Categoria Tragédia  Noticia Atualizada em 27-03-2008

Laudo encomendado por consórcio culpa rocha por desabamento
Conclusão é de consultor independente e foi apresentada nesta quinta (27)
Laudo encomendado por consórcio culpa rocha por desabamento
Foto: Luciana Bonadio/G1

Um laudo feito pelo consultor independente Nick Barton, e divulgado nesta quinta-feira (27) pelo Consórcio Via Amarela, indica que um bloco de rocha cujas proporções eram desconhecidas provocou o desabamento das obras da Linha 4 (Amarela) do Metrô, ocorrido em janeiro de 2007. O maciço, com cerca de 15 mil toneladas, não havia sido completamente identificado nas análises feitas durante o projeto.

O Consórcio alega que não contribuiu para o acidente. "É uma fatalidade, é um fato bastante singular na história de escavação de túneis. O consórcio não contribuiu para a ocorrência desse acidente", disse o diretor de contrato do Consórcio, Márcio Pellegrini. Quanto à possibilidade de acontecer o mesmo problema em outros trechos das obras da Linha 4, ele disse que isso é muito difícil. "A possibilidade de acontecer um acidente desse novamente é como cair um raio no mesmo lugar duas vezes."

A análise foi feita sob encomenda do consórcio responsável pela construção. Além desse laudo, o consórcio fará um laudo próprio, que será divulgado em até 40 dias.O Ministério Público (MP) solicitou ao Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT) uma investigação sobre o acidente, cujo resultado ainda não foi divulgado.

O consultor aponta no relatório que houve uma ruptura abrupta no local do desabamento. "Foi encontrado um maciço rochoso sobre a face superior do túnel escavado que não foi detectado pela sondagem. Esse maciço teve uma lubrificação em suas laterais por conta da presença de água e, com isso, houve uma perda do arqueamento necessário para a estabilidade desse túnel. Foi uma ruptura abrupta", disse Pellegrini.

Especialista inglês
O inglês Nick Barton, especialista em mecânica das rochas, explicou que o bloco tinha formato de cone e estava apoiado na face superior do túnel concebido para ligar a estação Pinheiros à Faria Lima – e acabou desabando. Os especialistas acreditavam, inicialmente, que o maciço tivesse uma determinada altura, mas o laudo de Barton indica que o topo dele estava a apenas sete metros da superfície. Portanto, o maciço teria 14 metros de altura.

Para identificar as características do solo, foram realizadas onze sondagens, feitas por meio de furos na vertical do terreno. De acordo com o Consórcio, o número é superior ao indicado em obras desse tipo. "O caso é muito raro de acontecer. A quantidade de sondagens feitas foi substancialmente maior do que o padrão para este tipo de obra. Não há obra em que não há risco, e de fatalidade ninguém está livre", declarou Pellegrini.

O que teria facilitado o deslizamento, de acordo com o laudo, foram as características da rocha. Além de estar posicionada na diagonal, ela estava apoiada em uma região de rochas mais moles. "A diferença de rigidez faz com que o movimento altere e contribua para o escorregamento", explicou Fernando Stucchi, do departamento de engenharia de estruturas e geotécnica da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP).

Outro ponto apontado como importante no acidente foi uma tubulação de águas pluviais que teria se rompido sob a região da Rua Capri e "lubrificado" o solo. O bloco de rocha cuja dimensão era desconhecida tinha rupturas, de acordo com o laudo, que eram preenchidas por argila e outros materiais, assim como o entorno do maciço. Todo esse material teria sido umedecido pela água, o que teria facilitado o deslizamento.

O Metrô informou que "somente poderá se manifestar a respeito da investigação, que se encontra, atualmente, em fase de coleta de provas, após a sua conclusão". O IPT também não quis se manifestar sobre o laudo divulgado pelo consórcio.

Inversão
Pellegrini comentou também a informação de que a abertura do túnel não seguiu as determinações do projeto e teria sido invertido o sentido de escavação. "Em momento algum houve inversão. De lá para cá, ou daqui para lá, era uma decisão exclusiva do executante. O projeto permitia isso. Há uma diferença do que é indicativo e impositivo", justificou.

O desabamento das obras da Estação Pinheiros ocorreu no dia 12 de janeiro de 2007 e matou sete pessoas. A cratera engoliu quatro caminhões, dois carros e uma van que transportava passageiros. Parte da Rua Gilberto Sabino também desabou.

O promotor que investiga o acidente, Arnaldo Hossepian Júnior, disse ao SPTV que vai analisar o laudo, mas adiantou que o documento não é definitivo. "Não vejo nada de definitivo. Eventualmente poderá se concluir que foi uma obra da natureza, sem responsabilidade por parte das pessoas envolvidas. Se isso ficar caracterizado no final da investigação, não há problema nenhum", disse.

Laudo encomendado por consórcio culpa rocha por desabamento no Metrô
Conclusão é de consultor independente e foi apresentada nesta quinta (27).
Ministério Publico solicitou laudo ao IPT, que ainda não foi divulgado.


Fonte: Luciana Bonadio

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Por:  Alexandre Costa Pereira    |      Imprimir