Categoria Tecnologia  Noticia Atualizada em 17-12-2007

Orkut foi 'cobaia' no Brasil
O MySpace Brasil chega ao pa�s muito depois do Orkut, a rede social do Google que se tornou fen�meno entre os internautas brasileiros
Orkut foi 'cobaia' no Brasil
Foto: Orkut

O MySpace Brasil chega ao pa�s muito depois do Orkut, a rede social do Google que se tornou fen�meno entre os internautas brasileiros a vers�o de testes dessa p�gina em portugu�s est� dispon�vel no pa�s desde setembro e a estr�ia oficial ser� nesta quarta-feira (19). Mas ao contr�rio do que se possa pensar, esse atraso � classificado como positivo por Emerson Calegaretti, 37, diretor-geral do MySpace Brasil e ex-diretor da filial brasileira do Google.

"Chegar depois do Orkut n�o � uma desvantagem. Agora que j� conhecemos essa experi�ncia [do Orkut no Brasil], podemos come�ar de uma maneira diferente", disse o executivo. Ele admite que, se o MySpace tivesse sido lan�ado antes por aqui, talvez tivesse enfrentado os mesmos problemas que o Orkut (durante anos, o Google Brasil se negou a fornecer dados de usu�rios solicitados pela Justi�a). "Para n�s, � muito importante come�ar j� sabendo o que fazer."

Em entrevista ao G1, Calegaretti falou sobre o aprendizado do MySpace com o Orkut, estrat�gias da rede social para conquistar mais usu�rios, privacidade na internet, sua rela��o com a m�sica e sua passagem pelo Google Brasil (empresa da qual foi o primeiro funcion�rio). Confira abaixo os principais trechos da entrevista.

G1 - O que representa exatamente a chegada oficial do MySpace ao Brasil?

Emerson Calegaretti - L� fora, o MySpace j� tinha usu�rios brasileiros, bandas brasileiras, conte�do brasileiro ligado � m�sica. Mas apenas as pessoas que falavam ingl�s tinham acesso a tudo isso. A chegada do MySpace ao Brasil vai facilitar o uso do site, porque as pessoas que n�o falam ingl�s tamb�m ter�o acesso a todo esse conte�do. � a democratiza��o do acesso, permitindo que as pessoas n�o-fluentes em ingl�s tamb�m possam conhecer o MySpace.

G1 - Antes de vir oficialmente para o Brasil, voc�s aprenderam com a experi�ncia do Orkut? Os executivos do MySpace no exterior sabem de todos os problemas que o Orkut enfrentou com as autoridades brasileiras?

Calegaretti - Com certeza a gente aprendeu. Simultaneamente ao que aconteceu aqui no Brasil, o MySpace l� fora tamb�m sofreu muita press�o para inibir conte�do de pornografia infantil, crimes de �dio. Essa press�o � mundial e leg�tima. � medida que voc� passa a ter esse modelo de web 2.0, em que o usu�rio gera conte�do, voc� tamb�m corre o risco de ter conte�do inapropriado.

Quando tivemos essa demanda da Justi�a, arrumamos a casa e passamos a colaborar, em vez de adotar uma posi��o defensiva e negar informa��o. Em vez de fugir da responsabilidade, colaboramos com a Justi�a. Todos [l� fora] sabem muito bem dos problemas que acontecem aqui no Brasil e, por isso, a primeira decis�o foi contratar um diretor de seguran�a e privacidade, que em breve deve se juntar ao MySpace. Essa pessoa � a primeira na Am�rica Latina a cuidar somente disso.

G1 - O que exatamente far� esse funcion�rio?

Calegaretti - O cargo � diretor de seguran�a e privacidade, ser� uma pessoa para falar com as autoridades. A Pol�cia Federal e o Minist�rio P�blico, por exemplo, ter�o o telefone dessa pessoa para ligar e fazer suas demandas, estabelecer um canal de contato. Al�m disso, esse diretor vai trabalhar com as ONGs para tentar ajudar na educa��o dos pais, para que eles saibam como proteger seus filhos na internet. E, por �ltimo, esse funcion�rio vai agir internamente para remover imediatamente conte�do abusivo e preservar os dados de quem postou as informa��es. Assim, o crime n�o ficar� impune.

G1 - Voc� disse que o MySpace aprendeu com o Orkut. Mas o fato de o Myspace ter desembarcado depois do Orkut no mercado brasileiro n�o representa uma desvantagem?

Calegaretti - N�o, n�o representa. Na verdade, temos uma vantagem de poder j� come�ar no Brasil com um posicionamento diferente. A grande vantagem de come�ar agora � j� termos visto que neste mercado as coisas s�o diferentes. Talvez se tiv�ssemos come�ado no Brasil h� dois, tr�s anos, tiv�ssemos passado pelos mesmos problemas [que o Orkut passou]. Mas agora que j� conhecemos essa experi�ncia, podemos come�ar de uma maneira diferente. Para n�s, � muito importante come�ar j� sabendo o que fazer.

