Categoria Opinião  Noticia Atualizada em 29-01-2009

PROJETO TURÍSTICO NORDESTINO QUE GARANTE LUCRO
Neste verão resolvi voltar ao nordeste do país. Visitei várias capitais e também pequenas cidades litorâneas
PROJETO TURÍSTICO NORDESTINO QUE GARANTE LUCRO
Foto: Arquivo Maratimba.com

Engana-se quem acha que para haver desenvolvimento turístico, necessariamente, este deva ser protagonizado pelo poder público.

Neste verão resolvi voltar ao nordeste do país. Visitei várias capitais e também pequenas cidades litorâneas. Por lá, mais uma vez o que mais me chamou a atenção foi o fato de que, em geral, os lugares de maior atração turística não eram os que ostentavam obras arquitetônicas produzidas pelo homem, mas sim obras da natureza aproveitadas turisticamente pelo homem.

Em Natal, centenas de famílias retiram seus sustentos das dunas de Genipabu. O ramo de locação de veículos é o mais disputado: uns alugam bugres, outros ultraleves, jegues e até dromedários, o fato é que faltam veículos, e olha que não são poucos.

A criatividade é o limite para o lucro, se por um lado as locadoras familiares são o exemplo de distribuição de renda, por outro, os empresários - também familiares – só que agora do ramo dos "parques temáticos de Natal", demonstram que também estão na disputa pelo título de melhores distribuidores de renda. Estes, inovaram com a criação do Aerobunda, uma espécie de teleférico acionado por motor de fusquinha 69, que proporciona ao turista o que eles chamam de diversão 3x1, ou seja, você sobe as dunas de trenzinho (cadeirinha puxada morro acima pelo motor de fusquinha), desce de foguete (pendurado sentado em corda) e é resgatado lá embaixo, ao cair na lagoa, pelo Titanic (canoa de toras de madeira). Tem também o skibunda, um tobogã natural de areia em que o turista desce sentado em uma prancha de madeira. É sucesso.

Em Maceió, o must são os passeios de jangada às piscinas naturais, bem como os passeios de escunas aos manguezais. Na praia de Morro Branco, em Fortaleza, o que encanta os turistas são as garrafinhas de vidro cheias de areias coloridas das falésias, formando os mais variados desenhos. Agora, se as garrafinhas com as areias são um sucesso à parte, imagine como é passear ao vivo pelas falésias locais e ainda ouvindo as estórias dos guias mirins que garantem contar fatos que remontam o descobrimento, mas que nem Cabral sabia.

Em João Pessoa, os turistas que ainda não estão em forma para o rojão nordestino, se preparam na academia da praia. Nada dessas academias moderninhas bancadas por prefeituras e cheias de regra, lá o turista entra em forma empurrando pneu de caminhão pintado, pulando em circuitos de cones e pneus de carros multicoloridos, subindo em cordas amarradas em coqueiros (tendo como prêmio água de coco geladinha), enfim, a academia é uma espécie de circuito de treinamento intensivo, que com aporte de professores de educação física e ao módico custo de R$ 3 a aula, fica lotada todos os dias.

Dava pra narrar muito mais, pois são inúmeros os projetos de sucesso! É fácil mostrar de forma indiscutível que a melhor maneira de se produzir turismo é aquele realizado através de projetos sustentáveis, que garantam a presença e a rentabilidade da população nativa. Sem povo engajado e feliz com sua cidade é muito difícil a promoção turística sustentável.

Mas também é possível, ao contrário do senso comum, promover turismo baseado na fórmula do trio elétrico. No nordeste trio também tem vez. Tá certo que lá não é como aqui. Lá, neste verão, participei do Pré-Cajú, o carnaval fora de época de Aracaju, fiquei em um camarote cujo patrocinador chamava-se Maratá (lembra alguma coisa). A diferença do trio de lá e os que vejo aqui são gritantes. A primeira diferença é que lá eles não ficam o verão todo berrando em nossos ouvidos, pois são utilizados apenas em poucos e seletos dias. A segunda diferença é que são utilizados trios de qualidade e bandas renomadas. Terceiro, o evento é auto-sustentável, pois se baseia no oferecimento de pacotes especiais para o turista, promovido através da comercialização de abadás e camarotes. Os nativos, por sua vez, também se beneficiam do evento, fato facilmente observado através dos hotéis lotados, taxistas felizes e comerciantes locais que podendo montar barracas – padronizadas - participam do brilho e do lucro da festa. Aliais, há que se ressaltar que de acordo com o governo local, a festa proporciona a criação de cerca de 100 mil empregos diretos e indiretos, além de atrair milhares de foliões de todos os estados.

Por fim, desnecessário dizer que por aqui também temos nossa estrutura turística já pronta, ou seja, também temos nossas falésias, mangues, rios, lagoas, praias, ilhas, monumentos históricos, jegues e jericos. Enfim, temos como nossos mestres nordestinos, todas as condições para promovermos um turismo sustentável baseado na economia e cultura local, podendo até copiar, se necessário for, o projeto nordestino de turismo.

Vejam as fotos:










Fonte: O Autor
 
Por:  Renato Alves    |      Imprimir