Categoria Opinião  Noticia Atualizada em 23-09-2007

SEXTA PALAVRA: XENOFOBIA
Xenofobia, ou o medo compulsivo do estrangeiro � uma das sete palavras que considero relevantes para o momento atual
SEXTA PALAVRA: XENOFOBIA

Xenofobia, ou o medo compulsivo do estrangeiro � uma das sete palavras que considero relevantes para o momento atual. Pedi aos meus leitores que escrevessem a respeito. Para uma vis�o completa dos coment�rios: www.paulocoelhoblog.com > Discuss.

Ruth: a vida significa aventura, mudan�a, coisas que nem todo mundo tem coragem de encarar e aceitar. Quando se olha o estrangeiro, um medo subconsciente vem � tona: "por que ele ousou dar passos e arriscar-se em lugares onde ningu�m o conhece? Ser� que ele quer infiltrar suas id�ias, destruir o mundo que constru�mos com tanto esfor�o?"

Debbie: penso que a xenofobia est� ligada a uma condi��o normal da esp�cie humana. Estrangeiros eram sempre vistos como uma amea�a � tribo, ou mais uma boca a alimentar. Ainda n�o nos desenvolvemos o suficiente para libertar-nos de tantas outras que est�o enraizadas em nosso c�rebro. Embora estejamos em pleno s�culo XXI, ainda nos vemos em tribos, lutando para sobreviver.

D.H.: durante alguns meses, em 2001, tive aqui em casa(Boston) um estudante �rabe. Todos admiravam sua gentileza, e muitas noites nos reun�amos em um bar perto de casa para conversarmos sobre os costumes em seu pa�s. Logo depois dos atentados de 11 de Setembro, as mesmas pessoas que no dia anterior riam com suas hist�rias, passaram a odi�-lo.

Dasha: a xenofobia n�o se resume ao medo do estrangeiro, mas tamb�m ao que acontece entre diferentes gera��es. A maior parte das pessoas teme o dia de hoje, e prefere viver no passado. Meu pa�s (R�ssia) � um excelente exemplo a respeito.

Aspen: cada crian�a, se criada com o rigor e a liberdade necess�ria, podia colaborar infinitamente para fazer deste planeta um lugar melhor para viver. Entretanto, uma das primeiras coisas que aprendemos � "n�o conversar com estranhos".

Guerreiro da �gua Corrente: aqui na Dinamarca, temos um festival que dura aproximadamente uma semana, e que atrai cerca de 100 mil estrangeiros para celebrar a vida, os interesses em comuns, e aprender com as diferen�as. As pessoas se abra�am sem nenhuma raz�o al�m de estarem no mesmo caminho, cantam e se embriagam juntas. Quando o festival termina, uma estranha atmosfera volta a descer sobre o local, e o estrangeiro volta a ser uma amea�a.

Neel P.: precisamos confiar no amor. Precisamos lembrar o que nos foi dito: "amai ao teu pr�ximo como a ti mesmo". Se confiarmos no amor, n�o precisamos temer mais nada, mas na verdade jamais confiamos o suficiente...

Radek: as pessoas em meu pa�s (Pol�nia} passaram pela tirania de Hitler, pela opress�o sovi�tica, e parece que n�o aprenderam nada. Me aterroriza ver gente que experimentou os horrores do nazismo, se comportando da mesma maneira hoje, evitando tudo que seja desconhecido ou diferente. O pior de tudo � que usam a religi�o para justificarem seus atos, argumentando que todo aquele que n�o � crist�o deve ser banido do meio da sociedade. Esta f� cega � pior que a aus�ncia de f�.

Paulo Coelho: Vamos imaginar uma lagarta. Passa parte de sua vida no ch�o, achando que Deus foi injusto com ela, por lhe dar uma forma t�o repulsiva. Termina odiando as borboletas, que s�o amadas por todos. At� que um dia a natureza a obriga a tecer um casulo, e ela tem certeza que est� construindo seu pr�prio t�mulo. Embora indignada com a vida que levou at� ent�o, reclama novamente com Deus: "quando finalmente me acostumei com minha vida, o Senhor me tira o pouco que tenho". Desesperada, tranca-se no casulo e aguarda o fim. Alguns dias depois, v�-se transformada numa linda borboleta. O que antes era o estrangeiro, agora � a manifesta��o de sua pr�pria beleza.

Fonte: O Autor
 
Por:  Paulo Coelho    |      Imprimir