Categoria Policia  Noticia Atualizada em 25-04-2008

PF apreende cerca de R$ 1 milhão em operação
Operação Santa Tereza da PF investiga suspeitos de prostituição e fraude no BNDES.
PF apreende cerca de R$ 1 milhão em operação
Foto: www.g1.com.br

A Polícia Federal (PF) prendeu 10 pessoas durante a Operação Santa Tereza, realizada nesta quinta-feira (24). A ação tinha o objetivo de desmantelar uma organização criminosa suspeita de praticar crimes de tráfico local e internacional de mulheres e explorar prostituição. O grupo também é suspeito de fraudes em concessão de empréstimo junto ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).

Com os detidos na operação foram apreendidos veículos, documentos e cerca de R$ 1 milhão, somando-se cheques, dólares e reais. De acordo com o delegado Ricardo Saadi, da Delegacia de Repressão a Crimes Financeiros, os financiamentos eram adquiridos junto ao banco, com a ajuda de um lobista.

Segundo a PF, ainda há um mandado de prisão a ser cumprido, porque um dos envolvidos está foragido. Entre os detidos estão o executivo da rede de lojas Marisa Boris Timoner, servidores públicos de uma prefeitura paulista, lobistas e empresários. Todos tiveram a prisão temporária decretada por cinco dias.

"As pessoas que tinham necessidade de financiamento eram procuradas por um lobista. Ele apresentava essas pessoas a outras que tinham certa influência para a liberação de verbas junto ao BNDES", disse o delegado. Segundo a PF, dois empréstimos teriam sido concedidos às prefeituras de Praia Grande e do Guarujá, no litoral paulista.

Saadi explicou que os interessados em receber os recursos tinham que procurar uma empresa de consultoria, que faria o projeto. Se ele fosse aprovado, o dinheiro era liberado. "Essa cosultoria não existiu. Era justificada com notas frias", disse o delegado Ricardo Levin, que coordenou a operação.

Prostituição
Uma casa de prostituição nos Jardins, bairro nobre da capital paulista, era um dos estabelecimentos usados para lavagem de dinheiro. Os policiais não quiseram detalhar como cada um dos presos atuava no esquema nem mesmo como o dinheiro supostamente desviado era dividido entre eles.

Os empréstimos para as prefeituras eram justificados com obras de saneamento básico e reparo de calçadas. Já a rede varejista usaria a verba para expansão de lojas. Saadi ressaltou que, até o momento, não há comprovação da participação de funcionários do BNDES no esquema. Ainda de acordo com o delegado, o banco fará uma auditoria para apurar possíveis fraudes nos empréstimos.

A PF segue nas investigações. A rede de lojas Marisa teria pedido ao banco R$ 220 milhões e uma das prefeituras, R$ 130 milhões. Nos dois casos, o dinheiro era divido em parcelas. A suspeita é de que o desvio era de 4% em cada prestação. A PF não informou o valor das parcelas nem quantas foram pagas.

De acordo com o delegado Saadi, o sócio majoritário da casa de prostituição é dono de uma construtora que faz obras para a prefeitura investigada. "Talvez, sem licitação", frisou ele.

A polícia também comprovou o tráfico interestadual e até internacional de mulheres. Pelo menos cinco garotas de programa teriam viajado para a Suíça. A rede de prostituição no Brasil envolvia permuta de mulheres em Goiás, Rio de Janeiro e Florianópolis. Em cada cidade, havia agenciadores.

Os crimes envolvidos neste caso são: desvio de verbas, fraudes em licitações, lavagem de dinheiro, formação de quadrilha, manutenção de casa de prostituição, tráfico de mulheres e prostituição.

A prefeitura de Praia Grande negou que tenha contraído empréstimo do BNDES por meio de consultorias e disse que tem contrato assinado diretamente com o banco. Já a administração municipal do Guarujá informou que não tem empréstimos em vigor com o BNDES.

Em nota, a loja Marisa afirmou que Boris Timoner não é funcionário da empresa, mas sim de uma companhia que presta serviços à rede varejista.

Improcedentes
Um dos detidos na operação é o advogado Ricardo Tosto, que teve entre seus clientes o deputado federal Paulo Maluf (PP-SP). Tosto faz parte do Conselho de Administração do banco, cujos integrantes são nomeados pelo presidente da República e indicados por ministros de Estado.

