Categoria Opinião  Noticia Atualizada em 19-02-2008

CADíŠ O RABINO E O PADRE?
Um dos textos importantes para a espiritualidade da Quaresma é Ezequiel 33,11, em que Deus afirma: "Não quero a morte do pecador, mas antes que ele se converta e viva!".
CADíŠ O RABINO E O PADRE?

Os meios de comunicação em nosso país são hipócritas e cínicos. Só no ano passado, miraram em duas grandes personalidades religiosas no cenário brasileiro e conseguiram tirar de circulação e praticamente colocar em descrédito o Rabino Henry Sobel e o Padre Júlio Lanceloti, ambos de São Paulo. Ambos profundamente comprometidos, décadas a fio, com causas sociais, com o processo democrático e com a promoção humana. Ambos seres humanos, de carne e osso, pecadores como todos nós, e também como todos nós passíveis de erros.

Um dos textos importantes para a espiritualidade da Quaresma é Ezequiel 33,11, em que Deus afirma: "Não quero a morte do pecador, mas antes que ele se converta e viva!". Diante do que fizeram com o rabino e com o padre, apedrejados moralmente pelos juízos do senso comum, parece que consigo ouvir o Deus dos judeus e dos cristãos dizendo novamente: "Os meus pensamentos não são os vossos pensamentos" (Is 55,8). Os critérios de Deus para julgar são outros. Ainda bem! Senão estaríamos todos perdidos...

Não estou granjeando aqui a inocência do rabino ou do padre. A questão não é essa. O problema é que, da forma como o conjunto da indústria da informação apresenta polêmicas como essa do rabino que roubou gravatas e do padre que supostamente teve envolvimento com um menor, fica parecendo que todas as causas que eles defenderam, no fundo, eram falsas, falaciosas e contraditórias. É como se quisessem desqualificar não a pessoa ou o fato em si, mas a causa com a qual a pessoa está identificada.

Ressoa, por trás da estrutura da crítica pontual, a idéia de que talvez não se deva defender tais e tais causas com tanta veemência, já que todos são pecadores, tendem para o mal e podem se contradizer. É a lógica que muda o que Jesus disse aos que queriam apedrejar a mulher adúltera: só quem nunca tiver pecado é que pode denunciar o pecado.

O rabino Henry Sobel sempre era entrevistado para falar sobre a corrupção no cenário político nacional. O padre Júlio Lanceloti sempre estava em evidência porque saía em polêmica defesa dos menores infratores, alegando que eram mais vítimas que culpados. Talvez isso ajude a explicar por que foi investido tão pesado na destruição desses dois ícones da moralidade social. De uma forma que só mesmo a secreção do capitalismo poderia inventar, de repente parece mais imoral roubar uma gravata sob efeito de antidepressivos do que desviar milhões em esquemas de falcatruas; a falta de limites sexuais de um homem parece muito mais absurda do que os milhares de crianças abandonadas pelas ruas das nossas grandes cidades. Pelo menos foi isso que pareceu, pelo simples fato de que os corruptos continuam mandando e desmandando (agora sem um importante inimigo), e os menores continuam pelos semáforos e esquinas (agora sem um importante defensor). E isso nos provoca menos indignação do que as taras do rabino ladrão e do padre pedófilo.

Pena que a civilização ocidental obteve notáveis sucessos na tentativa de transformar Jesus em apenas mais um fazedor de máximas e clichês, senão ainda causaria grande incômodo ouvi-lo dizer: "Hipócrita! Tira primeiro a trave que está no teu olho; e então verás bem para tirar o cisco do olho do teu irmão" (Mt 7,5).

Juliano Ribeiro Almeida é sacerdote católico, pároco da Paróquia Nossa Senhora do Amparo, de Itapemirim-ES.


Fonte: Redação Maratimba.com
 
Por:  Juliano Ribeiro Almeida    |      Imprimir