Categoria Geral  Noticia Atualizada em 21-09-2008

Paulistano abandona "pesadelo" de usar carro
Tr�nsito, polui��o e gastos com autom�vel levam pessoas a optar por alternativas de transporte, como bicicleta e metr�
Paulistano abandona
Foto: Maria do Carmo/Folha Imagem - Fotomontagem UOL

GUSTAVO FIORATTI
da Revista da Folha

Com 240 mil ve�culos a mais nas ruas de S�o Paulo nos �ltimos seis meses, que se uniram a uma frota de seis milh�es, o carro � cada vez mais um pesadelo no qual os paulistanos se v�em imersos diariamente.

Parado nos congestionamentos -o recorde foi de 266 km em maio- ou na disputa ingl�ria por uma vaga livre para estacionar, o autom�vel virou um trambolho que coloca em xeque a pr�pria sobreviv�ncia da metr�pole.

Para se locomover na cidade, 45% dos paulistanos preferem o carro e outros 55% usam meios de transporte coletivos. O grupo que usa metr�, �nibus e trem cresceu nos �ltimos cinco anos -eram 52,3% em 2002. Mas os fatores que levaram a esse fen�meno foram o aumento na renda das classes C e D e programas da como o Bilhete �nico, que permitiram a inclus�o de novos usu�rios.

"A classe m�dia n�o migrou para o transporte coletivo. Para isso, falta uma pol�tica de integra��o de transportes e mais conforto nos �nibus e no metr�", diz a urbanista Raquel Rolnik. A rede de metr� de SP disp�e apenas de 60 km. A de Nova York tem 369 km, e a de Londres, 400 km. S�o exemplos de metr�poles em que o carro n�o � a melhor op��o.

Abdicar do carro em S�o Paulo � uma decis�o corajosa. Mas, para um grupo de moradores, essa foi uma sa�da. Eles aboliram ou restringiram ao m�ximo o uso do carro pr�prio. A Folha apresenta as raz�es de tr�s deles, que sintetizam o n� que � depender de um autom�vel em S�o Paulo.

Gastos levaram � bicicleta

O produtor Alberth Murta, 26, acumulou R$ 1.200 s� de multas no �ltimo ano. O IPVA de seu Fiat Strada foi de quase R$ 800. Fora gasolina, licenciamento e outros gastos. "Fiz as contas e, somando tudo, � um dinheiro que posso investir em um curso, por exemplo", diz.

Alberth decidiu vender o carro, que j� tem comprador. Al�m dos gastos, a decis�o de se desfazer do ve�culo tem outros fatores. "Estou fazendo isso tamb�m por causa de toda a loucura que gira em torno do autom�vel em S�o Paulo", diz. "A vida social urbana, por aqui, simplesmente n�o existe. As pessoas mal se olham na cara."

Para substituir o carro, o produtor passar� a usar, de agora em diante, bicicleta e t�xis, intercalados. De bicicleta, ele vai contribuir com as 345 mil viagens sobre duas rodas realizadas diariamente na capital.

Andando a p�

O diretor de planejamento Alex Vendrametto, 42, nunca gostou de dirigir. Mas a falta de vagas livres nas ruas e o pre�o dos estacionamentos -os valores chegam a R$ 15 por hora- o fizeram decidir caminhar a p� at� o trabalho.

"Eu s� uso [o carro] em situa��es espec�ficas, como viajar ou sair � noite", conta ele.
O trajeto de Moema ao Jardim Europa, passando por ruas mais tranq�ilas do bairro onde mora, rouba cerca de 50 minutos do empres�rio apenas para a ida. N�o � tanto para quem j� chegou a fazer o mesmo caminho em mais de duas horas, dentro de um autom�vel.

"Depois de um tempo, isso se torna um v�cio. Voc� passa a gostar de andar a p� e a prestar aten��o em coisas que n�o s�o poss�veis de notar do carro."

Mais cidadania

Abdicar do carro pode ser uma op��o ideol�gica. "Eu sinto que exer�o melhor minha cidadania", resume a atriz e professora Luciana Canton, 36, quando questionada sobre sua decis�o de vender o carro. "Antes disso, eu era uma patricinha que andava pela cidade com os vidros sempre fechados", diz.

A decis�o foi tomada depois de tr�s anos vivendo em Nova York, onde � preciso gastar em m�dia US$ 40 di�rios (cerca de R$ 75) para estacionar. "Foi l� que eu "desbitolei" [do carro]", brinca. "Hoje, estou acostumada a pegar �nibus e metr�."

Sobre a possibilidade de viol�ncia, Luciana argumenta que "a �nica vez em que fui assaltada, eu estava de carro".

Tamb�m pesaram para a decis�o dela as quest�es ecol�gicas. Na cidade de S�o paulo, 80% das fontes poluidoras s�o compostas por autom�veis.

Paulistano abandona "pesadelo" de usar carro.

Tr�nsito, polui��o e gastos com autom�vel levam pessoas a optar por alternativas de transporte, como bicicleta e metr�. Reportagem do jornal Folha de S. Paulo deste domingo mostra tr�s casos de pessoas que abandonaram o "pesadelo" de andar de carro em S�o Paulo. Na foto, Luciana Giannini, que vendeu o carro e agora usa transporte coletivo, o casal Alex Vendrametto e sua mulher Alina Gaud�ncio que adoram andar a p� e Alberth Ribas que vai ao trabalho de bicicleta.


 
Por:  Alexandre Costa Pereira    |      Imprimir