidade, surgiu no outro extremo da rua um motoqueiro apressado pilotando sua moto em dire��o � avenida. Ao se aproximar do cad�ver canino, acelerou a moto de tal maneira que o cachorro defunto deu um pulo inesperado e correu para a cal�ada.

- Ressuscitou! � falaram ao mesmo tempo meu filho e alguns garis.

Alheio ao espanto geral, o cachorrinho se acomodou ao lado do colega vira-lata e voltou a dormir como se nada tivesse acontecido, como se estivesse apenas se fingindo de morto.

Existe um ditado que diz: "estava se fingindo de morto s� pra se aproveitar do coveiro." Esse "se aproveitar" tem um leque muito grande, vai desde se aproveitar sexualmente do desprevenido coveiro em posi��o de desvantagem causada pelo seu of�cio a bater-lhe a carteira, roubar-lhe a picareta, ou outra maldade qualquer.

Vivemos um momento prop�cio a todos aqueles que desejam fingir-se de morto para levar vantagem de qualquer natureza. Quando algu�m se finge de morto todos os que est�o � sua volta baixam a guarda e facilitam a sua ressurrei��o e, ent�o, ele volta mais fortalecido ainda. Vejam o caso do nosso dign�ssimo presidente do Senado. Ap�s a saraivada de den�ncias de quebra de decoro parlamentar e o carrossel de desculpas esfarrapadas proferidas sempre de forma truculenta, ficou quietinho, fingiu-se de morto at� a vota��o da sua cassa��o pelo Conselho de �tica. Fingia-se de morto, mas n�o dormia inocentemente como o c�ozinho maratimba. Sua primeira vit�ria foi a aprova��o do voto secreto, arma usada com o intuito de proteger parlamentares mal intencionados por identifica��o com o r�u ou por intimida��o da parte dele. Seguros sobre o manto das trevas puderam votar tranquilamente, ou mesmo, n�o dar voto nenhum, o que significa dizer votar a favor do r�u.

E assim ressuscitou Renan, mais forte do que nunca, e assim podem ressuscitar muitos outros que est�o se fingindo de morto, aguardando julgamentos incertos e senten�as mais incertas ainda. O Brasil, por�m, parece acordar de um curto sonho no qual imaginava estar come�ando uma nova era onde gamb�s suspeitos sentariam no banco dos r�us. O Brasil acordou assustado, mas n�o com o simples ronco de uma moto.

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Fonte: O Autor
 
Por:  Paulo Araujo    |      Imprimir