Categoria Policia  Noticia Atualizada em 20-05-2008

Polícia investiga carros com placas iguais no crime
Um deles pode ter sido usado na execução de Alcides Iantorno. Cabral diz que investigação criminal é a prioridade de governo.
Polícia investiga carros com placas iguais no crime
Foto: Reprodução/Tv Globo

A polícia apreendeu nesta segunda-feira (19) dois carros com a mesma placa do veículo usado na morte do delegado Alcides Iantorno, da 20ª DP (Vila Isabel), na manhã de domingo (18) no Recreio dos Bandeirantes, Zona Oeste do Rio. O delegado foi morto quando estava entrando em um supermercado no bairro. Segundo o secretario de Segurança, José Mariano Beltrame, a polícia já tem hipóteses e suspeitos para o crime.

Os investigadores acreditam que a placa de um deles, apreendido em Cabo Frio, na Região dos Lagos do Rio, pode ter sido clonada pelos criminosos. O despachante que regularizou os documentos do veículo foi obrigado a prestar depoimento nesta tarde na Delegacia de Homicídios (DH).

Os computadores do despachante foram apreendidos pelos agentes e serão periciados. Segundo as investigações, ele é ex-policial militar e tem, pelo menos, 21 anotações criminais por estelionato.

Para a polícia, a morte de Iantorno tem características de execução cometida por pistoleiros e, numa primeira hipótese, estaria relacionada com a atuação de milícias.

Nesta tarde foi feita uma reunião com mais de 50 delegados do Rio, na Academia de Polícia, no Centro da cidade. O chefe da Polícia Civil, Gilberto Ribeiro, determinou que o caso não fosse comentado até que seja resolvido.

Delegado foi atingido na nuca
As investigações iniciais mostram que foram feitos alguns disparos. Um projetil atingiu o delegado na nuca quando, segundo relatos de testemunhas, ele entrava no supermercado Zona Sul, da Avenida das Américas, no Recreio dos Bandeirantes, uma das mais movimentadas da região. Os outros teriam sido disparados para o alto.

O local está isolado pela polícia, que vai usar as imagens do circuito interno para tentar identificar quem fez os disparos. A qualidade do material estaria dificultando o trabalho policial, mas já está com a perícia. A polícia tenta melhorar as imagens.

Cabral: prioridade absoluta à investigação do assassinato
Em Paris, durante visita oficial à cidade, o governador Sérgio Cabral falou sobre a investigação do crime. Disse que o governo está dando prioridade absoluta à investigação do assassinato.

"O Rio está triste com a morte desse delegado, que era uma referência na Polícia Civil. Nada vai deter a nossa política de combate aos criminosos. Enfrentamos bandidos ligados ao tráfico de drogas, a milícias, à contravenção e a todo tipo de atividade proibida. Vamos dar resposta a esses bandidos", declarou o governador.

Cabral disse que todo o estado sentiu a morte do delegado, assassinado covardemente.
"O que aconteceu foi muito grave: o assassinato de um delegado de polícia que estava investigando criminosos. Não vamos tolerar isso em hipótese alguma. O estado está comprometido com esta investigação", afirmou.

O governador disse ainda que tem falado permanentemente com o secretário de Segurança, José Mariano Beltrame. Segundo ele, a polícia já tem indícios importantes sobre a origem do crime.

"Tenho certeza de que brevemente chegaremos aos culpados", disse Cabral.

Enterro
Em clima de tristeza e indignação, centenas de pessoas acompanham no Cemitério Jardim da Saudade, na Zona Oeste do Rio, o enterro do delegado.

Entre eles o secretário de Segurança, José Mariano Beltrame e o chefe da Polícia Civil, Gilberto Ribeiro, que ainda não se pronunciaram sobre o crime.

"Ele ensinou muita coisa para quem está chegando agora na polícia. Estamos perdendo muito. É fundamental esclarecermos o mais rápido possível este crime. A perda não é só da família, mas de toda a instituição. A Polícia Civil vai ter que dar a resposta certa", afirmou a delegada da 12ª DP (Copacabana) Marta Rocha.

