Categoria Geral  Noticia Atualizada em 08-03-2008

'O feminismo foi derrotado', diz professora da USP
Para Maria Elisa Cevasco, conquistas das feministas ficaram aquém das ambições de 68
'O feminismo foi derrotado', diz professora da USP
Foto: Agências / Agências

“O feminismo foi derrotado”. Tal constata��o, feita em pleno ano em que se completam quatro d�cadas da emblem�tica queima suti�s pelas feministas em maio de 68, � da professora Maria Elisa Cevasco, de 56 anos. Doutora em Letras e professora de Estudos Culturais da Universidade de S�o Paulo, ela viveu a efervesc�ncia do movimento feminista e � com decep��o que chega a essa conclus�o.

“O feminismo s� seria poss��vel em uma outra sociedade, regida por valores humanos e n�o mercadol�gicos”, opina Maria Elisa, autora do livro “Dez li��es sobre estudos culturais” e que atualmente edita o romance com toques feministas “Cartas a Legba”, de Susan Willis.

Para a professora, as mulheres do movimento sem-terra s�o muito mais s��mbolos do feminismo do que a cantora Madonna. “As celebridades t�m aqueles rostos cheios de botox. � uma mesmice que se apresentam como novidade”.

O G1 conversou com a professora sobre feminismo e cultura pop. Confira:

G1 - Em 68 as feministas queimaram suti�s em pra�a p�blica, como um s��mbolo do fim da repress�o masculina. O movimento conseguiu alcan�ar suas metas nos �ltimos 40 anos?

Maria Elisa Cevasco - O feminismo foi derrotado. Os fundamentos daquela �poca pressupunham um mundo diferente. Um dos slogans do feminismo americano era “seja realista, exija o imposs��vel”, ou seja, a reivindica��o era por uma mudan�a radical. O feminismo s� seria poss��vel em uma outra sociedade, regida por valores humanos e n�o mercadol�gicos, como temos hoje.

G1 - Ent�o o feminismo foi uma utopia?

Maria Elisa - O movimento teve uma s�rie de conquistas, mas ficou muito aqu�m do que poderia ter sido. N�o estou dizendo que foi em v�o. Hoje, viol�ncia dom�stica � considerada crime, por exemplo. Mas a revolu��o feminista propunha um avan�o efetivo: tanto no aspecto pol��tico, quanto comportamental. Por isso o movimento era o m�ximo! Infelizmente, muita coisa ficou perdida nestas quatro d�cadas.

G1 - O que ficou pelo caminho?

Maria Elisa - Faltou mudar o mundo! E isso era uma coisa totalmente poss��vel nos anos 60... Naquela �poca havia um choque central, duas linhas diferentes de pensamento. E a vencedora transformou o mundo em um lugar onde o que mais importa � o consumo, a sociedade do espet�culo na qual as pessoas est�o cada vez mais burras. N�o d� para ser feminista num mundo assim. Soa ultrapassado.

G1 - O que a senhora acha da maneira como a mulher � retratada nas letras do funk carioca?

Maria Elisa - A gente n�o pode ter preconceito. Uma mulher ser chamada de cachorra n�o � nada anormal. Na �rea do erotismo e da sedu��o n�o acho que � necess�rio ser politicamente correto e criar censuras. � uma �rea que n�o dominamos, porque tem a ver com o inconsciente, com o desejo.

G1 - Em que �rea a senhora acha que a discrep�ncia entre homens e mulheres � mais evidente?

Maria Elisa - Nas rela��es amorosas. As mulheres ainda ficam esperando os homens ligarem no dia seguinte. O livro “Cartas a Legba” fala de uma mulher que fez parte do movimento feminista e agora tem mais de 60 anos. Em suas cartas � poss��vel perceber que ela tomava para si a iniciativa da conquista, era uma sedutora expl��cita. E veja s�, at� hoje isso � considerado escandaloso. Os homens ainda t�m medo de embarcar no ass�dio feminino.
"As mulheres ainda ficam esperando os homens ligarem no dia seguinte"

G1 - �cones femininos sexualizados da cultura pop como Madonna, Britney Spears ou Sharon Stone n�o contribuem para que as mulheres sejam mais assertivas no jogo da conquista?

Maria Elisa - Elas s�o ��cones de sexualidade como espet�culo, n�o como vida real. Atualmente erotismo � um show de superficialidade. A Madonna � um exemplo disso. N�o tenho nada contra o sexo pelo sexo. Sou a favor do sexo pelo prazer. O que n�o concordo � com este apelo sexual para chamar aten��o, escandalizar e transforma-lo em algo superficial e ef�mero. Madonna � um refluxo do movimento dos anos 60, da liberdade torta, feita para mostrar na televis�o.

"Todas essas famosas que a gente v� nas capas de revistas t�m aqueles rostos cheios de botox. � uma mesmice que se apresenta como novidade"

G1 - Quem s�o as mulheres-��cones do feminismo hoje?

Maria Elisa - Entre essas celebridades que est�o na m��dia n�o consigo lembrar de nenhuma. Todas essas famosas que a gente v� nas capas de revista t�m aqueles rostos cheios de botox. � uma mesmice que se apresenta como novidade. Na minha opini�o, as esposas dos sem-terra s�o mulheres admir�veis. Elas est�o envolvidas em uma causa, criam seus filhos em meio a uma luta por um mundo de mais igualdade e justi�a. Elas sim s�o as hero��nas feministas atuais. Mais do que a Madonna ou a Britney Spears. A vida � justamente o que n�o passa na televis�o.

"Os americanos v�o votar em um homem chamado Hillary"G1 - E a Hillary Clinton?

Ela tem chance de se tornar umas das mulheres mais poderosas do mundo…

Maria Elisa - Mas a Hillary Clinton n�o vai representar a chegada da mulher ao poder. Do que vale uma mulher toma o poder e quer agir como um homem?

Os discursos dela parecem pautados na id�ia de que “eu posso fazer o que os homens fazem na pol��tica”. Ent�o qual o diferencial dela? Seria melhor se introduzisse neste mundo t�o masculino um jeito novo e mais humano de se fazer pol��tica. Os americanos v�o votar em um homem chamado Hillary.

'O feminismo foi derrotado', diz professora da USP
Para Maria Elisa Cevasco, conquistas das feministas ficaram aqu�m das ambi��es de 68.
'As sem-terra s�o mais ��cones do feminismo do que a Madonna', opina a professora.

Fonte: Dolores Orosco

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Por:  Alexandre Costa Pereira    |      Imprimir