Categoria Policia  Noticia Atualizada em 28-01-2008

Obras do PAC no Alemão serão tranqüilas, acredita Genro
Moradores estão preocupados com possíveis confrontos entre policiais e traficantes
Obras do PAC no Alemão serão tranqüilas, acredita Genro
Foto: Globo.com

O ministro da Justiça, Tarso Genro, afirmou que a apreensão dos moradores do conjunto de favelas do Alemão, preocupados com possíveis confrontos entre policiais e traficantes durante o início das obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) na comunidade formada por 11 favelas, "é justa e normal", mas acredita que "isso não vai se tornar um tormento".

"Não será um processo de ocupação como se faz em uma situação de guerra. Tudo será coordenado para que a região seja pacificada, numa ocupação consensual, com a participação da comunidade", disse, ao chegar nesta tarde de segunda-feira (28), no Centro do Rio, para uma reunião de trabalho de implementação do Pronasci com o secretário Nacional de Segurança, Antonio Carlos Biscaia, e o secretário estadual de Segurança Pública, José Mariano Beltrame.

Os 150 mil moradores do conjunto de favelas do Alemão, que reúne 11 favelas do Rio, vivem sob o signo do medo. E a realização das obras previstas no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) no local só tem deixado a população ainda mais apreensiva, pois isso poderá significar novas ações de segurança pública nas favelas. Os conflitos entre traficantes de drogas e policiais deixaram 71 mortos em 2007.

O aparato da Força Nacional está na região há nove meses. Antes, os soldados revistavam o "entra-e-sai". Hoje, eles fazem mais figuração porque o trafico continua suas operações normalmente. "É constrangedor, parece estado de sitio, que estamos em guerra 24 horas. Aqui a maioria é de pessoas de bem, mas essa parte nunca é mostrada, só a ruim", diz um morador conhecido como Jorginho da SOS.

Teleférico
Por isso, o governo resolveu tentar um outro tipo de investida no local. O PAC prevê muitas obras. Até a construção de um teleférico, nos moldes do feito em favelas de Medellín, na Colômbia. Mas para fazer as obras existe uma condição: que a policia ocupe todas as favelas e volte a travar novos confrontos com os traficantes.

"A sociedade tem que estar preparada para que se algumas ações mais tristes, mais dolorosas que por acaso venham a acontecer e a gente tem que ter isso contabilizado, mas se faz necessário que o estado tome uma atitude definitiva. Que o estado de um basta a determinadas situações aqui no Rio de Janeiro", afirma José Mariano Beltrame, secretário de Segurança Pública do Rio de Janeiro.

Ajuda bem-vinda
O PAC, a ajuda prometida pelo governo, é mais do que bem-vinda, afirmam moradores. A duvida é o que vai ser feito, quando vai ser feito e principalmente o medo de como isso vai ser feito.

Em maio passado, a polícia tentou ocupar o alemão usando cerca de mil homens - desta e de outras ações, ficaram as marcas: além de mortos e feridos, tiros que furaram as paredes de diversas casas. "A obra precisa, mas o caveirão entra com violência, chega logo matando mesmo. Não quer nem saber. É preocupação com filhos, com os netos", diz uma moradora.

Marcas
O conjunto de favelas do Alemão têm expostas as lembranças permanentes para quem vive ao lado do perigo que correm. O advogado João Tancredo que investiga abusos de policiais sofreu, no fim de semana passado, um atentado. Como o carro dele era blindado, os quatro tiros que provavelmente o matariam não fizeram efeito.

"Nada pode justificar o número enorme de mortos. Quando a gente começa a dizer que temos que matar algumas pessoas para ter algumas soluções, isso é rigorosamente um atestado de incompetência. E a noticia que nós temos é que vai ter o dobro ou o triplo do que da outra vez no Alemão. Vai ser uma carnificina. Vão morrer muitas pessoas e não tenha duvida, pessoas inocentes", garante Tancredo.

Lei do silêncio
O medo da policia é bem real, mas não esconde o fato que para essa gente falar mal do outro lado, o dos traficantes, é impossível. Essa sensação de normalidade, o comércio funcionando tranqüilamente, tudo isso responde aos humores de quem manda ali. O grupo AfroReggae está presente no conjunto de favelas do Alemão há quase dois anos e acredita que o tráfico vai permitir que as obras sejam feitas.

"Nesse ponto o trafico não está se metendo. Não teria lógica ele ser contra o PAC. Seria imbecilidade. O governo já mostrou que pode entrar, seria suicídio impedir A, B ou C e isso jogaria a população contra o narcotráfico. O PAC vai ser um divisor de águas pra cidade", diz o coordenador do projeto, José Júnior.

Convivência com traficantes
Os presidentes eleitos das 11 associações de moradores convivem com traficantes que mandam, com a população que cobra e com a falta de infra-estrutura. Além da falta de escolas e do saneamento básico inexistente, os serviços também deixam de chegar ao Alemão: as cartas, por exemplo, são entregues nas associações de moradores.

Com o PAC, está prevista a construção de 13 centros comunitários e sociais, seis creches, cinco escolas infantis, cinco de ensino médio, uma profissionalizante, quatro centros de saúde e um teleférico de quase três quilômetros.

Obras do PAC no Alemão serão tranqüilas, acredita Genro. Moradores estão preocupados com possíveis confrontos entre policiais e traficantes.

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Por:  Felipe Campos    |      Imprimir