Categoria Opinião  Noticia Atualizada em 07-04-2008

BALíO DE ENSAIO
No filme, Jack Nicholson é um milico linha dura que não se importa em cometer/acobertar crimes em nome da "segurança nacional".
BALíO DE ENSAIO

Dilma Rousseff apareceu na tevê com freqüência essa semana. Ela espumava de ódio. Falava grosso. Agitada, falava errado, como seu patrãozinho no dia-a-dia. Ao ver Dilma Rousseff naquele estado de espírito, me lembrei de um filme de 1992 estrelado por Tom Cruise, Demi Moore e Jack Nicholson. "Uma Questão de Honra" ("A Few Good Men", no original em Inglês), foi dirigido por Rob Reiner.

No filme, Jack Nicholson é um milico linha dura que não se importa em cometer/acobertar crimes em nome da "segurança nacional". Enquanto isso, intimida os outros o suficiente com seu comportamento durão e seu discurso reaça para não permitir que eles descubram suas travessuras criminosas. Tom Cruise entra em cena e aporrinha o militar tanto, mas tanto, que ele acaba explodindo. Espumando de raiva - tal como Dilma, acaba reconhecendo ser o responsável pelo crime cometido que dá suporte à boa trama de Hollywood.

Dilma Rousseff parece usar a mesma tática. Ela fecha a cara, fala grosso - até se parece um pouquinho com Nicholson, para falar a verdade - e vocifera. Quando ela vocifera, ela parece esperar que todos se amedrontem e corram em busca de abrigo. Só que ao vociferar enquanto assassina a concordância, Dilma Rousseff também fala incongruências.

E, como se sabe, jornalista tem parte com o diabo. Essas máquinas que gravam a voz dos outros são uma desgraça para quem não tem um discurso coerente. Nesse caso, por exemplo, o jornal Folha de S. Paulo chama atenção para o fato de que a chefe da Casa Civil "aponta adulteração em fragmento" (de uma planilha Excel) "cuja autenticidade já havia sido confirmada pela equipe de seu próprio ministério." Vai ver que é por isso que Stálin não tolerava gravadores nem copiadoras.

No fundo, no fundo, parece que era exatamente isso que o patrãozinho de Dilma Rousseff queria ver. Será que ela teria o "Right Stuff" (outro bom filme, aliás, cujo título se encaixa bem nesta linha) para enfrentar as agruras de uma campanha presidencial? Afinal de contas, uma patuscada em torno de um dossiê de terceira categoria é só o começo.

Na eventualidade de uma candidatura presidencial, a "oposição" começaria a levantar e comentar sua vida pregressa - especialmente os capítulos de sua dedicação à luta armada - para atazanar sua existência. Tudo indica, porém, que o pavio de Dilma Rousseff é muito curto. Por algum motivo, ela não é feita do mesmo material dos outros que, acostumados com a dureza da repressão de outrora, hoje se refestelam no conforto do ambiente democrático para mentir deslavadamente sobre tudo, certos de que não há nenhum pau-de- arara na delegacia mais próxima esperando por eles. Dilma é diferente. Na primeira trombada, ela explode.

Esse balão de ensaio habilmente levantado pelo sagaz patrãozinho de Dilma Rousseff me leva, naturalmente, ao passo seguinte desse tabuleiro de xadrez. Com Dilma (talvez) descartada por sua. digamos assim, excessiva impetuosidade, além de sua reconhecida incapacidade de falar para o populacho - você sabe, os 75% de analfabetos funcionais que dão suporte ao que está aí - é hora de ressucitar a alternativa de um terceiro mandato para o atual ocupante do cargo. Os jornais não param de falar nisso. Um colunista bem informado diz em seu blog que esse é o "plano A" do principal partido que dá sustentação ao desgoverno - você sabe, aquele partido do mensalão, dos dólares na cueca, aquele partido do melado que lambuza, encanta e vicia a todos.

A "metamorfose ambulante" que assombra o Planalto atualmente e que em breve se muda para o Palácio do Buriti, mais acima na mesma avenida, não teria, absolutamente, problema nenhum em se desdizer, em mudar de idéia, em se esquecer de que um dia disse que não pretende um terceiro mandato, que isso atenta contra a Constituição. Afinal, essa conveniente "metamorfose" já se manifestou inúmeras vezes antes, para alegria e desespero de seus próprios aliados.

É hora de abrir o olho. Uma vez constatada, em maior ou menor grau, a venalidade dos três poderes, a possibilidade de uma chavização à brasileira é cada vez mais concreta. É preciso proteger, de alguma forma, o que resta do Brasil daqueles que têm sede de poder apenas pelo poder (e, principalmente, pelo imenso e abarrotado cofre que ele traz consigo).

Fonte: O Autor
 
Por:  Claudio Lessa    |      Imprimir