Categoria Tragédia  Noticia Atualizada em 19-10-2008

Swat teria atirado em seqüestrador, diz especialista
Brasileiro instrutor do grupo de elite da polícia americana aponta erros.
Swat teria atirado em seqüestrador, diz especialista
Foto: http://images.blockstar.com

O brasileiro Marcos do Val é considerado um dos maiores especialistas em negociações. Há nove anos trabalha como instrutor em Dallas da Swat, o grupo de elite da polícia americana preparado para enfrentar situações de emergência. Ele corre o mundo ensinando técnicas de invasão e combate: já treinou seguranças do Papa, no Vaticano, e militares que lutaram na guerra do Afeganistão.

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A convite do Fantástico, o especialista assistiu aos principais momentos do cerco em Santo André e apontou falhas na operação. Entre elas, o fato de a polícia não ter atirado no seqüestrador Lindemberg Alves, de 22 anos, e de ter permitido a volta da estudante Nayara Silva, de 15, ao cativeiro.

Para Val, o primeiro erro foi permitir que a negociação se arrastasse por cinco dias. "Em uma situação passional como essa, quanto mais tempo leva, mais inconstante a pessoa fica."

Segundo ele, a Swat estabelece o prazo máximo de 24 horas para libertar o refém, mas nunca foi preciso esperar tanto. "A negociação mais longa que a Swat de Dallas fez até hoje durou nove horas. A partir daí é invasão. Já aproveitariam a madrugada, não deixariam amanhecer o dia."

Corpo inclinado


Na quarta-feira (15), diz Val, a polícia perdeu uma chance de terminar o seqüestro no momento em que a jovem Eloá Cristina Pimentel, 15 anos, lançou uma corda improvisada e recolheu o almoço. Seu corpo ficou inclinado para fora da janela e Lindemberg apareceu atrás da ex-namorada. "Essa é uma oportunidade que a SWAT usaria como vantagem", afirma.

Para o especialista, havia duas possibilidades de ação. A primeira: atiradores de elite poderiam atingir Lindemberg, uma estratégia que foi descartada pela polícia. "Por se tratar de um jovem, com uma decepção amorosa, a nossa opção era esgotar todas os meios de negociação e tentar cansá-lo", explicou em uma entrevista o comandante do Gate, coronel Eduardo Félix.

Para a Swat, em uma situação assim o seqüestrador seria executado. "Para eles não importa se é um jovem, o que importa é que tem uma vida em risco e que o rapaz está colocando vidas de terceiros em risco também", ressalta Marcos.

Segunda tática: a triangulação. Dois policiais estariam de tocaia em escadas posicionadas ao lado da janela, fora do ângulo de visão de Lindemberg. Um terceiro policial ficaria na janela do andar de cima, pronto para descer de rapel. No momento do ataque, um dos policiais na escada agarraria Eloá e tentaria proteger a cabeça dela. O outro daria cobertura enquanto o terceiro viria de cima e daria um tiro no seqüestrador. Tudo isso ao mesmo tempo. "É o efeito surpresa."

‘Maior absurdo’

Na quinta-feira (16), Nayara voltou ao apartamento. "Isso é o maior absurdo dos absurdos. Em nenhum lugar do mundo já existiu uma situação dessas", critica Marcos.

Em entrevista, o comandante Félix disse que não acha que a volta de Nayara ao apartamento foi um erro na operação policial. Segundo a polícia, Nayara teria se oferecido para ajudar na negociação, com permissão da mãe. Mas ninguém esperava que a jovem entrasse de novo no apartamento.

"Teria que ter um policial com escudo balístico na frente, a Nayara do lado, o policial segurando ela para se aproximar, para falar. Se for o caso, recuar. Mas não deixar ela sozinha, andando, abrindo a porta. O seqüestrador se sentiu poderoso nessa hora, porque teve a refém de volta. É um erro gravíssimo e eu sinto vergonha de ser brasileiro e saber que a polícia brasileira fez isso", admite Marcos.

Invasão

Val considera que os policiais usaram uma carga excessiva de explosivo na sexta-feira (17), dia da invasão. Além disso, não contaram com a possibilidade de haver obstáculos atrás da porta. Isso atrasou a entrada da equipe. "Deu tempo para o seqüestrador pegar a arma, fazer o disparo para onde ele quisesse."

Outro erro foi não entrar simultaneamente pela frente, janela e fundos, com o uso de bombas de luz e som, que deixariam o seqüestrador desnorteado. "Esse tipo de bomba é para dar aquela sensação de desespero para o seqüestrador. Ele não sabe de onde está vindo a polícia."

O policial que estava posicionado na escada, além de atrasado -- a explosão já havia acontecido -- demorou muito para subir. "Ele poderia ter vindo correndo com a escada, pararia na parede de costas, colocaria a escada praticamente como se fosse uma grade para ele, já posicionada, e outro já viria correndo e subindo ao mesmo tempo", ensina.

As imagens mostram que a polícia teve dificuldade para conter Lindemberg. A Swat utiliza uma técnica que leva menos de um segundo para imobilizar o agressor. "Um piscar de olhos e ele já está imobilizado e algemado no chão", diz Marcos.

Socorro

Marcos também viu falhas graves no socorro às vítimas. O médico, sozinho, lutou para atravessar o tumulto. Os policiais pisaram no pescoço de Lindemberg. O caminho deveria estar livre para a equipe de paramédicos, com macas. Eloá foi carregada no colo por um policial, um procedimento incorreto. E o pior: a cabeça ferida da jovem esbarrou no corpo do médico. O jaleco dele ficou manchado de sangue. Depois que o médico percebeu, voltou, então, para socorrê-la. Uma série de erros que conduziram a um desfecho trágico.

"Você pode ter certeza: nós estamos aprendendo muito com esse resultado e vai nos servir como experiência de vida", admitiu o negociador do seqüestro Adriano Giovanini.

Swat teria atirado em seqüestrador, diz especialista em negociações
Brasileiro instrutor do grupo de elite da polícia americana aponta erros.
Para ele, volta da refém ao cativeiro foi "maior absurdo dos absurdos".

Fonte:

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Por:  Alexandre Costa Pereira    |      Imprimir