Categoria Música  Noticia Atualizada em 03-10-2007

Viper não quer ser "babaca dando aula de guitarra"
Em entrevista a revista Rock Brigade a banda Viper mostra um pouco da nova formação,do novo trabalho, mas com o mesmo bom humor desses 11 anos de estrada a banda que lançou Andre Matos (Ex-Angra e Ex-Shaman) e Yves Passarell (Capital Inicial). Volta
Viper não quer ser
Foto: Divulgação

"Em entrevista a revista Rock Brigade a banda Viper
mostra um pouco da nova formação,do novo trabalho,
mas com o mesmo bom humor desses 11 anos de estrada
a banda que lançou Andre Matos (Ex-Angra e Ex-Shaman)
e Yves Passarell (Capital Inicial).
Volta com tudo mas sem malabarismos."

ENTREVISTA ROCK BRIGADE:

Depois de longos onze anos, o Viper está de volta à cena. E, de uma certa forma, de volta às origens também. Afinal, pela primeira vez desde o saudado Theatre Of Fate [álbum de 1989], o grupo volta a fazer um disco de metal melódico. Em All My Life, Pit Passarell (baixo), Felipe Machado (guitarra), Renato Graccia (bateria), Val Santos (guitarra) e o novo vocalista Ricardo Bocci se preocuparam em resgatar muitas de suas influências, mas sem tentar simplesmente resgatar o passado. Para falar sobre isso e muito mais fomos conversar com a banda, que provou, além de tudo, que não perdeu uma de suas características mais marcantes: o bom humor.

ROCK BRIGADE – Depois de vários anos, o Viper volta a fazer um disco de metal melódico. Essa é definitivamente a vocação da banda ou é o que ela deseja fazer neste momento?
RICARDO BOCCI – Acredito que nós temos escrito as músicas pensando no que os fãs esperam do Viper, porém, sem nos prender muito a isso, deixando fluir toda a influência daquilo que estamos ouvindo, que achamos legal e que colabore positivamente para o som da banda. E tenho certeza que a cada disco vamos surpreender o público com coisas novas, ninguém na banda quer ficar se repetindo muito.
PIT PASSARELL – Temos a vocação e o desejo de fazer boa música! O modismo é uma merda! É verdade que passamos por vários estilos, mas sempre fomos coerentes com o rock and roll.
RENATO GRACCIA – O Viper sempre foi uma banda que fez o que estava a fim... Não me lembro de nenhuma imposição de gravadora ou empresário que nos levasse a mudar o rumo dos trabalhos realizados até o momento. Com o All My Life não foi diferente: entramos em estúdio dispostos a fazer o trabalho como queríamos fazer e o resultado nos agradou bastante. Portanto, não é uma questão de vocação. Se no próximo trabalho tivermos vontade de algo mais agressivo ou mais leve ou mais melódico, faremos.

RB – Qual a principal intenção de vocês com essa volta da banda?
PASSARELL – Transar com o maior número de mulheres possível [risos]! Brincadeira, nem tenho mais idade para isso! Hoje tenho uma filha de quase cinco anos e ela nunca soube o quanto o pai dela lutou para ser alguém, principalmente dentro da cena heavy metal nacional. Talvez, quando ela crescer, nem se importe com isso, mas quem sabe ela possa sentir orgulho do que o pai dela fez algum dia e curtir as músicas inspiradas nela, porque é isso o que eu tenho feito desde que ela nasceu. Além disso, o meu objetivo é fazer com que o Viper retorne à cena do heavy metal nacional e internacional.
GRACCIA – Voltar ao cenário fazendo um som consistente e trabalhar para readquirir o prestígio que tivemos nos anos 90. A partir daí, trabalhar mais ainda para buscar novos horizontes. Basicamente, o que deu o start nesse retorno foi a percepção de que os fãs ainda queriam mais, ainda ouviam Viper e sempre nos pediam que houvesse um retorno.
FELIPE MACHADO – E também voltar a tocar no Brasil e no exterior, voltar a ter um lugar de destaque no mercado e tudo o que vem como conseqüência. Queremos que as pessoas voltem a ouvir o Viper, voltem a curtir a banda.
BOCCI – Eu entrei agora na banda, mas, pelo que tenho visto, eles nunca deixaram de ser músicos ou de tocar, só deram um tempo com o Viper até que se amenizassem os problemas com a gravadora Castle, que faliu, e eles pudessem preparar uma volta ao cenário. Tiveram tempo pra olhar pra carreira deles até então, para refletir e tomar uma decisão sobre como conduzir o Viper novamente. Apesar de ter levado um bom tempo, acredito que essa volta está com uma repercussão muito positiva.

