Categoria Politica  Noticia Atualizada em 25-09-2008

Crise na África do Sul não é preocupante, diz diplomata luso
Clã de zulus da África do Sul festejam a data de nascimento do guerreiro Shaka at Kwadukuzu, fundador da Nação Zulu
Crise na África do Sul não é preocupante, diz diplomata luso
Foto: Rajesh Jantilal/AFP Photo

Pretória, 24 set (Lusa) - O embaixador de Portugal na África do Sul, Paulo Barbosa, disse nesta quarta-feira à Agência Lusa que a tensão política que levou à demissão do presidente Thabo Mbeki "não é, pelo observado até ao momento, um fator de preocupação".

Para o diplomata, a crise tem sido gerida com respeito pelo processo democrático e pelas instituições, podendo ser comparada a alterações nos órgãos do Estado, com alternâncias dentro dos partidos no poder, verificadas nas democracias européias.

"É esse respeito pelas instituições, pela Constituição e pelo Parlamento, que nos tem, até ao momento, oferecido garantias de estabilidade. Pelo que temos observado, as instituições têm-se sobreposto aos interesses dos indivíduos e por isso, neste momento, não estamos preocupados", afirmou Barbosa.

Contudo, ele acrescentou que há expectativas pelas características inéditas de um processo em que um presidente é demitido pelo seu próprio partido.

Pelos contatos que têm estabelecido com a comunidade portuguesa, Barbosa disse que "os empresários estão a seguir a situação a par e passo, estando, na sua maioria, tranqüilos pela marcha dos acontecimentos, que não faz antever grandes sobressaltos na sociedade nem no clima econômico".

"Na África do Sul, como na Europa, a substituição de líderes políticos é um processo normal desde que respeite as instituições e a democracia prevaleça", concluiu o embaixador.

Encontro

Questionado sobre a relevância da reunião de Jacob Zuma, o novo presidente do Congresso Nacional Africano (ANC, na sigla em inglês) e provável candidato presidencial do partido para as eleições de 2009, com a comunidade portuguesa no último dia 15, o diplomata português afirmou que não extrai daí grandes conclusões para o futuro.

"Apesar de ter sido importante e um gesto político de grande abertura, o encontro do presidente do ANC com as comunidades portuguesa, grega e italiana não significa necessariamente que a sua liderança seja melhor para as comunidades de origem européia do que a de Thabo Mbeki, é prematuro tirar essa conclusão", salientou Paulo Barbosa.

Empresários consultados pela Agência Lusa se mostraram cautelosos sobre os acontecimentos dos últimos dias, preferindo aguardar pelas próximas semanas para tirar conclusões sobre a queda política de Mbeki e a ascensão da chamada "facção Zuma".

Um empresário do ramo automobilístico, que pediu o anonimato, disse "estar convencido de que nada mudará na África do Sul nos próximos tempos em termos de oportunidades econômicas".

Mas um outro, do setor alimentício declarou estar pessimista "em virtude das ligações de Jacob Zuma à esquerda mais radical, representada por organizações como a ala jovem do ANC e pelo Partido Comunista".

"Mbeki, apesar dos erros cometidos, sempre respeitou os princípios do mercado livre, sendo brilhante a performance econômica dos seus dois governos, enquanto Zuma merece algumas reservas", disse o empresário, que também pediu sigilo.

Mudanças

Amanhã, quinta-feira, a Assembléia Nacional sul-africana deverá designar Kgalema Mothlante, considerado o número dois do partido, como presidente-interino da África do Sul até às eleições de 2009.

Dos 11 ministros e 3 secretários de Estado que apresentaram a sua demissão logo após a do presidente e chefe do governo, apenas seis (incluindo a vice-presidente Phumzile Mlambo-Ncguka) afirmaram não estar disponíveis para servir na nova administração.

O "homem-chave" do sucesso econômico do país, o ministro sul-africano das Finanças Trevor Manuel, já se disponibilizou para servir no novo executivo, tendo afirmado que a sua demissão foi um gesto protocolar, baseado no respeito pela "prerrogativa do novo presidente poder escolher o seu novo executivo".

Crise na África do Sul não é preocupante, diz diplomata luso.

Clã de zulus da África do Sul festejam a data de nascimento do guerreiro Shaka at Kwadukuzu, fundador da Nação Zulu; o país, que sediará a próxima Copa do Mundo de futebol, em 2010, enfrenta uma crise política após a renúncia do presidente Thabo Mbeki.

 
Por:  Alexandre Costa Pereira    |      Imprimir