Categoria Politica  Noticia Atualizada em 21-04-2008

Eleito, Lugo terá muito mais do que uma Itaipu pela frente
Na área social, presidente eleito contará com reforço da irmã no papel de primeira-dama
Eleito, Lugo terá muito mais do que uma Itaipu pela frente
Foto: Atilio Fernandez/Reuters

Itaipu pode estar no centro da pauta de Fernando Lugo. Mas o ex-bispo e recém-eleito presidente do Paraguai (ele assume em 15 de agosto próximo) terá muito mais trabalho do que tentar renegociar o contrato com o Brasil.

Lugo pegará um governo viciado em Partido Colorado. Há 61 anos que o PC está no poder, contando aí tempo em que Alfredo Stroessener ficou como ditador.

O ex-bispo tem pela frente o país mais carente do Mercosul e que tem cerca de um terço da população vivendo abaixo da linha da pobreza. O número de crianças pedindo esmola e fora das escolas é alto no país.


Na parte social, contará com o reforço da irmã, Mercedes, que fará o papel de primeira-dama.

Vida religiosa de lado
Aos 56 anos, Lugo deixou a vida religiosa e entrou na política há dois anos com o ideal e o discurso de "mudança". Ele já avisou, porém, que deixará o cargo em 2013. A afirmação foi antes de ter oficializado que seria o novo presidente.

Tal atitude rendeu ao agora novo presidente uma suspensão "a divinis" da Santa Sé, que significa, segundo o Código de Direito Canônico, que o "sacerdote ou bispo continua obrigado aos deveres a ele inerentes, embora suspenso do ministério sagrado".

Na economia, Lugo terá que melhorar não tanto o controle da inflação, mas aumentar o emprego e tentar trazer mais empresas. Ele já discursou que quer fazer valer a reforma agrária, o que pode afetar os brasiguaios, brasileiros que detêm grandes e na maioria das vezes produtivos terrenos no país.

Para tudo isto, porém, ele, que nasceu colorado por influência dos pais, terá que saber que lidar com o gostinho de não ser mais a oposição. Juntamente com os integrantes dos vários partidos que culminou na Aliança Patriótica pela Mudança, entre eles o tradicional Partido Liberal.



Itaipu
O ex-bispo disse ainda que vai renegociar a maneira como o Paraguai vende a energia elétrica da represa binacional de Itaipu ao Brasil para estipular "um preço de mercado".



Ele alega que os US$ 300 milhões pagos pelo Brasil anualmente são irrisórios quando na realidade deveria pagar entre 1,5 a 2 bilhões de dólares, a preço de mercado. A direção brasileira da represa diz que paga conforme o que está escrito no contrato, que vai até 2022.

Por usar apenas 5% da energia, o Paraguai vende os 45% restantes ao Brasil a um preço fixado em um acordo de 1973.



Mais sobre Fadul
Lugo nasceu em 30 de maio de 1951, em San Solano, no distrito de San Pedro del Paraná, departamento (estado) de Itapúa, 400 km ao sul de Assunção.

Filho de Guillermo Lugo e Maximina Mendez Fleitas, teve parte de sua família sofrendo com a repressão durante a ditadura de Alfredo Stroessner, que durou de 1954 a 89.

Em março de 1970, ingressou no Noviciado dos Missionários do Verbo Divino. Em setembro de 1972, professou seus votos nessa congregação missionária, em Assunção. Três anos depois, fez votos perpétuos.

Paralelamente, formou-se em Ciência Religiosa na Universidad Católica Nuestra Señora de la Asunción, na capital paraguaia.

Ordenou-se sacerdote em 15 de agosto de 1977, e, posteriormente, seguiu para o Equador para trabalhar como missionário na diocese da província de Bolívar, onde foi professor e pároco das localidades de Guaranda e Echeandía, onde começou a ter contato e a se identificar com a Teologia da Libertação.

No Equador, trabalhou com o monsenhor Leonidas Proaño, um dos expoentes dessa corrente religiosa, que tem ainda como um de seus líderes o brasileiro Leonardo Boff. Proaño era conhecido na região como "o bispo dos pobres".

Em meados de 1982, retornou ao Paraguai, e no ano seguinte viajou para Roma para realizar estudos de Espiritualidade e Sociologia, graduando-se em Doutrina Social da Igreja na Pontifícia Universidade Gregoriana.

Foi membro da Comissão Doutrinal da Conferência Episcopal Paraguaia e da equipe de Reflexão Teológica do Conselho Episcopal Latino-americano (Celam).

Acabou ordenado bispo em 1994. No final do mesmo ano, passou a ser bispo emérito, e em menos de um ano surgiu como uma figura política por suas críticas ao governo do presidente Nicanor Duarte.

Em março de 2006, Lugo liderou o movimento Resistência Cidadã, que reunia os principais partidos políticos da oposição, cinco centrais sindicais e mais de 100 associações e movimentos civis.

Em 19 desse mês, tornou-se o principal orador de uma manifestação convocada pela Resistência Cidadã que reuniu mais de 30 mil pessoas em frente à sede do Congresso, em protesto contra o governo.

No final de 2007, Lugo oficializou sua candidatura presidencial para as eleições deste domingo, encabeçando a lista da Aliança Patriótica para a Mudança (APC).

Eleito, Lugo terá muito mais do que uma Itaipu pela frente. Na área social, presidente eleito contará com reforço da irmã no papel de primeira-dama.

Fonte:

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Por:  Felipe Campos    |      Imprimir