Categoria Geral  Noticia Atualizada em 18-04-2008

Prefeitos presos pela PF contam como foram os dias na cadeia
Cinco de 17 prefeitos presos na Opera��o Pas�rgada relataram experi�ncia ao G1
Prefeitos presos pela PF contam como foram os dias na cadeia
Foto: Emmanuel Pinheiro/ O Estado de Minas / Ag�ncia O Globo

Conversar com a fam�lia por meio de grades, andar algemado, comer marmita de pres�dio, dormir em cela sem colch�o e ficar sabendo de not�cias pelos outros presos s�o algumas das experi�ncias relatadas por cinco dos prefeitos que ficaram tr�s dias presos na semana passada em raz�o da Opera��o Pas�rgada, da Pol�cia Federal.

Dezessete prefeitos � 15 de Minas Gerais e dois da Bahia � foram detidos na quarta (9) e quinta-feira (10) acusados de integrar um esquema de libera��o irregular de verbas do Fundo de Participa��o dos Munic�pios (FPM). Foram soltos no s�bado (12).

Nove prefeitos mineiros foram alojados de dois em dois no pres�dio Nelson Hungria, em Belo Horizonte. Entre eles estavam Demetrius Arantes Pereira (PSC), de Divin�polis; J�lio Cesar de Almeida Barros (PT), de Conselheiro Lafaiete; Geraldo Nascimento (PT), de Tim�teo; e Ademar Jos� da Silva (PSDB), de Vespasiano.

O prefeito de Conselheiro Lafaiete narrou que aos prefeitos mineiros em Belo Horizonte n�o foi concedida televis�o e, portanto, eram os presos das outras celas que contavam, por meio das grandes, o que a m�dia divulgava.

"Eles (outros presos) tinham TV e contavam o que passava. Era assim que fic�vamos sabendo. (...) Nos chamavam de pessoal da Federal, falavam que �amos ficar pouco tempo presos porque t�nhamos instrumentos jur�dicos. Eles sentiram o m�ximo. Ficavam falando dos problemas deles."

A experi�ncia da pris�o, segundo J�lio Cesar de Almeida Barros, pode ser comparada a um "tsunami". "Eles invadem sua casa e voc� � levado algemado. Passa por um depoimento de oito horas. Da PF, � transferido para um pres�dio. Chega l� e a marmita, que geralmente � servida �s 11h, atrasa. Os demais presos ficam revoltados. Parece que foi orquestrado. A cela n�o tinha �gua quente, n�o tinha colch�o, sente frio e n�o tem cobertor. Fica impotente. Alguns desabam, ficam chorando. Outro fica com press�o alta", contou Barros.

O prefeito de Conselheiro Lafaiete disse ter levado quatro livros para o pres�dio e n�o ter lido nenhum. "A maioria ficou conversando muito do processo. Cada um falando das a��es dos advogados."

Para Barros, alguns dos prefeitos devem entrar com a��es de perdas e danos. "Eu n�o (devo entrar com recurso). Tenho vis�o para frente. Que a vida vai continuar. Que a experi�ncia sirva para mim, embora eu n�o tenha cometido erros. Que sirva para mostrar que devo ficar mais atento aos contratos, no dia a dia."

Ademar Jos� da Silva, de Vespasiano, foi o �nico mineiro preso fora do estado. "Eu estava em Bras�lia levando uma reivindica��o. Quando soube que a PF estava aqui, resolvi voltar. Assim que cheguei no aeroporto, a PF me prendeu. Fui conduzido algemado, � o trabalho deles. (...) A gente n�o gostaria que acontecesse, ningu�m gosta. Tivemos de ser tratados como todos os outros."

Marmita de pres�dio
Silva afirmou que, quando chegou ao pres�dio, n�o sabia quem eram os outros presos. "�s vezes tinha coment�rio sobre o caso. Inicialmente eu n�o conhecia os outros prefeitos. Eu n�o sabia de onde eram, quais cidades. Depois ficamos sabendo (...) A gente comeu o que todo mundo l� come: arroz, feij�o, carne, legumes", contou. "Eu n�o gostaria de ter passado por isso (ser preso), mas a gente tem de erguer a cabe�a e seguir em frente."

O prefeito de Tim�teo, Geraldo Nascimento, disse que a a��o policial foi "desumana". "N�o tinha televis�o. A cela era precar�ssima, o local indecente, n�o teria condi��o de receber televis�o. Minha fam�lia acompanhou o fato policial desumano e desnecess�rio com todo respeito �s acusa��es e apura��es da Pol�cia Federal."

Montes Claros
Na cadeia p�blica de Montes Claros, a 420 quil�metros da capital mineira, ficaram seis prefeitos de cidades do norte mineiro, entre eles Claudemir Carpe (PT do B), de Rubim.

Ele relatou que teve a intimidade "abalada" com a pris�o. "Eu estava em casa, e 6h15 tocou a campainha. (A PF) chegou entrando porta adentro e revirando tudo. Mexeram at� na geladeira. Os meus filhos ficaram chocados. N�o espero que aconte�a isso com nenhum cidad�o, ainda mais cidad�o de bem", disse Carpe. Ele afirmou que pode questionar judicialmente a a��o porque sua "intimidade ficou totalmente abalada".

Ele contou ao G1 que conversou com seu advogado e com a esposa por uma janela gradeada, "onde conseguia contato apenas pelas pontas dos dedos".

Segundo Carpe, outros cinco prefeitos foram presos junto com ele. "No princ�pio n�o entendemos nada, temos tivemos acesso a jornais e no segundo dia eles liberaram uma TV." "Nos assustava quando v�amos que a pris�o podia ser prorrogada ou que podia ser decretada pris�o preventiva."

Salmos
Segundo o prefeito, todos comeram a comida fornecida pelo pres�dio: "arroz, feij�o, carne, �s vezes frango. Por sinal, a comida n�o era ruim". Carpe narrou que conseguiu uma B�blia. "Li salmos para eles (outros prefeitos) e isso a� acalmou um pouco." Ele diz tamb�m que emprestou a B�blia para outros prefeitos.

Claudemir Carpe afirmou discordar da forma que ocorreram as pris�es. "Sou cidad�o a favor da Justi�a. Mas traumatizar a pessoa a ponto de ficar como ficamos. Se f�ssemos pessoas com antecedentes, a gente at� entenderia. Temos endere�o fixo, se eles intimassem, ningu�m ia deixar de comparecer."

Pol�cia Federal
Segundo a assessoria de imprensa da Pol�cia Federal de Minas Gerais, que coordenou a opera��o, "a a��o tem de ocorrer com pris�es simult�neas para evitar que os suspeitos destruam provas e n�o tentem fugir".

Sobre os prefeitos que dizem que tiveram direitos violados, a assessoria da PF informou que "n�o � praxe da institui��o desrespeitar os direitos b�sicos do cidad�o, que consistem em saber qual o motivo da pris�o, fazer contato com o advogado e com a fam�lia".

A assessoria explicou que, se algum prefeito se sentiu lesado em seus direitos, deve solicitar ao advogado que entre com a medida judicial espec�fica para o caso.

Prefeitos presos pela PF contam como foram os dias na cadeia. Cinco de 17 prefeitos presos na Opera��o Pas�rgada relataram experi�ncia ao G1.

Fonte:

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Por:  Felipe Campos    |      Imprimir