Categoria Geral  Noticia Atualizada em 05-11-2008

Intervenção de Angola no Congo é inevitável, dizem analistas
Militante das Forças Democráticas para a Libertação de Ruanda (FDLR) é carregado por partidários do general tutsi Laurent Nkunda na região de Kiwanja, no Congo
Intervenção de Angola no Congo é inevitável, dizem analistas
Foto: Walter Astrada/AFP

Luanda, 5 nov (Lusa) - Uma interferência de Angola no conflito que está acontecendo na República Democrática do Congo (RD Congo, Ex-Zaire), entre o governo de Joseph Kabila e os rebeldes do general tutsi Laurent Nkunda, é vista como incontornável por analistas angolanos ouvidos pela Agência Lusa.

Graça Campos, diretor da revista Semanário Angolense, não tem dúvidas de que Luanda só aguarda pelo "apoio formal" da comunidade internacional para mandar unidades militares em apoio ao presidente congolês, Joseph Kabila.

Kabila enviou recentemente o seu ministro da Cooperação Internacional a Angola para pedir o apoio do presidente angolano José Eduardo dos Santos na procura de uma solução para o conflito da província de Kivu-Norte, no leste da RD Congo, onde a capital provincial, Goma, está em risco de ser tomada pelos homens de Nkunda.

Luanda ainda não se pronunciou publicamente sobre este pedido.

O jornalista frisou que Angola, que tem uma longa fronteira com este país, "é quem mais poderá perder com o desmembramento territorial da RD Congo" e, "consciente desse perigo, José Eduardo dos Santos vai exigir o apoio das organizações internacionais, como a ONU e a União Africana, para decidir o envio de uma força militar".

Por outro lado, Nelson Pestana Bonavena, cientista político, lembra que "Angola é parte integrante da solução do conflito na RD Congo", afirmando que Luanda "faz parte do sistema de sustentação de governabilidade" daquele país.

"Angola é um aliado natural e forte do governo de Joseph Kabila, pois tem participado em todos os processos de pacificação, na procura de entendimentos, e, obrigatoriamente, tem de participar nesse processo", disse Pestana.

Segundo Bonavena, "Angola vai apoiar, quer de forma diplomática, quer através do apoio militar, ainda que seja para dissuasão".

Questão política

O escritor e analista político Mário Pinto de Andrade afirmou que o conflito na RD Congo é "político e não militar", acrescentando que a Europa, sobretudo França e a Bélgica, ex-potências coloniais dos países mais próximos do conflito, também devia ter um papel na busca de soluções.

"Angola tem duas possibilidades de contribuir para a pacificação da RD Congo: a militar e a diplomática. Mas as autoridades angolanas têm, nos últimos tempos, rejeitado o envio de tropas para o exterior, porque os esforços do país estão virados para a reconstrução nacional", disse Mário de Andrade.

Na opinião de Andrade, "o que Angola pode fazer em termos militares é participar numa força conjunta", no âmbito das organizações internacionais e regionais.

"Não vejo como possível a disponibilidade de Angola, por si só, conceder apoio militar à RD Congo para a solução do conflito armado", frisou.

A imprensa privada angolana tem divulgado que Luanda mantém um importante contingente militar em território congolês e que a guarda presidencial de Kabila integra militares angolanos, mas essa informação nunca foi confirmada, nem por Luanda, nem pela presidência da República.

Também um porta-voz dos rebeldes congoleses, Bertrand Bisimwa, citado pela agência de notícias Associated Press, acusou nesta quarta-feira Angola e o Zimbábue de estarem mobilizando tropas para combaterem na RD Congo, tal como aconteceu na guerra civil de 1998-2002.

Intervenção de Angola no Congo é inevitável, dizem analistas.

Militante das Forças Democráticas para a Libertação de Ruanda (FDLR) é carregado por partidários do general tutsi Laurent Nkunda na região de Kiwanja, no Congo. Analistas consideram inevitável uma intervenção de Angola no conflito.


 
Por:  Alexandre Costa Pereira    |      Imprimir