No fim da tarde, o Escritório de Advocacia Leite, Tosto e Barros divulgou nota (leia a íntegra) na qual critica a ação da polícia e afirma que "não há o mais remoto fundamento nas imputações feitas". A nota afirma que as operações em que uma empresa e uma prefeitura "teriam supostamente sido beneficiadas por empréstimos do BNDES aconteceram antes de o advogado Ricardo Tosto integrar o Conselho do banco".

Nesta tarde, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) se colocou à disposição da Polícia Federal (PF) para colaborar com as investigações da Operação Santa Tereza. A posição do banco foi divulgada em nota (leia a íntegra).

Prostíbulo
De acordo com as investigações, que tiveram início em dezembro de 2007, os suspeitos mantêm uma casa de prostituição na capital, que teria faturamento alto e traficaria mulheres no país e no exterior.

A Polícia Federal acredita que o prostíbulo se mantém em funcionamento porque seus proprietários oferecem vantagens ilícitas a autoridades e servidores públicos responsáveis pela fiscalização.

BNDES
O esquema de desvio de verbas de financiamento do BNDES foi descoberto ao longo das investigações. A PF informou, por meio de sua assessoria de imprensa, que uma quadrilha – composta por empresários, empreiteiros, advogados e servidores públicos – é suspeita de obter empréstimos do banco e desviar parte dos valores em benefício próprio.

O desfalque de dinheiro é justificado ao BNDES com a apresentação de notas fiscais falsas, de serviços de consultoria empresarial que não se realizaram. As investigações indicam também evidências de práticas de licitações fraudulentas em, pelo menos, duas prefeituras paulistas.

Veja a íntegra da nota do BNDES:
"O BNDES tomou conhecimento hoje da operação Santa Tereza, desencadeada pela Polícia Federal. Em respeito aos princípios de transparência e rigor na utilização dos recursos públicos sob sua responsabilidade, o Banco informa que já se colocou à disposição da PF para colaborar com as investigações e tem o máximo interesse no rápido esclarecimento dos fatos. O BNDES aguarda a divulgação pela PF das operações do Banco que possam ter sido objeto de ação supostamente criminosa para, a partir daí, providenciar a suspensão imediata dos desembolsos dos financiamentos que estiverem sob investigação, bem como adotar medidas legais que possam ser necessárias."

"O Escritório de Advocacia Leite, Tosto e Barros repele vigorosamente a acusação produzida contra um de seus sócios, o advogado Ricardo Tosto, e divulgada com espalhafato irresponsável pela Polícia Federal nesta quinta-feira (24/4). Não há o mais remoto fundamento nas imputações feitas.

Não se justifica essa investida truculenta contra um cidadão conhecido, com endereço fixo e sem qualquer antecedente criminal, jamais solicitado a prestar qualquer esclarecimento sobre dúvidas que pairassem a respeito de sua atuação nesta investigação. As atitudes policiais e judiciais não encontram sustentação num estado democrático de direito.

As operações em que uma empresa e uma prefeitura teriam supostamente sido beneficiadas por empréstimos do BNDES aconteceram antes de o advogado Ricardo Tosto integrar o Conselho do banco, não tendo, nem remotamente, a sua participação. A bem da verdade, o advogado Ricardo Tosto nem conhece os beneficiários destas operações.

A associação absurda com "prostituição e tráfico internacional de mulheres" é uma aberração. É de se esclarecer ainda que conselheiros do BNDES não têm qualquer função executiva na instituição. Seu papel é consultivo. Sua função é a de debater a política institucional da agência de financiamentos. Revela-se verdadeira ofensa a essa instituição, supor que qualquer colaborador, de seu corpo altamente técnico, participasse de qualquer negócio escuso.

Nenhuma alegação justifica esse lamentável episódio. Os responsáveis por essa violência inadmissível responderão por seus atos."

PF apreende cerca de R$ 1 milhão em operação
Operação Santa Tereza da PF investiga suspeitos de prostituição e fraude no BNDES.
Dez mandados de prisão temporária foram cumpridos nesta quinta-feira (24).


Fonte: Carolina Iskandarian

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Por:  Alexandre Costa Pereira    |      Imprimir