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Chávez recebe apoio de Kirchner, Fidel e Evo Morales.
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Pode ser que não estejamos maduros para assumir o socialismo", disse Chávez. Já a embaixada venezuelana nos EUA criticou postura americana
Foto: Reuters O presidente da Venezuela, Hugo Chávez, afirmou na noite de segunda-feira (4) que a derrota eleitoral no domingo (2) pode se dever ao fato de que a sociedade venezuelana ainda não está madura para assumir uma proposta socialista como a proposta na reforma constitucional.
"É possível que ainda não fosse o momento. Será preciso amadurecer mais e continuar construindo o nosso socialismo", disse Chávez, durante uma entrevista ao canal estatal "Venezolana de Televisión". Ele reconheceu que se perguntou se "havia se equivocado" ao propor a reforma rejeitada nas urnas.
Chávez disse que é preciso continuar trabalhando intensamente para convencer os setores de classe média de que seriam beneficiados por um modelo socialista. Além disso, opinou, o "bombardeio midiático" provocou dúvidas em muitos "chavistas" que não foram votar no domingo.
"Vamos analisar o que aconteceu. A oposição manteve a votação de dezembro de 2006, mas nós tivemos 3 milhões de votos a menos", comentou.
Nas eleições presidenciais de dezembro de 2006, Chávez recebeu 7,3 milhões de votos, contra 4,3 milhões do candidato de oposição Manuel Rosales. No domingo, a oposição conseguiu 4,5 milhões de votos para o "não" à reforma contra 4,3 milhões do "sim".
"Pode ser que não estejamos maduros para assumir o socialismo. É preciso discutir isso, porque é um desafio", insistiu o presidente.
Chávez acrescentou que o projeto de sociedade socialista continua no seu programa de governo.
Ele afirmou ainda que decidiu aceitar a derrota, porque caso contrário setores da oposição poderiam provocar uma onda de distúrbios.
"Se eu tivesse me empenhado em esperar até a apuração do último voto, como alguns queriam, não sei quantos mortos estaríamos contando agora, porque ainda não teríamos um cômputo final", argumentou.
Apoio latino
Fidel Castro, Néstor Kirchner e Evo Morales foram alguns dos líderes latino-americanos que parabenizaram a postura de Chávez.
"Querido Hugo: quero felicitá-lo revolucionariamente por seu discurso de hoje (segunda-feira), foi um 'Veni, vidi, vici' (Vim, vi e venci) de dignidade e ética", disse Fidel, ao recordar as palavras de Julio César após uma rápida vitória sobre o inimigo.
O líder cubano, de 81 anos, que se recupera de um grave problema de saúde, destacou como "valente e sábia" a decisão de seu amigo e aliado venezuelano.
O presidente da Bolívia, Evo Morales, afirmou que se seu colega venezuelano não é "ditador".
"Não há por que ter medo do referendo", acrescentou Morales, ao afirmar que o mais democrático é que o povo "decida" se sua proposta de Constituição está "equivocada".
O presidente da Argentina, Néstor Kirchner, parabenizou os vencedores do referendo sobre a reforma constitucional na Venezuela e destacou a "atitude democrática" de Chávez, que aceitou a derrota na consulta de domingo.
Por sua parte, os dirigentes opositores Mauricio Macri e Elisa Carrió se manifestaram satisfeitos pela derrota do líder venezuelano.
"Quem perdeu reconheceu a derrota, numa atitude democrática", disse Kirchner num ato na sede do Executivo argentino.
"Sem interferir na sua vida interna, também quero parabenizar o povo venezuelano por ter resolvido democraticamente, com um verdadeiro exemplo, a sua reforma constitucional", acrescentou.
Kirchner destacou a atitude de Hugo Chávez, "que demonstrou ser um grande democrata ao aceitar os resultados".
"Em nome da Argentina, quero agradecer à Venezuela e a Hugo Chávez pela sua permanente atitude de solidariedade à Argentina nos momentos mais difíceis", lembrou o governante argentino.
Críticas aos EUA
A embaixada da Venezuela nos Estados Unidos acusou na noite de segunda-feira (3) o governo americano de adotar dois pesos e duas medidas ao comentar o referendo de domingo sobre a reforma constitucional proposta por Chávez (clique aqui para ler mais).
O comunicado da representação diplomática comentou as declarações do subsecretário do Departamento de Estado, Nicholas Burns, e do porta-voz do Conselho Nacional de Segurança, Gordon Johndroe.
Os dois anunciaram sua "alegria pelo resultado do referendo" em lugar de "pedir desculpas e reconhecer a transparência do sistema eleitoral e a dinâmica da democracia participativa na Venezuela", acusa a nota.
"Estas expressões mostram a ambigüidade com que se julga o sistema eleitoral venezuelano", queixou-se a representação diplomática.
O documento também se referiu a comunicados de "vários funcionários dos Estados Unidos" que tentaram "fazer ver que o resultado do referendo estava ligado a uma suposta desaprovação do governo".
O referendo
A votação foi dividida em duas partes. No bloco A, 50,7% dos venezuelanos rejeitaram a proposta que, entre outros ítens, permitiria que o presidente se candidatasse indefinidamente ao cargo. A diferença entre o "Sim" e o "Não" foi de apenas 124.962 votos - num universo de 9 milhões de votantes.
No bloco B, 51,05% dos eleitores derrubaram a proposta que permitiria diminuir a idade dos eleitores (para 16 anos) e restringiria a liberdade de expressão durante os estados de exceção, entre outros ítens. A diferença entre o "Sim" e o "Não" também foi muito pequena: de apenas 187.196 votos.
Fonte:
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Por:
Giulliano Maurício Furtado |
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