Categoria Esportes  Noticia Atualizada em 19-01-2008

Ex-capitão conta histórias de Guga na Davis
Ricardo Acioly lembra com alegria dos seis anos em que comandou a equipe com o tenista
Ex-capitão conta histórias de Guga na Davis
Foto: Agência

Ricardo Acioly pode se considerar um treinador privilegiado. Ele comandou, como capitão brasileiro da Copa Davis, uma das melhores gerações do tênis do país. Além do raçudo Fernando Meligeni e do grande duplista Jaime Oncins, ele contou com o número 1 do mundo, Gustavo Kuerten, em seu auge.

Pardal, como Acioly é conhecido no meio, guarda excelentes lembranças da época. Em conversa por telefone com o GLOBOESPORTE.COM, ele falou com muito carinho de Guga, e não poupou elogios à conduta do catarinense dentro e fora da quadra. A humildade e o caráter agregador do tricampeão de Roland Garros qualidades ressaltadas repetidamente pelo treinador.

Uma atitude marcante para Acioly veio nas quartas-de-final da Copa Davis em 2000. O Brasil vencia o duelo contra a Eslováquia por 2 a 1 e Guga poderia fechar o confronto na quarta partida. Dominik Hrbaty, porém, fez uma partida impecável e venceu por 3 sets a 0, no Rio de Janeiro. A vaga na semifinal, então seria decidida no jogo entre Fernando Meligeni e Karol Kucera, então número 41 do mundo.

- No caminho de saída da quadra, o Guga estava muito chateado, mas quando entrou no vestiário, ele não demonstrou nada. Ele olhou para o Fininho e disse "Vamo, velho. Você vai ganhar isso aí para a gente". Isso mostra que ele era jogador de equipe. Muitos líderes de time ficariam bravos, quebrariam raquete, chorariam. O Guga, não. Já entrou olhando pro Fino e dizendo que ele ia ganhar. Era esse tipo de liderança que trazia para o time. Ele acreditava tanto nele equanto nas pessoas à sua volta. É uma qualidade dos caras especiais.

Um grande saque e golpes do fundo de quadra pesados sempre foram marcas do tênis de Gustavo Kuerten. Seu comportamento fora de quadra, porém, nunca foi exaltado o bastante.

- O maior mérito do Guga era não ser estrela. Alguns caras se destacam e passam a viver em seu próprio mundo. A simplicidade, o trabalho duro, ele passava para o outro lado da quadra, para quem estava treinando com ele. Se o número 1 do mundo era o primeiro a chegar, ralava tanto, cumpria horários e todas as determinações, quem são ou outros para não fazem o mesmo? E isso ajudava o astral do grupo.

Claramente empolgado ao falar do fenômeno do tênis, Acioly não se deixou interromper e logo lembrou de outra passagem de Copa Davis. Esta, contra a França, em 1999. O Brasil perderia o confronto, mas não sem uma das partidas mais memoráveis da carreira de Guga.

- Outra coisa que ele encarnava era a superação dentro de quadra. Nesse jogo contra a França, contra o Sébastien Grosjean, o Guga venceu por 9/7 no quinto set, mas no meio da terceira parcial ele já estava com cãibra. O dedo da mão travava, a batata da perna já sentia. Em um momento eu disse "Já deu, Guga", e ele respondeu: "De jeito nenhum, vamos até o fim". Ele acreditava muito no taco dele.

Acioly, que atualmente dirige um centro de formação de jovens tenistas no Recreio dos Bandeirantes, no Rio de Janeiro, teve Guga como hóspede em seu CT durante cerca de quatro meses, em 2006. No período,o tricampeão de Roland Garros bateu bola com vários meninos, fez palestras e sempre dirigiu palavras de incentivo aos futuros profissionais.

- Nunca vi nem ele nem o Fininho reclamarem de parceiro de treino inferior. Em um desse dias que o Guga treinou aqui, ele foi bater bola com dois garotos, e um deles errou algumas esquerdas. O menino começou a fugir da esquerda, tentando parar de errar, para não atrapalhar o treino. Mas o Guga deu força e mandou o moleque bater a esquerda, e deu dicas. Ele sempre fazia os outros subirem de nível.

Ex-capitão conta histórias de Guga na Davis.

Fonte:

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Por:  Felipe Campos    |      Imprimir