Categoria Opinião  Noticia Atualizada em 20-12-2007

O JOGRAL DE NOSSA SENHORA
Conta uma lenda medieval que no pa�s que hoje conhecemos como �ustria, a fam�lia Burkhard � composta de um homem, uma mulher...
O JOGRAL DE NOSSA SENHORA

Conta uma lenda medieval que no pa�s que hoje conhecemos como �ustria, a fam�lia Burkhard � composta de um homem, uma mulher, e um menino - costumavam animar as feiras de natal recitando poesias, cantando baladas de antigos trovadores, e fazendo malabarismos para divertir as pessoas. Evidente que nunca sobrava dinheiro para comprar presentes, mas o homem sempre dizia a seu filho:

- Voc� sabe por que a sacola de Papai Noel n�o se esvazia nunca, embora haja tantas crian�as neste mundo? Porque embora ela esteja cheia de brinquedos, �s vezes existem coisas mais importantes para serem entregues, os chamados "presentes invis�veis". Em um lar dividido, ele procura trazer harmonia e paz na noite mais santa da cristandade. Onde falta amor, ele deposita uma semente de f� no cora��o das crian�as. Onde o futuro parece negro e incerto, ele traz esperan�a. No nosso caso, quando Papai Noel vem nos visitar, no dia seguinte estamos todos contentes de continuarmos vivos e fazendo nosso trabalho, que � de alegrar as pessoas. Jamais esque�a isso.

O tempo passou, o menino transformou-se em rapaz, e certo dia a fam�lia passou diante da imponente abadia de Melk, que acabara de ser constru�da.

- Meu pai, lembra-se que h� muitos anos voc� me contou a hist�ria de Papai Noel e seus presentes invis�veis? Penso que certa vez recebi um destes presentes: a voca��o de tornar-me padre. Embora precisassem muito da companhia do filho, a fam�lia entendeu e respeitou o desejo do filho. Bateram na porta do convento, foram acolhidos com generosidade e amor pelos monges, que aceitaram o jovem Buckhard como novi�o.

Chegou a v�spera do natal. E justamente naquele dia, um milagre especial aconteceu em Melk: Nossa Senhora, levando o menino Jesus nos bra�os, resolveu descer � Terra para visitar o mosteiro.

Orgulhosos, todos os padres fizeram uma grande fila, e cada um postava-se diante da Vigem, procurando homenagear a M�e e o Filho. Um deles mostrou as lindas pinturas que decoravam o local, outro levou um exemplar de uma B�blia que havia demorado cem anos para ser manuscrita e ilustrada, um terceiro disse o nome de todos os santos.

No �ltimo lugar da fila o jovem Buckhard aguardava ansioso. Seus pais eram pessoas simples, e tudo que lhe haviam ensinado era atirar bolas para cima e fazer alguns malabarismos.

Quando chegou sua vez, os outros padres quiseram encerrar as homenagens, porque o antigo malabarista n�o tinha nada de importante para dizer, e podia desmoralizar a imagem do convento. Entretanto, no fundo do seu cora��o, tamb�m ele sentia uma imensa necessidade de dar alguma coisa de si para Jesus e a Virgem.

Envergonhado, sentindo o olhar reprovador dos seus irm�os, ele tirou algumas laranjas do bolso e come�ou a jog�-las para cima e segur�-las com as m�os, criando um belo c�rculo no ar, igual ao que costumava fazer quando ele e sua fam�lia caminhavam pelas feiras da regi�o.

Foi s� neste instante que o Menino Jesus come�ou a bater palmas de alegria no colo de Nossa Senhora. E foi para ele que a Virgem estendeu os bra�os, deixando que segurasse um pouco a crian�a, que n�o parava de sorrir.

Fonte: O Autor
 
Por:  Paulo Coelho    |      Imprimir