Categoria Policia  Noticia Atualizada em 08-07-2008

Polícia Federal prende Celso Pitta, Daniel Dantas e Naji N.
O ex-prefeito de São Paulo, Celso Pitta, deixa o IML após fazer exame de corpo delito
Polícia Federal prende Celso Pitta, Daniel Dantas e Naji N.
Foto: Eduardo Anizelli/Folha Imagem

A Polícia Federal prendeu na manhã desta terça-feira o ex-prefeito de São Paulo Celso Pitta, o banqueiro Daniel Dantas e o empresário Naji Nahas na operação denominada Satiagraha (resistência pela verdade), que investiga desdobramentos do caso mensalão. Todos eles foram presos em suas residências nesta manhã.

Segundo informações fornecidas pela assessoria de imprensa da PF ao UOL, Celso Pitta e Naji Nahas foram detidos em São Paulo, e Daniel Dantas, no Rio de Janeiro.

O juiz federal Fausto de Sanctis, da 6ª Vara Federal Criminal de São Paulo, especializada em crimes financeiros e lavagem de dinheiro, decretou a prisão temporária de 22 pessoas e mais duas prisões preventivas.
Segundo o Ministério Público Federal, também foi pedida a prisão do advogado Luiz Eduardo Greenhalgh, ex-deputado federal, pela participação na organização criminosa, mas a Justiça entendeu que não existiam fundamentos suficientes para decretá-las.

Segundo nota da Procuradoria da República em São Paulo, os acusados integram dois grupos criminosos que, associados, faturaram no mercado de ações mediante informações privilegiadas. As investigações iniciaram há quatro anos, como desdobramento do caso mensalão. A partir de documentos enviados pelo Supremo Tribunal Federal para a Procuradoria da República no Estado de São Paulo, foi aberto um processo na 2ª Vara Criminal Federal. Na apuração foram identificadas pessoas e empresas beneficiadas no esquema montado pelo empresário Marcos Valério para intermediar e desviar recursos públicos.

A PF informou que há uma ligação entre a teia do mensalão com os acusados e que Marcos Valério desviava recursos públicos para o mercado financeiro. A operação contava com a participação do banqueiro Daniel Dantas, segundo agente da PF no Rio de Janeiro, que disse ainda que o dinheiro desviado era lavado no mercado de capitais.

O procurador da República Rodrigo de Grandis, responsável pelo caso e autor dos pedidos de prisão, a investigação da PF já se deparou com indícios suficientes dos crimes financeiros de gestão fraudulenta, operação ilegal de instituição financeira, evasão de divisas e concessão de empréstimos vedados, além de uso indevido de informação privilegiada, lavagem de dinheiro, corrupção ativa e formação de quadrilha.

O grupo de Dantas, segundo o MPF, cometeu o crime de evasão de divisas por meio do Opportunity Fund, uma "offshore" no paraíso fiscal das Ilhas Cayman, no Caribe. Segundo laudos, tal fundo movimentou entre 1992 e 2004 quase US$ 2 bilhões. Além de evasão e quadrilha, o grupo de Dantas cometeu também gestão fraudulenta, concessão de empréstimos vedados (empréstimos entre empresas do mesmo grupo) e corrupção ativa.

Dentro do grupo Opportunity, Daniel Dantas e seus associados, segundo a investigação da PF, formaram uma "infinidade de empresas" para dar conseqüência a suas ações. Elas seriam empresas de fachada, em nome de laranjas e operadas por supostos "testas de ferro".

O grupo de Nahas, apontam as investigações, teria cometido os crimes de quadrilha, operação de instituição financeira sem autorização, uso indevido de informação privilegiada e lavagem de dinheiro.
Já o ex-prefeito de São Paulo, Celso Pitta teve operações financeiras ilegais interceptadas pela PF.

Operação
De acordo com a Polícia Federal, foram expedidos 24 mandados de prisão e 56 de busca e apreensão e os três detidos encabeçam uma suposta quadrilha que teria cometido crimes financeiros.

No total, cerca de 300 policiais de quatro capitais (São Paulo, Rio de Janeiro, Salvador e Brasília) estão trabalhando na operação.

Por volta das 6h30, cerca de 20 agentes da PF em cinco carros chegaram à sede do Banco Opportunity, no Rio, onde realizam uma varredura nos computadores e documentos da instituição.

O advogado de Daniel Dantas, Nélio Machado, disse em entrevista à GloboNews que a prisão do banqueiro é "arbitrária e desnecessária". "Daniel Dantas é um empresário reconhecido pela competência e vem sendo estigmatizado como se fosse transformado em inimigo público", disse.

