Para Maria Elisa Cevasco, conquistas das feministas ficaram aquém das ambições de 68
Foto: Agências / Agências “O feminismo foi derrotado”. Tal constata��o, feita em pleno ano em que se completam quatro d�cadas da emblem�tica queima suti�s pelas feministas em maio de 68, � da professora Maria Elisa Cevasco, de 56 anos. Doutora em Letras e professora de Estudos Culturais da Universidade de S�o Paulo, ela viveu a efervesc�ncia do movimento feminista e � com decep��o que chega a essa conclus�o.
“O feminismo s� seria poss��vel em uma outra sociedade, regida por valores humanos e n�o mercadol�gicos”, opina Maria Elisa, autora do livro “Dez li��es sobre estudos culturais” e que atualmente edita o romance com toques feministas “Cartas a Legba”, de Susan Willis.
Para a professora, as mulheres do movimento sem-terra s�o muito mais s��mbolos do feminismo do que a cantora Madonna. “As celebridades t�m aqueles rostos cheios de botox. � uma mesmice que se apresentam como novidade”.
O G1 conversou com a professora sobre feminismo e cultura pop. Confira:
G1 - Em 68 as feministas queimaram suti�s em pra�a p�blica, como um s��mbolo do fim da repress�o masculina. O movimento conseguiu alcan�ar suas metas nos �ltimos 40 anos?
Maria Elisa Cevasco - O feminismo foi derrotado. Os fundamentos daquela �poca pressupunham um mundo diferente. Um dos slogans do feminismo americano era “seja realista, exija o imposs��vel”, ou seja, a reivindica��o era por uma mudan�a radical. O feminismo s� seria poss��vel em uma outra sociedade, regida por valores humanos e n�o mercadol�gicos, como temos hoje.
G1 - Ent�o o feminismo foi uma utopia?
Maria Elisa - O movimento teve uma s�rie de conquistas, mas ficou muito aqu�m do que poderia ter sido. N�o estou dizendo que foi em v�o. Hoje, viol�ncia dom�stica � considerada crime, por exemplo. Mas a revolu��o feminista propunha um avan�o efetivo: tanto no aspecto pol��tico, quanto comportamental. Por isso o movimento era o m�ximo! Infelizmente, muita coisa ficou perdida nestas quatro d�cadas.
G1 - O que ficou pelo caminho?
Maria Elisa - Faltou mudar o mundo! E isso era uma coisa totalmente poss��vel nos anos 60... Naquela �poca havia um choque central, duas linhas diferentes de pensamento. E a vencedora transformou o mundo em um lugar onde o que mais importa � o consumo, a sociedade do espet�culo na qual as pessoas est�o cada vez mais burras. N�o d� para ser feminista num mundo assim. Soa ultrapassado.
G1 - O que a senhora acha da maneira como a mulher � retratada nas letras do funk carioca?
Maria Elisa - A gente n�o pode ter preconceito. Uma mulher ser chamada de cachorra n�o � nada anormal. Na �rea do erotismo e da sedu��o n�o acho que � necess�rio ser politicamente correto e criar censuras. � uma �rea que n�o dominamos, porque tem a ver com o inconsciente, com o desejo.
G1 - Em que �rea a senhora acha que a discrep�ncia entre homens e mulheres � mais evidente?
Maria Elisa - Nas rela��es amorosas. As mulheres ainda ficam esperando os homens ligarem no dia seguinte. O livro “Cartas a Legba” fala de uma mulher que fez parte do movimento feminista e agora tem mais de 60 anos. Em suas cartas � poss��vel perceber que ela tomava para si a iniciativa da conquista, era uma sedutora expl��cita. E veja s�, at� hoje isso � considerado escandaloso. Os homens ainda t�m medo de embarcar no ass�dio feminino.
"As mulheres ainda ficam esperando os homens ligarem no dia seguinte"
G1 - �cones femininos sexualizados da cultura pop como Madonna, Britney Spears ou Sharon Stone n�o contribuem para que as mulheres sejam mais assertivas no jogo da conquista?
Maria Elisa - Elas s�o ��cones de sexualidade como espet�culo, n�o como vida real. Atualmente erotismo � um show de superficialidade. A Madonna � um exemplo disso. N�o tenho nada contra o sexo pelo sexo. Sou a favor do sexo pelo prazer. O que n�o concordo � com este apelo sexual para chamar aten��o, escandalizar e transforma-lo em algo superficial e ef�mero. Madonna � um refluxo do movimento dos anos 60, da liberdade torta, feita para mostrar na televis�o.
"Todas essas famosas que a gente v� nas capas de revistas t�m aqueles rostos cheios de botox. � uma mesmice que se apresenta como novidade"
G1 - Quem s�o as mulheres-��cones do feminismo hoje?
Maria Elisa - Entre essas celebridades que est�o na m��dia n�o consigo lembrar de nenhuma. Todas essas famosas que a gente v� nas capas de revista t�m aqueles rostos cheios de botox. � uma mesmice que se apresenta como novidade. Na minha opini�o, as esposas dos sem-terra s�o mulheres admir�veis. Elas est�o envolvidas em uma causa, criam seus filhos em meio a uma luta por um mundo de mais igualdade e justi�a. Elas sim s�o as hero��nas feministas atuais. Mais do que a Madonna ou a Britney Spears. A vida � justamente o que n�o passa na televis�o.
"Os americanos v�o votar em um homem chamado Hillary"G1 - E a Hillary Clinton?
Ela tem chance de se tornar umas das mulheres mais poderosas do mundo…
Maria Elisa - Mas a Hillary Clinton n�o vai representar a chegada da mulher ao poder. Do que vale uma mulher toma o poder e quer agir como um homem?
Os discursos dela parecem pautados na id�ia de que “eu posso fazer o que os homens fazem na pol��tica”. Ent�o qual o diferencial dela? Seria melhor se introduzisse neste mundo t�o masculino um jeito novo e mais humano de se fazer pol��tica. Os americanos v�o votar em um homem chamado Hillary.
'O feminismo foi derrotado', diz professora da USP
Para Maria Elisa Cevasco, conquistas das feministas ficaram aqu�m das ambi��es de 68.
'As sem-terra s�o mais ��cones do feminismo do que a Madonna', opina a professora.
Fonte: Dolores Orosco
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