Categoria Policia  Noticia Atualizada em 10-04-2008

Encerrada primeira audiência do caso da menina torturada
Empresária foi recebida sob vaias quando chegou ao fórum em Goiânia
Encerrada primeira audiência do caso da menina torturada
Foto: Reprodução

Acusadas de co-autoria nos crimes de tortura, maus-tratos e cárcere privado cometidos contra uma menina de 12 anos, em Goânia, a empresária Sílvia Calabresi Lima e a empregada Vanice Maria Novaes atribuíram uma à outra a responsabilidade pelo crime, durante interrogatório nesta quinta-feira (10), pelo juiz José Carlos Duarte, da 7ª Vara Criminal de Goiânia.

De acordo com a assessoria de imprensa do Tribunal de Justiça de Goiás, Marco Antônio Calabresi Lima, Thiago Calabresi Lima e Joana D Arc da Silva se valeram do direito constitucional de permanecer em silêncio. Os dois primeiros são acusados por omissão e tortura e a terceira, por ter entregue a filha em troca de dinheiro. As defesas dos três pediram a suspensão condicional dos processos. O juiz apreciará os pedidos nos próximos dias.

Segundo informações do TJ, a primeira a ser interrogada foi Sílvia, que chegou à audiência com forte escolta de policiais militares e, mesmo assim, um grupo de pessoas tentou agredi-la. Ao juiz, assumiu parte da responsabilidade pelo crime, sustentando que era bastante enérgica com a menina de 12 anos. Ela acreditava que estava educando e não torturando.

Ciúmes
Por outro lado, atribui a maior parte dos atos a Vanice que, a seu ver, tinha ciúmes porque era empregada da casa enquanto a menina torturada era tratada como filha.

Segundo Sílvia, a convivência com a menina foi tranqüila por cerca de dois anos. Após esse período, ela teria sido informada por Vanice que a menina vivia batendo boca a mãe adotiva da funcionária, uma mulher idosa e que sofre de hipertensão. A partir daí, passei a corrigi-la de forma mais firme.

Ainda de acordo com o TJ, a empresária, durante o interrogatório, admitiu que machucou a língua da menina com um alicate para ensiná-la a não discutir com a idosa. Afirmou ainda que provocou as lesões nos dedos da garota quando descobriu que a menina havia feito o mesmo com seu filho, de três anos. Fiz aquilo para que ela percebesse o quanto dói.

Agressões
A assessoria de imprensa do TJ informou que a empresária negou ter acorrentado ou mantido a menina de 12 anos por vários dias sem alimentação, oferecendo-lhe fezes e urinas de animais. Também negou ter amordaçado e usado pimenta e esparadrapo na boca dela. Se isso aconteceu, nunca chegou a meu conhecimento.

Segundo o TJ, Sílvia disse que batia na vítima, mas sempre com chinelos ou cintos e jamais com tamancadas ou marteladas. Ela negou ter sufocado a menina com um saco plástico com a ajuda de Vanice.

Contradições
O TJ informou ainda que Vanice negou a prática dos crimes e que sabia das agressões de Sílvia contra a menina. Ela disse que a empresária controlava a alimentação da menina, de modo que se tomasse café, não almoçava; se almoçasse, não jantava. No depoimento, ela disse que a menina chegou a ficar quatro dias sem comer.

A doméstica admitiu ter segurado as pernas da menina enquanto a empresária a sufocava com um saco plástico. Ela justificou sua atitude dizendo que Sílvia lhe fazia ameaças de morte. Também foi essa a explicação que deu para o fato de ter colocado pimenta na boca da menina para, em seguida, amordaçá-la.

Sílvia amarrou a menina com correntes por várias vezes e a deixava nessa situação por cerca de meia hora. Vanice disse que no dia da prisão em flagrante fora ela mesma quem havia amarrado a garota, a mando da patroa. Ela disse estar arrependida de não ter denunciado o caso antes. Ela afirmou que somente delatou a ex-patroa quando esta tentou tomar para si seu bebê, de apenas 5 meses.

Mãe biológica
Segundo o depoimento da empresária, a menina passou a morar em sua casa a pedido de Joana D Arc, que frequëntava sua residência semanalmente. Ela tinha outros filhos para criar e me perguntou se eu poderia ficar com a garota por uns tempos, por isso aceitei. Não houve pagamento, nem da minha parte, nem da dela.

Sílvia confirmou, no entanto, que chegou a pagar a conta de luz de Joana D Arc por duas ou três vezes e também uma viagem dela. Vanice garantiu que a mãe biológica da vítima recebia R$ 100 mensais da empresária.

A empresária disse que se sente arrependida não somente com o caso, mas com a forma como educou seus dois filhos maiores. Fui molestada sexualmente desde pequena. Mudei de orfanato várias vezes, sofri muito. Acho que é por isso que sempre fui muito firme e peguei pesado em algumas ocasiões, inclusive com meus próprios filhos.

Encerrada primeira audiência do caso da menina torturada. Empresária foi recebida sob vaias quando chegou ao fórum em Goiânia.

Fonte:

Acesse o G1

 
Por:  Felipe Campos    |      Imprimir