Categoria Policia  Noticia Atualizada em 04-04-2008

Promotor reforça hipótese de crime no caso Isabella
Em entrevista coletiva, ele disse haver dúvidas sobre depoimento de casal
Promotor reforça hipótese de crime no caso Isabella
Foto: G1

O promotor Francisco José Taddei Cembranelli, que acompanha as investigações sobre a morte de Isabella Nardoni, de 5 anos, definiu, em entrevista coletiva na manhã desta sexta-feira (4), como "fantasiosos" trechos dos depoimentos dados à polícia por Alexandre Nardoni e Anna Carolina Trotta Peixoto Jatobá, pai e madrasta da menina.

"Existem muitas contradições dentro do inquérito, muitos pontos obscuros a serem esclarecidos", afirmou. De acordo com o promotor, as versões de Nardoni e Anna Carolina apresentaram divergências com relação à seqüência dos fatos. Cembranelli disse ainda que o casal não foi indiciado e reforçou que a investigação deve ser feita com cautela.

O promotor afirma que detalhes contados pelo casal a testemunhas logo após o incidente não foram confirmados. Ele citou como exemplo a versão de que o apartamento havia sido arrombado. A perícia comprovou que não havia sinais de invasão no local. A informação de que o imóvel teria sido arromabado não foi relatada à polícia na delegacia, mas dita pelo pai de Isabella a testemunhas logo após o incidente. "O apartamento não foi arrombado, não havia ninguém dentro do apartamento", disse.

Cembranelli não descartou a possibilidade de realizar uma acareação entre testemunhas e o casal para esclarecer pontos divergentes. Entretanto, ele não deu detalhes acerca das possíveis contradições.

Vestígios de sangue
Outro ponto citado pelo promotor foi a omissão do casal nos depoimentos à polícia de que havia sangue na residência. Cembranelli afirma, com base no inquérito, que havia sangue na entrada do apartamento, na rede de proteção pela qual Isabella teria sido arremessada e no quarto dos irmãos.

Essas amostras serão comparadas ao sangue colhido de Isabella, de seu pai e da madrasta. Também foi colhido urina do casal para exame toxicológico, que vai apontar se eles teriam ingerido bebida alcoólica no sábado.

O promotor também negou que, no depoimento à polícia, Alexandre Nardoni tenha mencionado a existência de um ladrão ou alguém que possa ter invadido seu apartamento. "Não existe menção a fugitivo algum. Essa é uma história que foi contada no momento que ele desceu e teria gritado para o porteiro, para os vizinhos, para as pessoas que tentavam socorrer a menina, de que havia um ladrão no apartamento."

O promotor descartou que a morte de Isabella tenha sido um acidente. "A menina não cortou a rede e se arremessou. Não há dúvidas que é um crime. Ainda tentamos apurar de quem é a responsabilidade", disse.

Também, de acordo com ele, foram anexados ao inquérito boletins de ocorrência relativos ao casal. Cembranelli não deu detalhes sobre o conteúdo dos registros policiais, mas revelou que, entre eles, há um registro em que a mãe de Isabella diz ter sido ameaçada por Alexandre Nardoni.

Na opinião do promotor, nenhuma hipótese será descartada na fase investigativa. Entre elas, será investigada inclusive a possibilidade de a criança não ter sido arremessada da janela, mas colocada no jardim do prédio, onde foi encontrada e socorrida. Também devem ser esclarecidos o momento em que a família chegou ao prédio e subiu ao apartamento.

Testemunhas relataram à polícia, segundo Cembranelli, terem ouvido a discussão de um casal cerca de cinco minutos antes de o corpo da garota ser encontrado. Não se sabe de quem eram as vozes. Também foram ouvidos por mais de uma pessoa gritos de uma criança que dizia "Pára, pai! Pára, pai". Se seria um pedido de socorro ao pai ou para que ele parasse suposta agressão, o promotor diz: "(Sobre) a entonação (dos gritos), cada um conclui à sua maneira".

De acordo com o inquérito, o casal teria chegado ao prédio por volta das 23h30 e o porteiro diz ter ouvido um "barulho seco", semelhante ao som de uma porta corta-fogo batendo, que seria da queda de Isabella, entre 23h45 e 23h55.

Segundo a versão dada pelo pai à polícia, se passaram não mais que 5 ou 7 minutos o período em que ele leva a criança para o apartamento, retorna ao carro e volta a subir para o apartamento no 6º andar.

Cembranelli, que acompanha as investigações, estima que o inquérito possa ser concluído em menos de 30 dias. "Não haverá demora na conclusão das investigações."

Versões
O pai de Isabella e a mulher dele se entregaram à polícia na quinta-feira (3). No mesmo dia, os dois divulgaram cartas reafirmando a própria inocência. "Todos estão me julgando sem ao menos me conhecer. Não faria isso com ninguém, muito menos com minha filha. Amo a Isabella incondicionalmente e prometi a ela, em frente ao seu caixão, que, enquanto vivo, não sossego enquanto não encontrar esse monstro", escreveu o pai.

De acordo com Alexandre, no dia em que Isabella morreu a família voltava de um jantar. O pai teria subido primeiro, com a menina, que dormia, no colo e a deixado no quarto. Em seguida, teria retornado à garagem para ajudar a mulher dele, Anna Carolina, a subir com os outros dois filhos.

Nardoni afirma que deixou o imóvel trancado depois de colocar a menina na cama. Quando subiu, viu que ela não estava no cômodo e percebeu que a tela de proteção na janela estava rasgada. Em seguida, relatou ter visto o corpo da criança no jardim. Ele sustenta a versão de que alguém entrou na casa, possivelmente para assaltar, mas a polícia diz que nada foi roubado.

O casal teve a prisão temporária decretada na quarta-feira (2) pelo 2º Tribunal do Júri do Fórum de Santana. Segundo o delegado-adjunto do 9º Distrito Policial (Carandiru), Frederico Rehder, os advogados do casal foram notificados da decisão no final da noite de quarta. De acordo com a assessoria de imprensa do Tribunal de Justiça (TJ), a prisão é de 30 dias e pode ser prorrogada por mais 30.

No mesmo dia, pela terceira vez, peritos do Instituto de Criminalística (IC) foram ao prédio de Nardoni, na Zona Norte, onde Isabella morreu. Desta vez, eles usaram equipamentos sofisticados para encontrar pistas que ajudem a desvendar o caso.

Após se entregarem, Nardoni e Anna Carolina foram levados a delegacias diferentes. O pai de Isabella foi levado ao 77º Distrito Policial, em Santa Cecília, e a madrasta da menina foi para o 89º Distrito Policial. Ambos estão sozinhos na cela. Segundo a polícia, a medida busca manter a integridade física do casal.

Promotor reforça hipótese de crime no caso Isabella
Em entrevista coletiva, ele disse haver dúvidas sobre depoimento de casal.
Pai e madrasta foram levados para delegacias distintas na noite de quinta-feira (3).

Fonte: Silvia Ribeiro

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Por:  Alexandre Costa Pereira    |      Imprimir