O delegado Ronaldo Oliveira, da Delegacia de Roubos e Furtos a Automóveis (DRFA), também lamentou a morto do amigo.

"O Alcides plantou raízes de competência e profissionalismo na polícia. É uma grande perda para todos nós. Todos os delegados novos aprenderam muito com ele. Com certeza vai deixar um vazio muito grande na polícia e nos nossos corações", disse ele.

Alcides Iantorno morava nas proximidades de onde aconteceu o crime e já tinha sido diretor da Polinter. A vítima deixa mulher e dois filhos. Ele se destacava à frente de sua equipe por ser um policial combativo e conhecedor das ‘manhas’ da criminalidade.

Delegado investigava milicias e bingos
Aos 66 anos, 40 destes dedicados à carreira, Iantorno enfrentava duas ramificações perigosas do crime: milícias e a exploração ilegal de casas de bingos.

Desde que assumiu a delegacia de Vila Isabel, 20ª DP, Iantorno passou a incomodar os donos de bingos da região, fechando e autuando muitos desses estabelecimentos que funcionavam ilegalmente.

Quando era titular da 22ª DP, o delegado também adquiriu alguns desafetos ao agir no confronto entre milícias e o tráfico de drogas na disputa de território na favela Kelson’s, na Penha, subúrbio do Rio.

Em maio de 2007, nove pessoas foram mortas durante invasão da favela por integrantes de uma facção criminosa. Eles haviam sido expulsos da comunidade em novembro do ano anterior pela milícia. O objetivo dos traficantes, segundo as investigações, era seqüestrar e executar três moradores: Sidinei Moreira de Azevedo, o pedreiro Noelson Ribeiro de Azevedo e Adão Mário Rodrigues Neto.

Eles teriam ‘traído’ a facção para se aliarem aos milicianos, depois que seus comparsas fugiram da favela. A conclusão foi do delegado Alcides Iantorno, que conduzia as investigações. "Morreram porque traíram o grupo. Foram retirados de suas casas, executados dentro da favela, à vista dos moradores. Os invasores não pretendiam retomar os pontos de venda de drogas que perderam, mas, sim, vingar seus ex-comparsas", disse Iantorno, na época.

O delegado descobriu ainda que os traficantes sabiam onde moravam Noelson, Adão e Sidinei. O policial declarou que chegou a pensar que o pedreiro havia sido executado apenas por ter erguido um muro na favela por ordem dos milicianos.

"Mas, quando mandei levantar a ficha criminal, descobrimos que tinha cinco passagens pela polícia e estava sendo processado pela Justiça. Noelson é autor de dois furtos, um assalto, um assalto com morte (latrocínio) e tráfico de drogas", afirmou.

O outro executado pelos traficantes, Adão, tinha passagem por uso de drogas. Quanto ao terceiro morto, Sidinei, a polícia recebeu informações de que, além de trair a facção — passando para o lado da milícia —, traiu também um ex-comparsa e ficou com sua mulher, quando o traficante foi expulso da favela pela milícia. Ele levou dezenas de tiros na região genital.

Também foi morto o cabo da PM Luiz Cláudio de Souza Vargas, do 16º BPM (Olaria), que estava de licença médica para tratamento de saúde. Seu corpo foi encontrado no porta-malas de uma caminhonete Chevrolet AD20, a poucos metros da favela. Os outros cinco foram mortos em confronto com soldados do 16º BPM, quando fugiam, em direção à Avenida Brasil.

Durante a investigação, o delegado Alcides Iantorno acusou vários policiais militares de envolvimento com a milícia.

Polícia investiga carros com placas iguais no crime do delegado
Um deles pode ter sido usado na execução de Alcides Iantorno.
Cabral diz que investigação criminal é a prioridade de governo.

Fonte:

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Por:  Alexandre Costa Pereira    |      Imprimir