Categoria Geral  Noticia Atualizada em 16-07-2008

Depoimento de Daniel Dantas à PF tem protesto de um homem
O aposentado Amaury Antunes Guedes, 73, foi o único a protestar em frente à sede da Polícia Federal em SP durante o depoimento de Daniel Dantas
Depoimento de Daniel Dantas à PF tem protesto de um homem
Foto: Ana Luisa Bartholomeu/UOL

A advogada Débora Pontes de Moura, 28, acompanhava o irmão à sede da Polícia Federal na tarde desta quarta-feira, em São Paulo. Júlio, 18, havia pedido a renovação do passaporte. Antes de passar pela porta de segurança localizada no hall de entrada do prédio, a advogada, porém, desistiu de seguir em frente. "Vai lá você. Vou ficar aqui para tentar ver o Daniel Dantas", disse, rindo para o irmão. "Sabia que ele vem aqui hoje? Ouvi um jornalista falando ali embaixo", explicou a Júlio.

Segundo a advogada, a curiosidade para ver o banqueiro nem era tanta. "O que eu quero ver mesmo é o tratamento que vão dar a ele. É tão difícil ver alguém do alto escalão ser preso... quero ver se ele vai chegar sozinho, ou no meio de um monte de seguranças... quem sabe até de helicóptero."

Pois nem foi preciso esquema de segurança, apoio de agentes de tráfego ou interdição da já pacata rua Hugo D´Antola , no bairro da Lapa, na capital paulista. De forma discreta, Daniel Dantas - dono do grupo Opportunity e principal alvo de investigação da operação Satiagraha - chegou às 15h (com uma hora de atraso) ao prédio da Superintendência da Polícia Federal para prestar depoimento, acompanhado apenas de advogados.

Protagonista do caso que pode se tornar um dos maiores escândalos de corrupção do país, o banqueiro chegou ao local calado, e ignorou a chuva de perguntas dos jornalistas que o aguardavam ali há horas.

Graças a dois habeas corpus concedidos pelo presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), Gilmar Mendes, na semana passada, Dantas voltou à sede da PF nesta quarta-feira pela porta da frente, e não mais pelos fundos como em sua prisão durante a grande operação policial da semana passada, quando também foram detidos o megainvestidor Naji Nahas e o ex-prefeito de São Paulo Celso Pitta.

Do outro lado da rua, fantasiado ora de caveira, ora de anjo, o aposentado Amaury Antunes Guedes, 73, era o único manifestante no local. Carregava um pôster com várias caras de Dantas estampadas em revistas, além de frases de protesto contra o fundo de pensão Aerus, que segundo ele, arruinou sua vida. "Eu tinha uma aposentadoria digna, de R$ 5 mil, o mínimo para alguém que trabalhou por 40 anos na Varig. Agora vivo dos meus protestos e de pegar latinha na rua", explicou.

Questionado sobre o que Daniel Dantas tinha a ver com o seu problema, Amaury disse que "isso não importava". "Eu estou sempre onde tem evento midiático, porque é a única forma de mostrar minha indignação com este país. Amanhã mesmo estarei no local do acidente da TAM", contou, acrescentando que ainda não sabia qual fantasia usaria no compromisso.

Observando a movimentação, o corretor de imóveis Joseph M. Bourdoukan aguardava a mulher, Ane Maria, que entregava alguns documentos na sede da PF. "Nós chegamos com uma hora de antecedência da hora marcada, e ele [Dantas], com uma hora de atraso. E olha que ele é investigado, hein. O tratamento já começa a ser diferente aí", ironizou Bourdoukan. Protestar? "Desde quando quem tem dinheiro fica preso? Nem tive vontade de me manifestar quando o vi, pois sei que esse caso é mais um que vai acabar em pizza. Fiquei com pena de vocês, jornalistas, se amontoando por tão pouco", disse, criticando o comportamento da imprensa na chegada do banqueiro ao local.

A dona-de-casa Harko Goya Kanashiro, 68, levou um susto ao sair da sede da PF logo após a chegada de Dantas. "O que está acontecendo aqui?", perguntou, desnorteada, a um policial que proibia a entrada de jornalistas no prédio. Sem resposta, veio em direção à repórter. "Alguém famoso foi preso?", tornou a questionar, quando ouviu a resposta pouco elucidativa. "O banqueiro Daniel Dantas veio prestar depoimento...". "Como? Ah, aquele que foi preso junto com o Pitta?". Diante da resposta afirmativa, desabafou: "Tanta coisa mais importante já aconteceu e não deu em nada... Imagina se com esse, que nem é tão conhecido, alguma coisa vai mudar."

Para o taxista Amauri Tatajuba, 50, operações da PF que ganham grande repercussão na mídia - como a Satiagraha - só servem para atrapalhar o trabalho dos motoristas no local, uma rua normalmente calma da Lapa. "Fico neste ponto há seis anos, junto com mais 11 colegas, e posso dizer que a imprensa é muito ousada. Eles vão chegando e tomando conta [do ponto]. Estacionam em qualquer lugar, ocupam nossas vagas e ainda nos tratam mal. Acho um exagero", reclamou.

Questionado sobre o movimento discreto na região no dia em que o protagonista de um dos maiores escândalos de corrupção do país prestaria esclarecimentos à polícia, Amauri explicou que os curiosos aparecem mais quando há apreensão de carros importados e "mutreta" envolvendo gente "mais" famosa. "Hoje de manhã mesmo apreenderam uma Ferrari e uma Mercedes. Tinha mais gente do que agora", contou.

O sorveteiro José do Nascimento, 65, concordou com o taxista. "O movimento aqui tá fraco hoje. Eu só fiquei sabendo que ele [Dantas] viria depor porque a televisão só mostra isso. Sinceramente, não conheço ele e também não sei o que ele fez. Deve ser rico né, senão jornalista não vinha atrás."

Nascimento, que vende entre 70 e 80 sorvetes por dia na região da sede da PF, não contabilizou lucro maior com a presença do banqueiro no local. "No caso Isabella eu vendi mais, porque tinha mais gente. O povo ficou indignado mesmo né", completou.

Depoimento de Daniel Dantas à PF tem "protesto de um homem só" na Lapa

Fonte: Ana Luisa Bartholomeu
http://noticias.uol.com.br
 
Por:  Alexandre Costa Pereira    |      Imprimir