Categoria Opinião  Noticia Atualizada em 04-10-2007

ATAQUE DE CíES
Não, não se trata de mais um ataque de Pitbull contra crianças, velhos ou gestantes. Pode segurar sua revolta e continuar lendo porque esta semana estou absolutamente “zen”.
ATAQUE DE CíES
Foto: Paulo Araújo

Não, não se trata de mais um ataque de Pitbull contra crianças, velhos ou gestantes. Pode segurar sua revolta e continuar lendo porque esta semana estou absolutamente "zen". Após um período de indignações e revoltas com causa, resolvi voltar a falar de coisas amenas, até singelas. Quer coisa mais singela do que cachorros que não atacam seus donos em circunstância alguma? Levante a mão quem não tem pelo menos um cachorro na vida para lembrar e sentir saudades!

Ando com saudades do Bidú! Saudades recentes, pois nos separamos em fevereiro passado quando ele estava ainda com nove meses. Em maio do ano passado, meu filho, minha mulher queriam porque queriam um cachorro em casa. Sabedor de como humanos e caninos têm a facilidade de se apegarem, eu ia empurrando a idéia com a barriga porque sentia que, apesar de toda a torcida a favor, ia sobrar pra mim. Meu filho, todo empolgado, já fuçava a internet em busca da melhor raça. Minha mulher e ele acabaram se encantando com o Beagle e, quando eu menos esperava, já estava tudo acertado.

Na manhã de um sábado de maio ele chegou, já com casinha e tudo esperando. Tinha pouco mais de um mês, um bebê, e como todo bebê, necessitava de cuidados. Nas primeiras semanas senti voltar minha experiência de papai de primeira viagem. O mais difícil era ensiná-lo a não fazer xixi onde bem entendesse. Superados os problemas iniciais, ele começou a mostrar sua verdadeira personalidade, ou seja, um cachorrinho sempre alegre, brincalhão, teimoso, cheio de malandragens e, sobretudo, uma extrema incompatibilidade entre ele e a dona da casa, causada pela sua tendência incontornável de destruir o jardim que ela tão bem cuidava. Vezes sem conta ele atacou plantas, grama, flores, vasos, cavou enormes buracos e acabou deixando o quintal com a aparência de um deserto africano. Não bastasse isso, Bidú tinha uma adoração incontrolável por seres humanos, que resultava em festas intermináveis a qualquer pessoa que chegasse a casa, incluindo aí, porventura, ladrões e invasores de lar, o que inviabilizou sua carreira de cão de guarda.

Procurei me aprofundar no conhecimento de tudo que dizia respeito a beagles, na ânsia de contornar os variados problemas que a sua personalidade irrequieta vinha causando na família. A única esperança estava depositada no fato de que ao virar adulto tudo se resolveria, só não tinha certeza se minha mulher lhe daria esse tempo. Estava extremamente arrependida de tê-lo comprado. Meu filho também já não morria de amores por ele porque, além do seu jeito estabanado de brincar ainda tinha a mania de pular sobre ele e dar pequenas mordidinhas que foram piorando à medida que ele foi crescendo e adquirindo força. Como resultado, aconteceu o que eu temia desde o começo: eu, que era refratário à idéia de ter um cachorro em casa, acabei me apegando de tal maneira ao Bidú que já começava a sofrer com a iminência de ser obrigado a me desfazer dele. O que acabou acontecendo quando nos mudamos para a casa atual e ele, em menos de uma semana destruiu todo o jardim.

Recebido o ultimato, imediatamente achei a solução doando "meu cachorro", com sua casinha e acessórios a um casal de velhos da vizinhança. Eles já tinham uma cachorrinha e receberam alegremente o Bidú, a cachorrinha nem tanto porque perdeu toda a sua tranqüilidade e passou a ser o alvo predileto das brincadeiras estabanadas do novo hóspede. A paz voltou a reinar em nosso lar; porém, senti profundamente o baque e fiquei pelo menos uma semana amuado, como se tivesse perdido um filho. O tempo, senhor absoluto de todas as curas emocionais, tratou de fechar a ferida quase sem deixar marcas. Atualmente, Bidú está tentando entrar para o rol dos cachorros sérios, vai ser papai, sinal de que suas brincadeiras atabalhoadas com a cachorrinha não foram tão inocentes quanto se pronunciavam. Aparentemente está mais sossegado, mas só aparentemente.

Esta semana mesmo estava pensando nele, justamente por causa de uma outra característica sua não mencionada acima: os ataques de medos absurdos que ele sofria. Bidú chegou ao cúmulo de sentir medo de uma embalagem de batatas fritas colocada sobre o muro; de casca de laranja cortada inteiriça como se fosse uma cobra; de caixa de leite longa vida jogada no quintal; da sua panelinha de colocar ração colocada em pé junto à parede para secar; de uma folha seca de árvore colada no muro e, o pior de todos, medo de guarda-chuva aberto! O guarda-chuva, aliás, era a única forma de segurá-lo quando ele começava seu ritual de correr em volta da casa, atropelando todas as plantas que encontrava pelo caminho. Bastava abrir o guarda-chuva que ele corria para dentro da casinha. Depois era só deixar o guarda-chuva aberto junto à porta da casinha que ele não saia dali nem por reza brava.

Comparável a esses ataques de medo do Bidú só mesmo o caso contado por Dona Ida, nossa vizinha de frente. Vejam só: ela ganhou um cachorro que ficava tomando conta da casa dela em Cachoeiro. Lá tinha um quintal muito grande, com algumas árvores bem crescidas. Certa noite ela estranhou os latidos do cachorro e saiu para ver o que se passava. Ele latia alucinado em direção ao galho de uma árvore, paralisado de medo. De repente, não mais que de repente, desmaiou... É, desmaiou literalmente, com as patinhas pra cima e a língua de fora! Quando voltou a si, estava meio tonto ainda, bebeu água calmamente e foi deitar-se. O motivo do desmaio? Um saco plástico pendurado no galho da árvore que, ao ser soprado pelo vento, fazia um barulhinho sinistro.

Psicologias à parte, é muito mais interessante e saudável ouvir falar desses ataques dos nossos melhores amigos do que receber as recorrentes notícias dos ataques ferozes de Pitbulls, Rottweilers ou qualquer outra fera disfarçada de animal de estimação; ou, se preferirem, qualquer outro animal de estimação transformado em fera por seu dono.

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Fonte: O Autor
 
Por:  Paulo Araujo    |      Imprimir