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Sem alarde, Cuba tem primeira eleição após doença de Fidel

Disputa parlamentar ocorre neste domingo (20)
Sem alarde, Cuba tem primeira eleição após doença de Fidel

Foto: Tiago Pariz/G1

Dois cubanos conversam sentados na porta de um antigo prédio marrom localizado em Havana Vieja sobre um carro ano 1950 que um amigo quer vender por US$ 5.000. Atrás deles, um panfleto com a foto e a biografia de um candidato a deputado na eleição deste domingo (20) à Assembléia Nacional do Poder Popular.

Em Havana, a capital da ilha comunista, os cubanos não conversam abertamente sobre política. Uma pergunta sobre a eleição ou sobre o governo é respondida com uma expressão de desconforto ou simplesmente com silêncio. "Aqui não gostamos de falar, nem de participar de política", resume em poucas palavras um cubano que mal presta atenção na pergunta e recusa ter o nome publicado.

O Conselho Nacional Eleitoral (CNE), no entanto, garante que houve esforço para levar todas as informações necessárias aos mais de 8,4 milhões de eleitores inscritos para votar neste domingo.

Foram distribuídos 2 milhões de folhetos com a foto e a biografia de cada um dos candidatos, colocados em 43 mil lugares público de amplo acesso aos cubanos, de acordo com o CNE. O Conselho garante ter havido forte divulgação dos inscritos em TV e jornal. "O objetivo é dar mais informação aos eleitores", comentou a presidente do Conselho Eleitoral, Maria Éster Réus, durante mesa redonda promovida pela TV cubana Rebelde.

Complicado e sem clima
Apesar disso, Havana não vive um clima eleitoral. Os candidatos não se apresentam na televisão, e a programa limita-se a folhetos distribuídos com a biografia e as fotos de candidatos coladas na entrada de edifícios. Não há comício, não há corpo-a-corpo.

A explicação é simples: o processo eleitoral cubano é complexo. A briga não é por uma vaga na Assembléia Nacional, mas pelo direito de disputá-la.

O procedimento eleitoral deste ano começou no final de 2007 após as eleições para as assembléias provinciais e municipais. O cidadão maior de 18 anos filiado ou não ao Partido Comunista pode pleitear uma vaga Assembléia. Para que seja escolhido, é preciso passar por algumas etapas de seleção. Primeiro: o crivo de sua comunidade para que ela o lance como candidato. Segundo: a peneira do Conselho Nacional Eleitoral.

CNE escolhe entre os milhares de postulantes os 614 que disputarão exatamente as 614 cadeiras da Assembléia Nacional Popular. O candidato será eleito se tiver mais de 50% dos votos. A diferença da eleição de 2008 para a última, de 2003, é a abertura de outras cinco vagas.

Nas ruas a única propaganda que ganha mais espaço é a que prega o voto unido. O voto unido, defendido por Fidel Castro em seus artigos escritos no Granma, o órgão de divulgação oficial do Partido Comunista, prevê que cada eleitor escolha todos os 614 candidatos definidos pelo CNE.

"O voto unido nos fortalece porque é uma maneira de representar todo o conjunto da sociedade cubana", disse, durante o debate promovido pela TV Rebelde, Ricardo Alarcón de Quesada.

Nova geração
De acordo com o perfil dos candidatos traçados pelo CNE, mais de 56% nasceram depois de 1959, ano da revolução, mais da metade dos concorrentes disputam a vaga pela primeira vez. Fidel Castro mesmo adoentado e fora do poder desde julho de 2006 está na lista.

A eleição direta foi incluída na Constituição cubana em 1992. Naquele mesmo ano, Fidel Castro refletindo sobre a débâcle do socialismo europeu disse, em um artigo intitulado "Um grão de milho", que uma das causas foi o afastamento dos líderes políticos da população. Para Fidel, o regime só triunfaria se houvesse uma relação mais estreita com as massas.

Pela lógica eleitoral da ilha, os cubanos apontam seus candidatos e um conselho ligado ao governo escolhe os que podem ou não disputar a vaga na Assembléia. Ao eleitor cabe ratificar a decisão do órgão estatal.

Depois de a eleição para a Assembléia, os deputados eleitos elegem o Conselho de Estado, o Conselho de Ministros e o presidente do Conselho de Estado, o cargo de Fidel Castro, que vem sendo exercido pelo irmão Raúl Castro, além dos juízes da Suprema Corte.

Sem alarde, Cuba tem primeira eleição após doença de Fidel.

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Por: Felipe Campos | Imprimir