Categoria Politica  Noticia Atualizada em 20-12-2007

Brasil é mercado estratégico, diz presidente da Renault-Niss
Para Carlos Ghosn, Brasil, China, Índia e Rússia são mercados importantes
Brasil é mercado estratégico, diz presidente da Renault-Niss
Foto: Ricardo Stuckert/Divulgação

Depois de ganhar projeção internacional quando recuperou a Nissan japonesa, que estava praticamente falida, o executivo brasileiro Carlos Ghosn, presidente mundial da Renault-Nissan, tenta ampliar a participação da companhia no mercado brasileiro.

Hoje, a Renault-Nissan tem uma participação conjunta de apenas 4% no mercado brasileiro. Em entrevista ao "Jornal da Globo", Ghosn disse que o Brasil está entre os mercados estratégicos da companhia, ao lado de Rússia, China e Índia.

Jornal da Globo - Você fica nervoso quando não consegue chegar ao alvo?
Carlos Ghosn" Impaciente.

Jornal da Globo - Impaciente é uma tradução para muito nervoso?
Ghosn - Nós estamos numa industria muito competitiva. No final, é o público que decide.

Jornal da Globo - Quais são seus mercados estratégicos hoje e qual papel o Brasil tem nesses mercados?
Ghosn - Os mercados estratégicos são em torno de quatro no mundo. São Brasil, Rússia, China e a Índia. Por quê? Porque são os países que têm um crescimento de 20% na indústria automobilística. Os grandes mercados amadurecidos, como Estados Unidos, Europa Ocidental e o Japão, estão todos em declínio e vão ficar em declínio por algum tempo.

Jornal da Globo - São os famosos brics (países emergentes). Agora, o carro de US$ 3 mil, que é um projeto famoso da sua autoria, vai ser construído na Índia. Por quê?
Ghosn - Porque na Índia tem os carros mais baratos no mundo, porque os indianos conseguiram construir carros muito, vamos dizer simples, com funcionalidades básicas, e também vamos dizer... a regulação sobre os carros na Índia é bastante aberta. Não tem tantas restrições em termos de segurança, em termos ... de emissão... então, o carro indiano é bastante barato em comparação a todos os outros países.

Jornal da Globo - Se você tivesse dito isso que você acabou de dizer para mim no último fim de semana em Bali, na Indonésia, com cerca de 3 mil ecologistas, o criticariam com muita veemência, dizendo que é justamente esse o perigo, que carros com restrições menores de emissão e segurança são um risco ao planeta. Como é que você responde esse tipo de crítica?
Ghosn - Olha, nossa responsabilidade como montadora não é de não produzir porque os carros podem emitir CO2. Nossa responsabilidade é trazer carros para todo mundo, para todas as faixas da população..., para todos os preços, mas carros que são muito eficientes em termos de emissão. Eu estou muito confiante de que Renault e Nissan vão conseguir trazer para o público carros com motorização bastante diferentes em termos de flex fuel, em termos de carro elétrico, em termos de carro híbrido, em termos de novos diesel, com emissão muita baixa.

Jornal da Globo - Para gente falar ainda dos mercados emergentes, e depois como se fala em bom inglês move on, o Brasil, em comparação com esses três mercados emergentes que você citou como mercados estratégicos, é um lugar muito caro para se produzir com ambiente regulatório, muito difícil de ser entendido do ponto de vista seu, de executivo internacional?
Ghosn - Olha, o Brasil não é tão caro para produzir hoje, em comparação a outros países. O Brasil ainda é um país muito competitivo.

Jornal da Globo - ...mesmo com o real tão valorizado?
Ghosn - Mesmo com o real tão valorizado. Agora, para o mercado interno ainda, Brasil é o melhor lugar onde se produz carro para vender no Brasil. Agora, para exportação, é verdade que alguns carros produzidos no Brasil não podem competir com carros produzidos em países com moedas mais fracas. É uma realidade, mas não é uma evolução drástica. É uma evolução, evolução natural, com crescimento brasileiro muito forte, com fortalecimento da economia brasileira.

Jornal da Globo - Você é considerado uma pessoa de extraordinária disciplina, que não é uma característica que se costuma associar a brasileiros. O que é a característica brasileira que o faz um executivo de tanto êxito?
Ghosn - Olha, o brasileiro pode ficar muito disciplinado. Se tem necessidade, o brasileiro é muito disciplinado; se não tem necessidade, ele não vai ficar muito disciplinado. Eu gosto quando eu estou no Rio de Janeiro, no Brasil, de uma vida bastante descontraída.

Jornal da Globo - O Brasil é onde você deixa de ser pontual?
Ghosn - Por um tempo muito curto, mas é bastante importante, é oxigênio que você tem de vez em quando. Mas eu acho que um dos pontos maiores do Brasil é que o Brasil tem pessoas de origem diferentes, culturas diferentes, tem uma convivência bastante forte, não se anota as diferenças entre pessoas. Esse é um pouco uma foto do século 21, nós vamos ter que trabalhar através das fronteiras, com pessoas diferentes.

Jornal da Globo" A Renault, se estou com números corretos na cabeça, está com 29 lançamentos mundiais, e quem é especialista nesse mercado em que você trabalha diz que a principal função de um executivo como a sua é quase de diretor de cinema, escolher os atores certos, escolher os lançamentos certos. Isso é instinto ou é só informação?
Ghosn - Esse processo, informação, de vez em quando, é instinto também. Mas você não pode só basear a decisão sobre instinto, ou não pode basear decisão sobre o processo. Não pode basear uma decisão sobre qual a opinião do time. Então, se a maioria vai para uma direção, então essa é a direção certa, então tem que misturar tudo. Tem que realmente olhar, observar e discutir as opiniões das pessoas, tem que seguir os processos certos para ficar com a melhor decisão possível, mas, de vez em quando, você tem que também ouvir o seu instinto, ouvir a sua voz interna. Ah, porque não tem outra indicação sobre qual é o caminho certo. Quando você segue esse caminho, você sabe que o caminho é certo. Tem que só esperar para os resultados.

Brasil é mercado estratégico, diz presidente da Renault-Niss.

Fonte:

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Por:  Felipe Campos    |      Imprimir