Categoria Opinião  Noticia Atualizada em 23-06-2008

A LÓGICA ESTÁ ERRADA!
Esse escândalo envolvendo militares do Exército no jogo de gangues rivais do tráfico de drogas, no Rio de Janeiro...
A LÓGICA ESTÁ ERRADA!

Esse escândalo envolvendo militares do Exército no jogo de gangues rivais do tráfico de drogas, no Rio de Janeiro, preocupa não somente porque nos mostra com mais clareza que a sociedade parece um barco desgovernado e completamente inseguro, mas sobretudo porque revela a que pouca conta se chegou a ter a vida humana entre nós. Três jovens são entregues à pena de morte no submundo da favela carioca, como moedas no câmbio da vingança de militares prepotentes que colocam o crime do "desacato à autoridade" no topo da lista das gravidades, como se desonrar uma farda fosse um ato mais execrável do que usá-la tão mal. E o pior de tudo: os militares assassinos são tão jovens quanto aqueles meninos jogados às garras dos inimigos. Gente cheia de planos e de potenciais, com uma carreira inteira pela frente, de repente se vê sentada no banco dos réus – ainda que em privilegiadíssimo banco de réus – por ter cometido tamanha monstruosidade.

Tudo na polêmica soa mal: o projeto Cimento Social, proposto por um senador da república, intenta melhorar a estrutura dos barracos no morro; mas esse senador é bispo licenciado de uma igreja pentecostal e há denúncias de que ele vendo dando preferência a membros de sua congregação ao contratar operários da construção civil (o que vai fazer desaparecer entre eles o desemprego e isso será atribuído, em rede de TV, à fé em ebulição que há em suas assembléias).

Os ânimos dos líderes na favela estão exaltados porque a presença do Estado dessa forma é mal recebida; afinal, por que chegar só agora em ano eleitoral o que adianta embelezar os barracos se não há um projeto de humanização e urbanização da favela Então, o Estado tem que enviar o seu exército para proteger a comunidade dela mesma e conseguir implementar as obras que ele, o Estado, definiu serem importantes. Mas esse mesmo exército, quando convém, recorre aos inimigos de seus inimigos para fazer justiça com as próprias mãos (é claro que são membros isolados do Exército, que não significam a corporação inteira, mas que, ao mesmo tempo, maculam a imagem do todo...).

Aquela favela é favela porque todas essas instituições envolvidas entraram mal ali, na hora errada, do jeito errado. O nome da favela é o melhor que poderia ser: Morro da Providência. Se os moradores não podem confiar no governo que faz as obras, na religião que inspirou as obras nem no exército que protege as obras, só podem mesmo contar com a providência divina e, no máximo, com aqueles traficantes "politicamente corretos", que mantêm no morro um governo paralelo, esse sim, capaz de garantir qualidade de vida a todos.

Com o perdão do trocadilho, esse incidente talvez sirva para provar que o problema da favela não se resolve tomando "providência", mas sim elaborando "previdência", isto é, medidas capazes de prevenir o mal no futuro.

Juliano Ribeiro Almeida tem 27 anos, é sacerdote católico, pároco em Itapemirim-ES.

Fonte: O Autor
 
Por:  Juliano Ribeiro Almeida    |      Imprimir