G1 - Ent�o o fato de voc�s chegarem ao mercado brasileiro depois do Orkut n�o representa uma desvantagem?

Calegaretti - N�o, pelo contr�rio. N�s do MySpace vemos isso como uma vantagem.

G1 - Em entrevista ao G1, o diretor-geral do Google Brasil afirmou ver como positiva a concorr�ncia para o Orkut . Voc� concorda que a concorr�ncia entre redes sociais � positiva?

Concordo 100%. Acredito que a concorr�ncia � positiva. Ali�s, o relacionamento do MySpace com o Google � muito bom. N�s somos muito mais parceiros do que concorrentes. Vou dar dois exemplos disso.

Em setembro de 2006, assinamos um acordo de publicidade. Eles pagaram US$ 900 milh�es por um acordo de quatro anos para terem parte da nossa publicidade [exibi��o no MySpace de an�ncios do sistema AdSense, pertencente ao gigante das buscas]. Recentemente, nos unimos ao Google no desenvolvimento da plataforma OpenSocial, que � muito importante. Com ele, uma aplica��o desenvolvida para o Orkut, para o LinkedIn, vai poder ser usada no MySpace.

Nosso relacionamento � importante e essa conviv�ncia entre as redes sociais tamb�m, porque essa � escolha do usu�rio. N�s n�o podemos for��-lo a usar a minha e n�o a sua rede. Quem vai decidir � o usu�rio.

G1 - E qual � a estrat�gia para o MySpace conquistar mais usu�rios, inclusive no Brasil?

Calegaretti" A estrat�gia � posicionar o MySpace para que o usu�rio possa se expressar atrav�s da personaliza��o do perfil, criar um espa�o seguro dentro das redes sociais, ter conte�do local e relevante e, ainda mais importante, mostrar que o usu�rio tem benef�cios ao participar daquela rede social. Esses eventos realizados pelo MySpace, como o "secret show" [o nome est� ligado ao fato de as informa��es, como a banda e o local, serem liberadas aos poucos no site], s�o uma maneira de tentar valorizar o usu�rio. Ou seja: tem um beneficio em ser membro do MySpace.

G1 - Tom Anderson [fundador do MySpace] � muito ligado � musica e isso se reflete no site. Voc� tamb�m � assim?

Calegaretti - Eu sou, minha liga��o com a m�sica vem de longa data. Sou filho de m�sicos, meu pai tocava musica cl�ssica, minha m�e � professora de piano e eu tive uma forma��o de musica cl�ssica. Toco violino. Sempre adorei m�sica e pude agora, com essa oportunidade no MySpace, descobrir coisas que at� ent�o n�o tinha ouvido antes. Eu, que tenho uma liga��o muito forte com m�sica cl�ssica e curto tecno, estou conhecendo um pouco mais de pop, por exemplo. Estou tendo a oportunidade de conhecer outras tend�ncias.

G1 - Com base nesses tr�s anos da explos�o das redes sociais, voc� poderia dizer qual acha que ser� o futuro delas?

Calegaretti" A rede social tem um papel muito importante, ela � o futuro da internet.

Emerson toca violino e descobre novas bandas no MySpace (Foto: Juliana Carpanez/G1)A internet passou por quatro momentos de evolu��o. No primeiro, foi muito focada nas ferramentas de comunica��o direta, como o e-mail, a grande aplica��o nos primeiros anos da internet. Num segundo momento, no final dos anos 90, houve a evolu��o dos portais. Existia uma infinidade de informa��es na internet e essa era uma porta de entrada para que qualquer pessoa entendesse o que era aquela tal de internet. Mas n�o necessariamente o portal lhe dava a quilo que voc� queria consumir e ent�o surgiu o terceiro momento, o das ferramentas de busca. O Google teve um crescimento muito grande nesse momento porque as pessoas entenderam que existia outro conte�do al�m daquele oferecido pelos portais.

Hoje a gente � a fase das redes sociais e elas s�o importantes em dois sentidos. Primeiro porque ela � uma avenida de comunica��o. Se voc� � um artista, um designer, um cineasta ou uma pessoa comum, voc� tem um ve�culo para se comunicar. Isso � uma mudan�a fant�stica, porque nos �ltimos s�culos os ve�culos de comunica��o foram basicamente de um para v�rios. E a internet veio para democratizar, as redes sociais vieram para facilitar esse processo.

O segundo ponto est� ligado ao fato de ainda n�o ter sido estabelecida uma identidade �nica na internet. Por isso, a rede pode ser um ponto central na internet onde voc� possa dizer: "esse sou eu mesmo, esses s�o os meus gostos, � isso o que eu gosto de fazer". Esse ponto pode se tornar sua identidade dentro da internet. Daqui a alguns anos, a gente vai ver que a rede social criou o RG da internet, uma cara, uma identifica��o.

G1 - Ent�o as redes sociais s�o o futuro da internet?