RB – O título All My Life parece ser bastante emblemático. Houve alguma razão especial para a escolha desse mome?
PASSARELL – Particularmente, toda a minha vida [tradução de "all my life"] foi muito interessante! Aconteceram coisas boas e coisas ruins, como na vida de qualquer pessoa. Então, inventei um personagem que, apesar de tudo, tem uma visão positiva sobre como é viver. Um desses exemplos é o próprio Viper, que ficou parado por onze anos e mesmo assim sobreviveu por causa do nosso amor pela banda e também pelo amor dos nossos fãs!
GRACCIA – Nós estudamos várias possibilidades de nome para este projeto, mas quando surgiu a idéia da música All My Life trocamos aquele tipo de olhar: "Cara, é isso!" Além de ser um título forte e sonoro, ainda simboliza bem o que estamos fazendo, um resgate de tudo que já fizemos com uma boa dose de amadurecimento.
MACHADO – Tem tudo a ver com a carreira da banda. "Toda minha vida", assim no singular mesmo, representa a banda como uma unidade, uma força única.

RB – A despeito das excelentes performances de todos vocês, o principal trunfo de All My Life parece ser realmente a qualidade das composições. Concordam com isso?
BOCCI – Sim, acreditamos muito nas nossas músicas e elas são a força motriz de tudo o que o Viper irá fazer, como shows etc. É o que realmente importa. Se as músicas não fossem boas, talvez nem tivéssemos gravado o disco. E digo isso porque discutimos essa possibilidade – acredite se quiser... Mas depois que começamos a fazer as músicas juntos, tudo mudou de figura e vimos que o Viper tem muito a mostrar ainda. Inclusive, estamos preparando um show que vai competir, em termos de qualidade, com as composições do Viper.
PASSARELL – Tenho orgulho de ser compositor. Tenho certeza de que Living For The Night, At Least A Chance, Spreading Soul, Rebel Maniac e Evolution são músicas que qualquer headbanger respeita. Essas músicas são um meio termo entre o virtuosismo e a atitude, entre a emoção e a musicalidade. Claro que não somos perfeitos: fazemos canções, não somos babacas querendo dar aula de guitarra. Respeitamos a técnica, mas tudo tem limite!
GRACCIA – Sempre tivemos o Pit que é um compositor incrível. Agora, além dele, temos o Val e o Ricardo que também compõem muito bem. Portanto, na verdade, tivemos uma certa dificuldade para selecionar as músicas que entrariam no disco. Temos ótimas composições guardadas para o próximo trabalho.
MACHADO – Não concordo, eu acho que a coisa são os solos [risos]. Falando sério, as composições sempre foram nosso forte, com certeza. E, como disse o Renato, o Pit ganhou uma força com o Val e o Ricardo, que se revelaram dois grandes compositores.

RB – Por falar nisso, Pit, sua competência para compor temas ao mesmo tempo agradáveis aos ouvidos e bastante elaborados é reconhecida por todos. Existe alguma fórmula para isso ou as composições fluem naturalmente?
PASSARELL – Obrigado pelo elogio! Tudo foi fruto das experiências da minha vida, um adolescente idiota cheio de espinhas, tímido e headbanger quando isso era considerado quase um crime. E melodias maravilhosas surgiram de tudo isso, além de eu ter escutado muita música boa, graças aos meus amigos, à minha mãe e às aulas de piano.

RB – Também chama a atenção no disco o uso comedido de teclados. Seria para deixar a sonoridade mais próxima do que é a banda, já que ela não conta com tecladista em sua formação?
BOCCI – Na verdade, é um conceito estético da própria banda deixar o teclado sempre em segundo plano. Na verdade, os teclados aparecem bastante durante o disco, só não estão no mesmo plano de volume que as guitarras, por exemplo. Se prestarem bem atenção, verão que são linhas muito bem elaboradas e de muito bom gosto, cujo crédito vai para o produtor André Cortada. Inclusive, teremos teclado nos shows, com um tecladista convidado que ainda não está definido quem será, mas anunciaremos em breve.
PASSARELL – O Viper foi sempre meio contra o teclado, mas eu adorei, porque a gente botou Hammond dentro do heavy metal! Só o Viper mesmo [risos]...
MACHADO – Nunca usamos muito teclado, então foi natural o instrumento ser usado com bom senso. Muito teclado enche o saco, fica muito aquele som "Hollywood, O Sucesso" [risos].

