Categoria Politica  Noticia Atualizada em 03-01-2008

Bush deve dormir durante apuração das primárias em Iowa
Segundo sua porta-voz, presidente americano tem costume de dormir cedo
Bush deve dormir durante apuração das primárias em Iowa
Foto: AFP

O presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, vai acompanhar as primárias do estado de Iowa nesta quinta-feira (3). Mas não ficará acordado até tarde à espera dos resultados finais, devido ao costume de acordar cedo, informou a Casa Branca.

"A que hora começam a sair os resultados? Porque ele vai dormir cedo", disse a porta-voz presidencial Dan Perino, para que "obviamente é um momento emocionante para os Estados Unidos".

Em Iowa, as primárias ocorrem em reuniões abertas aos eleitores. Mais de 100 mil pessoas -ligadas aos dois partidos, o democrata e o republicano - são esperadas para esses encontros.

Os resultados são esperados para a noite de quinta-feira ou para a madrugada -tanto pelo horário norte-americano quanto pelo brasileiro.

Membro do Partido Republicano, Bush vem se negando a apoiar algum dos pré-candidatos de sua sigla, preferindo não intervir no processo. Mas já disse que vai se empenhar em apoiar o candidato dos republicanos assim que for designado -o que deve acontecer entre os dias 1º e 4 de setembro, em St. Paul, no estado de Minnessota, durante o congresso do partido.

O começo das primárias
A sucessão do atual presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, começa para valer nesta quinta-feira (3) com as primárias em Iowa. Apesar de ser um estado pequeno e ter pouca relevância nacional, a busca dos pré-candidatos por votos levou à adoção de promessas protecionistas -que podem mudar os rumos da relação bilateral entre Brasil e Estados Unidos pela próxima década.

A fim de conquistarem apoio de um estado basicamente agrícola e produtor de etanol (com o uso de milho), os pré-candidatos à Presidência, especialmente os democratas, assumiram um discurso mais protecionista que o normal. Incluíram em seus discursos promessas de dificultar importações e subsidiar a produção agrícola local, explicou, em entrevista ao G1, Paulo Sotero, diretor do Instituto Brasil do Centro de Internacional de Acadêmicos Woodrow Wilson, em Washington.

"Por ser o primeiro estado a ter uma prévia e precisar tanto de subsídios agrícolas, Iowa ilustra o problema da política protecionista norte-americana. Ele representa o maior empecilho para um aprofundamento da relação bilateral e um entendimento para um acordo de comércio global", disse.

O Brasil, que usa a cana-de-açúcar como matéria-prima (muito mais eficiente e barato que o álcool feito de milho), é um dos maiores produtores de álcool combustível do mundo. E espera entrar com mais força no mercado norte-americano.

Abertura comercial
Para o diretor do Instituto de Estudos da América Latina da Universidade Columbia, Albert Fishlow, este assunto requer uma atenção especial do Brasil e de todos os outros países emergentes, já que "a principal preocupação em relação à eleição diz respeito exatamente à abertura comercial dos Estados Unidos", disse.

"Os democratas assumem uma postura mais negativa em relação a esta abertura para poder conquistar o apoio dos sindicatos trabalhistas dessas regiões agrícolas", disse. Como os republicanos têm naturalmente um discurso mais protecionista, os democratas acabam deixando de ser um contraponto para poderem se fortalecer eleitoralmente.

Alavanca
Segundo Fishlow, esta postura está presente especialmente nas primárias. Para ele, Iowa e o estado que sedia a segunda primária, New Hampshire, são pouco relevantes eleitoralmente, "mas acabam tento uma enorme influência no processo eleitoral. Eles são o início do processo que vai acabar definindo o próximo presidente."

Sotero diz que a relevância dessa primeira primária é que ela pode alavancar candidaturas, e pôr em evidência algum candidato que aparecia com menos força e definir a forma como os eleitores democratas e republicanos se comportam nas primárias seguintes.

Tudo pelas primárias
Para defender seu interesse político, que é agradar o eleitor de Iowa e assim fortalecer toda a pré-candidatura, os pré-candidatos acabam comprometendo suas campanhas inteiras e todo o projeto político, mesmo se eleito, explicou Sotero.

"Quando chegam em Iowa, muitos pré-candidatos assumem posições nas quais sequer acreditam. A senadora democrata Hillary Clinton, por exemplo, se não tivesse que passar por Iowa, teria posições públicas bem mais simpáticas de apoio ao etanol brasileiro, bem como uma liberalização da compra do etanol nos EUA", disse.

A força de Iowa
A força que Iowa, por ser a primeira prévia, pode dar à campanha dos pré-candidatos é tanta, segundo Sotero, que toda a política norte-americana poderia ser diferente, caso outro estado iniciasse o processo eleitoral.

"Se as primárias começassem na Califórnia, que é o maior colégio eleitoral dos EUA (e por conseqüência trará mais votos na contagem final ao candidato que vencer no estado), teríamos um quadro oposto, e todos estariam fazendo barulho em favor de uma maior abertura do país para biocombustíveis e até mesmo a taxação para combustíveis fosseis", disse.

Segundo ele, é uma simples questão de tradição que faz com que o estado inicie o processo. "Há 20 anos, ninguém dava atenção a Iowa. Isso começou a acontecer porque a política se torna cada vez mais um show midiático, e os candidatos passaram a se concentrar para explorar cada vez mais a mídia."

Brasil-EUA
Os dois acadêmicos ouvidos pelo G1 ecoam as pesquisas que apontam vantagem democrata na corrida presidencial, e analisaram também o futuro das relações entre o país e o Brasil com a mudança na Casa Branca.

"As relações Brasil-EUA, que andam bem desde Fernando Henrique Cardoso, são, em grande parte, influenciadas pela questão comercial entre os dois países. Estamos engalfinhados numa disputa séria por causa da prática obviamente abusiva de concessão de subsídios agrícolas dos EUA. O maior fazendeiro do país é o Tesouro, através de subsídios", explicou Sotero.

Para o professor de Columbia, por mais que o tom protecionista se espalhe por todo o Partido Democrata, o senador John Edwards é o que mais se destaca em sua posição contrária a uma maior abertura.

"Barack Obama sugere um pensamento futuro de maior integração, e Hillary Clinton acaba não se comprometendo com nenhuma abertura, mas Edwards é o que tem postura mais negativa para a visão brasileira", disse Fishlow.

Bush deve dormir durante apuração das primárias em Iowa. Segundo sua porta-voz, presidente americano tem costume de dormir cedo. Estado de Iowa abre nesta 5ª feira o processo de sucessão nos EUA.

Fonte:

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Por:  Alexandre Costa Pereira    |      Imprimir