Calegaretti" Eu acho, porque a internet vai ser pessoal. Hoje � prov�vel que voc� tenha no seu navegador os seus sites favoritos, uma configura��o para entrar automaticamente no seu e-mail e um mensageiro instant�neo que se cadastra automaticamente. O futuro vai ser quando tudo isso estiver mais interconectado. De uma certa maneira, a rede social vai permitir que a experi�ncia de uso da internet seja mais personalizada. E n�o s� na quest�o de plataformas, de ferramentas de comunica��o, mas tamb�m no consumo do conte�do. A internet vai ter que aprender que voc� gosta de not�cias dessa maneira, daquele jeito.

G1 - Com a populariza��o das redes sociais, aumenta tamb�m a preocupa��o com a privacidade. Eu fiz uma busca pelo seu nome no pr�prio MySpace e descobri, por exemplo, que seu cachorro chama Spock.

Calegaretti" [Risos] Sou f� de fic��o cient�fica.

G1 - Voc� n�o tem medo dessa invas�o? Gostaria que voc� falasse mais sobre essa quest�o da privacidade na internet.

Calegaretti" Deixei o meu perfil aberto porque uso ele em diversas apresenta��es. As pessoas me fazem muitas perguntas, ent�o meu perfil est� aberto para todo mundo ver. Mas eu posso configurar diversos n�veis de privacidade. Eu poderia deix�-lo, por exemplo, s� vis�vel aos meus amigos. E mesmo dentro da rede dos meus amigos, posso escolher as pessoas que podem ou n�o visualizar minhas informa��es pessoais. Isso caminha da seguinte maneira: voc� ter� ferramentas para configurar o n�vel de privacidade que quer. � igual ao mundo real. Se eu n�o lhe conhe�o, n�o vou chegar e lhe entregar meu cart�o de visitar. Se eu n�o sei quem voc� �, n�o vou lhe chamar pra dentro da minha casa. A mesma coisa acontece com as redes sociais: os usu�rios configuram a maneira como eles querem que os outros os percebam.

No meu caso, deixo as informa��es dispon�veis para contar para as pessoas como o MySpace funciona. Mas as informa��es que eu divulgo n�o me personalizam; voc� n�o encontra meu endere�o, meu telefone ou como chegar at� mim.

G1" Voc� pode contar como foi sua experi�ncia no Google e como ela pode lhe ajudar no MySpace?

Calegaretti" Minha experi�ncia no Google foi fant�stica. Iniciei a opera��o do Google aqui no Brasil no in�cio de 2005. Foi fant�stico, porque aprendi muita coisa, desde definir onde colocar a mesa a contratar uma empresa de contabilidade. Foi um aprendizado �nico. Isso tem me ajudado bastante agora, nessa fase inicial do MySpace. O que estou fazendo agora � come�ar de novo um neg�cio do zero, assim como eu comecei do zero o Google em 2005.

A experi�ncia no Google � �nica porque sem d�vida tem pessoas muito brilhantes l� dentro. Acho que o MySpace e o Google tem uma sinergia muito pr�xima. Encontrei nas duas empresas pessoas que t�m as mesmas id�ias. Tanto o MySpace quanto o Google t�m uma vis�o muito democr�tica, uma vis�o de trazer a internet para a casa, para a vida das pessoas, facilitar esse acesso. Acho que � um compartilhamento de vis�o muito amplo.

G1" O Google tem aquela imagem de ser o lugar ideal para trabalhar e voc� � o primeiro ex-Google que eu conhe�o.

Calegaretti" [Risos] Mas eu n�o sou o �nico, n�o. Na �poca em que eu sai, sa�ram tamb�m um diretor da Alemanha, um diretor da China, um diretor da �ndia. Existe vida fora do Google [risos].

G1 - Voc� pode falar por que saiu do Google?

Calegaretti" Para vir para o MySpace. Tive de cumpri uma quarentena e vim para o MySpace, onde estou desde setembro deste ano. Sai porque gostaria de desenvolver um projeto mais amplo, mais diferenciado do que s� busca. Queria fazer algo mais voltado � cultura. E a experi�ncia do MySpace me chamou a aten��o, porque era recome�ar mais uma grande opera��o no Brasil com foco ligado � cultura, ao entretenimento. Isso me atraiu muito.

G1" Voc� j� passou pelo Google e agora est� no MySpace. Podemos esperar voc� no Facebook, quando o site for lan�ado por aqui?

Calegaretti" [Risos] Tomara que n�o, tomara que o MySpace dure muito e eu fique aqui por um bom tempo.

Orkut foi 'cobaia' no Brasil, diz diretor do MySpace
Emerson Calegaretti diz que MySpace aprendeu com experi�ncia do Orkut.
Por isso, ele considera vantajoso o momento de estr�ia do MySpace Brasil.

Fonte: JULIANA CARPANEZ -Do G1, em S�o Paulo
 
Por:  Janaina Fricks Baiense    |      Imprimir