RB – Qual a importância dos produtores Marcos Yukio e André Cortada na sonoridade do álbum?
BOCCI – Eu diria que eles participaram, junto com o Theo Vieira [co-produtor], de todas as decisões sobre o disco, sempre respeitando a nossa opinião final. Discutimos bastante sobre algumas coisas e isso é perfeitamente normal quando se trata de gravar um disco. Alguns têm um ponto de vista e outros têm outro. Mas acatamos algumas das sugestões deles e eles também acabaram fazendo algumas concessões. Como produtores, eles tinham a responsabilidade de conduzir o trabalho, porém, em alguns momentos, tinham que nos convencer de que estavam certos. Apesar de desgastante, foi positivo para o resultado final.
GRACCIA – O André é formado em composição e regência pela Berkeley, por isso, deu muitas idéias nos arranjos e em trechos de composição. Já o Marcos é bem rock’n’roll, muito fã de metal e profundo conhecedor desse universo. Isso também nos ajudou como referência de alguém de fora da banda, mas que entendia aonde queríamos chegar.
MACHADO – Eles foram muito legais, entraram com uma experiência diferente, mais técnica. Hoje os estúdios são muito informatizados, dá para fazer muita coisa no Pro-Tools. É tudo muito diferente da última vez em que a gente gravou. Hoje é mais fácil para conseguir tirar um som bom, não precisa mais ir para o exterior para ter um som de qualidade.

RB – O ex-vocalista Andre Matos participa como convidado, o que mostra que a relação entre ele e a banda não está abalada. Chegou-se a pensar em uma volta do Viper com ele nos vocais?
MACHADO – A gente tem feito alguns shows juntos, a relação está realmente muito boa. Logo que ele saiu, rolou um certo clima, o que era natural, mas há muito tempo voltamos a ser amigos como antes, acho que até mais hoje em dia do que naquela época. Muita gente perguntou se o Andre ia entrar na banda quando ele saiu do Shaaman, mas o Ricardo canta muito bem e o Andre já estava com a cabeça voltada para uma carreira solo. Acho que é bom para todo mundo, porque agora podemos fazer uma turnê conjunta das duas bandas, com aquela jam session tradicional no final do show. O pessoal gosta bastante.
BOCCI – Eu adoraria ver o Viper fazer um show comemorativo com a formação original, tipo Andre Matos, Cássio Audi, Yves Passarell... Seria algo muito especial! Seria um presente muito legal para os fãs da banda, eu mesmo ia querer ver da platéia. Mas a realidade é que acabamos de lançar o novo disco e precisamos nos focar mais na formação atual. Afinal, é isso que as pessoas vão ver nos shows. Porém, somos todos amigos e sempre comentamos que o Viper é uma grande família, quem entrou uma vez nunca mais deixou de ser da banda. Então, [os ex-integrantes] serão sempre bem-vindos nos shows, nas gravações, em casa pra comer uma pizza, tomar uma cerveja etc. Pra você ter uma idéia, o Andre, desde que eu entrei na banda, participou de vários shows, algumas vezes fazendo umas cinco ou seis músicas da época dele. Foi uma experiência legal, interagimos bastante, eu tocando teclado enquanto ele cantava e vice-versa. Inclusive, em um dos shows, re-encenamos a cena da tocha no colégio Rio Branco, só que sem a parte em que o lugar quase pega fogo [risos – esse episódio aconteceu em 1987, no show de lançamento do álbum Soldiers Of Sunrise; a certa altura, André entrou em cena com uma tocha que se desfez e por pouco não incendiou o lugar].
PASSARELL – O Andre é nosso brother e sempre vai ser...

RB – Pra terminar, uma pergunta para o Ricardo: Pit, Felipe, Val e Renato já trabalham juntos há muitos anos. Como foi para você chegar num ambiente em que todos eram amigos e, portanto, já estavam enturmados? Você sofreu muito como "calouro"?
BOCCI – Sim! Ainda estou cheio de assaduras devido aos cuecões que tomei quando entrei [risos]! Brincadeira... Foi tudo muito tranqüilo. Já tive a oportunidade de fazer testes para várias bandas e asseguro que nunca fui tão bem tratado quanto no Viper. São pessoas muito legais e que viraram, acima de tudo, meus amigos, senão irmãos. Sabe aquela coisa de ligar durante a semana pra ver se está tudo bem e ficar jogando conversa fora? Então... Esse é o grande diferencial do Viper. Tem um material humano muito grande, os integrantes não se restringem a encarar a banda somente como algo profissional. E depois, eles vão me dar uma grana pelo que eu falei [risos]...
PASSARELL – Dream on, Ricardo [mais risos]...

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Por Anderson Del Angelus

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Fonte: rockbrigade.com.br
 
Por:  José Rubens Brumana    |      Imprimir