Categoria Geral  Noticia Atualizada em 02-03-2008

Religiosas do Mosteiro da Luz não querem exposição de múmias
Segundo capelão, vontade de freiras é que túmulo volte a ser fechado
Religiosas do Mosteiro da Luz não querem exposição de múmias
Foto: Foto: Angelita Loturco e Rogério Abbamonte/Divulgação

Apesar de despertar muito interesse em pesquisadores, fiéis e curiosos, a descoberta dos corpos mumificados no Mosteiro da Luz, na região central de São Paulo, e uma possível exposição pública deles não têm a simpatia das religiosas que vivem no local.

"Uma coisa a gente está querendo, principalmente as irmãs, é que depois de tudo feito, (o túmulo) seja fechado, não haja exposição, que elas (as múmias) fiquem descansando em paz como sempre estiveram" diz o padre Armênio Rodrigues Nogueira, capelão do Mosteiro da Luz.

"Se for pra tomar essa atitude (fazer a exposição), aí, senta-se novamente, com a Igreja, as irmãs e os técnicos. Bom o que vamos fazer? Vamos fechar? Vamos fechar", afirma a diretora do Museu de Arte Sacra, Mari Marino.

Os dois corpos mumificados foram encontrados por acaso no início de fevereiro. Técnicos que tentavam descobrir um ninho de cupins chegaram até elas, enterradas na parede de uma sala que já havia sido usada como cemitério. Desde então, o local está fechado.

Atualmente 15 freiras vivem enclausuradas no mosteiro que foi fundado em 1774 por Frei Galvão, o primeiro santo brasileiro. Algumas fizeram questão de ver de perto a descoberta histórica. "Para elas, é até um sinal de Deus, de que vale a pena viver uma vida consagrada diante da vontade Dele neste mundo" diz o padre Armênio.

O achado raríssimo intrigou religiosos e pesquisadores. Em busca de mais detalhes desse mistério, uma equipe do museu fez uma análise do subsolo da sala onde estavam as múmias. A expectativa de especialistas é encontrar mais surpresas no local.

Com uma máquina de raio-x, o solo foi examinado. "Com isso nós conseguimos identificar corpos enterrados, tubulações, covas...", explica o geofísico Rinaldo Moreira Marques.

Em outra frente de investigação, um equipamento com uma câmera de vídeo na ponta inspeciona o interior de um túmulo. Sem danificar nada, os especialistas conseguem informações importantes: há muitos cupins nas paredes e uma elevação de terra que pode envolver mais um corpo - mumificado ou não. Desde a fundação, 129 religiosas que viviam no mosteiro morreram.

Lenda
Uma antiga lenda diz que as freiras que dormiam no andar de cima do mosteiro ouviam barulhos estranhos que vinham do cemitério do convento. Esses barulhos eram parecidos com pancadas na parede. Assustadas e intrigadas, elas mandaram abrir um pequeno trecho de um dos túmulos, e descobriram duas múmias. Setenta anos depois, o mesmo túmulo foi reaberto por causa da ação de cupins.

O que era pra ser um trabalho rotineiro de preservação - coordenado pela diretora da museu - revelou a parte verdadeira da lenda: como as freiras eram enterradas numa espécie de capa de argila, os corpos ficaram conservados.

Os corpos encontrados no início de fevereiro estavam juntos, um com a cabeça encostada no ombro do outro. Para o arqueólogo Sérgio Monteiro, o túmulo foi usado duas vezes, em épocas diferentes.

Pesquisadores ainda tentam descobrir se ocorreu o mesmo processo no túmulo debaixo. "Nós não sabemos se aqui existe uma múmia, mas corpo existe, com certeza. Pode ter mais que um inclusive", diz Monteiro.

Religiosas do Mosteiro da Luz não querem exposição de múmias. Segundo capelão, vontade de freiras é que túmulo volte a ser fechado.

Fonte:

Acesse o G1

 
Por:  Felipe Campos    |      Imprimir