Dantas soube da operação da PF há dois meses

Personagem crucial no processo de aquisição da Brasil Telecom pela Oi, o banqueiro Daniel Dantas, dono do Opportunity, e seus principais sócios e executivos estavam no alvo da Polícia Federal desde o mês de abril, sendo investigados por supostos crimes financeiros após informações encontradas em computador.

"A ação da PF revela precipitação e mostra que muitas da medidas são anunciadas antes pela imprensa", disse Machado. "Há mais de dois meses o jornal Folha de S. Paulo dizia que essa operação ia acontecer e quando solicitamos informações à polícia nos negaram".

Machado ainda não falou com Daniel Dantas e informou que iria até a sede da PF no Rio de Janeiro para saber detalhes da prisão de seu cliente.

A advogada do ex-prefeito Celso Pitta, Ruth Stefanelli, foi procurada pela reportagem, mas ainda não se manifestou. Já o advogado que representa Naji Nahas ainda não foi localizado.

Segundo a Procuradoria, foram decretadas também as prisões temporárias de Verônica Dantas (irmã de Daniel e parceira de negócios), Carlos Rodemburg (sócio e vice-presidente do banco Opportunity), Daniele Ninio, Arthur Joaquim de Carvalho, Eduardo Penido Monteiro, Dorio Ferman, Itamar Benigno Filho, Norberto Aguiar Tomaz, Maria Amália Delfim de Melo Coutrin e Rodrigo Bhering de Andrade.

Do grupo de Naji Nahas, foram decretadas a prisão também de Fernando Nahas (filho), Maria do Carmo Antunes Jannini, Antonio Moreira Dias Filho, Roberto Sande Caldeira Bastos, os doleiros Carmine Enrique, Carmine Enrique Filho, Miguel Jurno Neto, Lúcio Bolonha Funaro e Marco Ernest Matalon

Investigação
Segundo nota da Procuradoria, o MPF requereu mais investigações em torno da informação obtida pela CPI dos Correios de que as empresas Telemig e Amazônia Celular, nas quais o Banco Opportunity, de Dantas, tem participação, foram as principais depositantes nas contas de Marcos Valério, responsável pela arquitetura do esquema ilegal de pagamentos a deputados da base aliada.

O chamado esquema do mensalão envolvia o suposto pagamento de dinheiro a deputados da base aliada do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em troca de apoio no Congresso. As denúncias do esquema derrubaram figuras importantes do governo petista, como o então ministro-chefe da Casa Civil José Dirceu.

A partir dessas informações, a Polícia Federal empreendeu uma série de diligências com autorização judicial, como escutas telefônicas, interceptação de dados, além de elaborar laudos e utilizar informações presentes em um procedimento administrativo interno do Banco Central do Brasil em face do Opportunity.

Mais esclarecimentos serão fornecidos pela PF em uma entrevista coletiva, que deve acontecer ainda nesta terça-feira, em São Paulo.

Vazamento e suborno
Ainda segundo a Procuradoria, foi decretada também a prisão preventiva de duas pessoas. Ambas, a mando de Dantas, ofereceram US$ 1 milhão para um delegado federal que participava das investigações para que ele tirasse alguns nomes do inquérito policial. O grupo de Dantas teve acesso a informações sigilosas através de vazamento, que é investigado pela polícia.

O delegado que recebeu a tentativa de suborno relatou o fato ao juiz, que autorizou uma ação controlada, ou seja, os contatos continuaram com o intuito de se obter mais informações e provas. O grupo chegou a dar R$ 129 mil ao policial.

Envolvidos
Neste ano, Celso Pitta já foi considerado culpado pelo "escândalo dos precatórios" pela Justiça Federal, que imputou-lhe uma pena de quatro anos de prisão.

Naji Nahas ficou conhecido nacionalmente depois de ter sido acusado como responsável pela quebra da Bolsa de valores do Rio de Janeiro, em 1989. Após todos os processos referentes a este caso terem sido julgados, o empresário foi absolvido de todas as acusações.

Daniel Dantas é preso quase três meses após fechar um dos maiores negócios do mercado de telecomunicações brasileiro: vendeu suas participações na Brasil Telecom e Telemar (Oi) por cifra equivalente a 1 bilhão de dólares. A operação de hoje não tem relação com a operação Chacal (caso Kroll), no qual Dantas já responde a ação penal.

*Com informações da Reuters

Polícia Federal prende Celso Pitta, Daniel Dantas e Naji Nahas

 
Por:  Alexandre Costa Pereira    |      Imprimir