Categoria Ciência e Saúde  Noticia Atualizada em 25-07-2008

Há 30 anos, nascia o primeiro bebê de proveta do mundo
A britânica Louise Brown, a primeira bebê de proveta, completa hoje 30 anos
Há 30 anos, nascia o primeiro bebê de proveta do mundo
Foto: AFP

FELIPE MAIA
da Folha Online

João Guilherme, que mora em Aracaju, tem apenas quatro meses de vida, mas sua concepção demandou mais de cinco anos de tratamento. Ele é um dos cerca de 4 milhões de bebês --equivalente a um terço da população da cidade de São Paulo-- que nasceram por fertilização in vitro desde que a técnica obteve seu primeiro sucesso completo, há exatos 30 anos.

Nesta sexta-feira (25), a britânica Louise Brown, a primeira bebê de proveta, celebrará seu trigésimo aniversário. Ela nasceu no Hospital Geral de Oldham, no dia 25 de julho de 1978, após uma gestação gerada pela técnica de fertilização desenvolvida pela equipe dos cientistas Robert Edwards e Patrick Steptoe.

Nessas três décadas, a tecnologia fez com que mulheres com dificuldades de engravidar, como Fabrícia Vasconcelos, 36, mãe de Guilherme, pudessem realizar o sonho de ser mãe. "Queria mesmo era a emoção do parto, de ver o filho nascer. Dentre todas as emoções, essa foi a maior", diz Vasconcelos.

Até ter o filho nos braços, ela, que tinha problemas para engravidar e manter a gestação, passou por três fertilizações in vitro propriamente ditas.

Nessa técnica, que deu origem a Louise Brown, um óvulo retirado da futura mãe é fecundado com um espermatozóide, em laboratório, gerando um embrião, que é implantado no útero materno após alguns dias. Cerca de 4 milhões de bebês nasceram por meio do procedimento, segundo estimativas feitas com base em dados da International Committee for Monitoring Assisted Reproductive Technologies (ICMART).

Evolução

Segundo o ginecologista Eduardo Motta, diretor da Huntington Medicina Reprodutiva, após 30 anos o conceito do procedimento continua o mesmo, apesar de o tratamento ter melhorado. "A técnica ficou mais refinada, seletiva. Do ponto de vista prático, as perspectivas são muito melhores, mas não houve uma modificação fantástica", afirma o médico.

Entre as principais inovações está o uso do ultra-som vaginal para coletar os óvulos, dispensando o uso da cirurgia por laparoscopia, com o uso de anestesia.

E, principalmente, a criação da ICSI, técnica de fertilização em que se injeta um único espermatozóide no óvulo --antes era necessário esperar que essas células entrassem "sozinhas".

Com o procedimento, é possível tratar de praticamente todos os problemas de infertilidade masculina.

A probabilidade de a mulher engravidar em uma tentativa de fertilização in vitro aumentou muito nesse tempo: de cerca de 5% para 55%, em mulheres de até 35 anos. Ainda assim, há mulheres que precisam tentar diversas até serem mães.

Gravidez adiada

A empresária Vera Deodato, 43, fez cinco tentativas com essa técnica para conseguir engravidar --após mais de dois anos de espera, ela está no segundo mês de gestação. Deodato é o caso clássico que faz com que a procura pelo tratamento tenha aumentado. Casada há seis anos, ela adiou a gravidez para priorizar atividades como trabalho e viagens.

"Eu achava que tinha todo o tempo do mundo, mas quando cheguei perto dos 40 [anos], percebi que tinha um problema", afirma. A empresária descobriu que tinha endometriose, uma das principais causas de infertilidade feminina. A doença se caracteriza pela presença de endométrio (camada interna do útero) em locais fora do órgão.

Após, o tratamento para a doença, decidiu fazer a fertilização. "A cada vez que não dava certo eram dias difíceis, de pessimismo, de pensar por que para os outros dá certo e para você, não. Mas eu nunca me vi desistindo", diz.

Mesmo com esse tipo de alternativa, especialistas ainda recomendam que a mulher não adie tanto a gravidez. "Apesar de todos os avanços científicos, a mulher de mais de 35 anos deve ter em mente que o tratamento não vai garantir o futuro dela. Se ela estiver fazendo planos para o futuro, é preferível que ela pense no bebê", diz Motta. Segundo ele, com a idade, as mulheres vão "dando mais chances para que as doenças se manifestem".

Comércio

Apesar dos avanços, há quem critique uma suposta "banalização do bebê de proveta", gerada principalmente por razões comerciais. Segundo essa visão, os médicos estariam muito preocupados em fazer as mulheres engravidarem, sem investigar realmente quais são as causas do problema.

"Você vai direto para a reprodução assistida, sem pesquisar corretamente a doença, que pode ser curada", afirma Jorge Hallak, urologista do Hospital das Clínicas de São Paulo. Ele afirma que dois terços dos casos de infertilidade podem ser resolvidos sem fertilização, usando tratamentos adequados.

Para Roger Abdelmassih, especialista em fertilização, a fertilização in vitro contribuiu muito para a medicina e para a ciência. "A genética avançou muito com essa técnica. Hoje é possível tirar uma célula do embrião e fazer toda a avaliação da genética daquela família. É algo assustador", diz o médico.

Após 30 anos, nº de bebês de proveta no mundo é equivalente a um terço da população de SP.

A britânica Louise Brown, a primeira bebê de proveta, completa hoje 30 anos. Ela nasceu no Hospital Geral de Oldham, no dia 25 de julho de 1978, após uma gestação gerada pela técnica de fertilização desenvolvida pela equipe dos cientistas Robert Edwards e Patrick Steptoe. Hoje, o número de bebês de proveta no mundo é equivalente a um terço da população da cidade de São Paulo.

 
Por:  Alexandre Costa Pereira    |      Imprimir