Categoria Geral  Noticia Atualizada em 31-07-2008

Caminhoneiras de SP têm paixão por estrada como na novela
Segundo sindicatos, mulheres já são número expressivo entre caminhoneiros e carreteiros. Caminhoneiras paulistas dizem que se sentem realizadas.
Caminhoneiras de SP têm paixão por estrada como na novela
Foto: Divulgação/TV Globo

Ela foi mostrada na boléia de um caminhão rodando pelas estradas do país e com uma vida amorosa bem instável. Na novela das 21h da TV Globo, "A Favorita", a caminhoneira Cida, interpretada pela atriz Cláudia Ohana, trouxe ao público um modelo de profissional que tem se tornado cada vez mais comum dentro de uma área tradicionalmente dominada pelos homens.

No volante de veículos de grande porte, as mulheres hoje estão presentes em quase todas as empresas de transporte paulistas. "A mulher está em todos os lugares. O número está crescendo e muito, inclusive de carreteiras. Nas empresas de ônibus há muitas também", diz o presidente do Sindicato dos Condutores de Cargas Próprias de São Paulo (Sindicapro), Almir Macedo.

Na Zona Oeste de São Paulo, próximo à divisa com Osasco, uma transportadora que funciona há 70 anos começou há pouco mais de três anos a contratar mulheres para o transporte de cargas. "A contratação começou há pouco tempo junto com o aumento da oferta de mulheres na área. Acho que colocar mulher na empresa provocou um "up grade" na cultura do time. A mulher é mais cuidadosa, mais ordeira, mais pacífica e isso se transfere para o resto dos motoristas", conta Adilson Borges, gerente da filial paulistana da transportadora. Segundo ele, atualmente, cerca de 10% dos 400 motoristas de caminhões e carretas da empresa são mulheres.

Melhor funcionária
Entre esse percentual, está a melhor funcionária da casa, eleita em 2007. Há 13 anos, a goiana Maria Eleusa dos Santos, de 40 anos, decidiu transformar o sonho de infância em realidade e passou a rodar pelas estradas brasileiras. "Eu vivi minha infância em uma fazenda lá em Goiás. Ficava na beira da estrada com meu pai vendo os caminhões passar. Eu dizia para ele: "Se eu fosse homem, pai, ia dirigir um bichão desses por aí"", conta.

Mas, mesmo encantada, ela ficou afastada da boléia por 27 anos e chegou a quase perder as esperanças após o pai morrer atropelado por um caminhão. "Quando meu pai morreu, me separei do meu marido e fui ajudar minha mãe a cuidar dos meus dez irmãos", afirma.

O caminhão voltou a surgir na sua vida por acaso. "Estava indo para escola com meus irmãos e o ônibus quebrou. Ficamos na estrada e um caminhão passou e nos deu carona." Pouco tempo depois, o motorista daquele caminhão iria se tornar o terceiro marido de Eleusa. "Vi nele a possibilidade de aprender a dirigir e vir para São Paulo. Confesso que, no começo, foi por interesse", conta entre risos. "Mas hoje ele é o amor da minha vida", conclui.

Do caminhão, há um ano e oito meses, Eleusa passou a dirigir carretas. "É mais adrenalina", diz a motorista de 1,58 m de altura e 53 kg, que quase some ao lado do veículo que dirige, com quase 20 m de comprimento.

Carreta gigante
O mesmo caminho foi feito por Patrícia Martins Fiedler, de 36 anos, que há 15 trabalha com grandes veículos de transporte, sendo que há 12 trocou o caminhão pela carreta. "Já cheguei a dirigir uma carreta gigante de 100 metros", diz. Trabalhando em uma transportadora em Santo André, no ABC, Patrícia conta que já ficou 20 dias viajando. "O fator monotonia para mim é muito complicado. Eu acho muito legal viajar. Você conhece pessoas, muda o ambiente", afirma.

A quebra da rotina também é o que mais encanta Cássia Aparecida Rissi, de 44 anos, dentro da profissão. Há seis anos, começou a dirigir caminhão e carreta. Tudo começou quando ela ficou desempregada, passou em frente a uma empresa e viu o cartaz "precisa-se de caminhoneira". "Eu tinha a carteira D, que permite dirigir pequenos caminhões e ônibus, mas só tinha pegado um veículo desses no dia do teste (para tirar a habilitação) mesmo. Depois não peguei mais."

Cássia disse na empresa que não sabia dirigir direito, mas que aprenderia rápido, o que ocorreu. "Viajei muito levando carga para Rondônia, Belém do Pará."

Vida amorosa
E a realização dessas mulheres, segundo elas não é só profissional. Diferente do que mostra a novela, a vida amorosa delas, apesar da rotina conturbada, é estável. Patrícia tem um filho de 2 anos e está casada há 7 com um enfermeiro. "Lá em casa é tudo trocado. Quem conhece a gente diz que nascemos nos corpos errados", diz brincando. Segundo ela, a relação é tranqüila, à base de confiança e respeito.

Eleusa também tem uma relação duradoura. "Sou casada há 13 anos e não imagino mais minha vida sem o meu marido. Ele reclama às vezes das viagens, mas sempre falou que esse é o verdadeiro amor: a pessoa aceitar a outra do jeito que ela é. Eu sou assim, caminhoneira", afirma.

Caminhoneiras de SP têm paixão por estrada como na novela
Segundo sindicatos, mulheres já são número expressivo entre caminhoneiros e carreteiros.
Caminhoneiras paulistas dizem que se sentem realizadas.

Fonte: Patrícia Araújo

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Por:  Alexandre Costa Pereira    |      Imprimir