Categoria Geral  Noticia Atualizada em 12-02-2009

Justiça determinou desapropriação de prédio no Centro de SP
Caminhões são carregados com os móveis dos moradores
Justiça determinou desapropriação de prédio no Centro de SP
Foto: Carolina Iskandarian/G1

Agarrada à imagem de Nossa Senhora de Fátima, a babá Selma Maria de Adrade Lopes, de 44 anos, quebrava a cabeça para decidir onde iria com seus familiares. Na madrugada desta quarta-feira (11), ela foi uma das 25 famílias, segundo a Prefeitura de São Paulo, atingidas pela ordem judicial de desaprorpiação do Edifício Mercúrio, no Centro. "Saio com o coração partido. Moro aqui há 24 anos e isso tudo é muito triste", lamentou ela, que dividia a kitinete com o marido e duas filhas, de 14 e 20 anos.

Policiais militares garantiram uma saída pacífica. O Corpo de Bombeiros e o Samu também estiveram no prédio, que tem 24 andares e seis apartamentos por piso, caso necessário algum atendimento. De acordo com o Secretário Municipal de Habitação, Elton Zacarias, a desapropriação faz parte "de um projeto de recuperação da região central" da cidade. Os edifícios Mercúrio e São Vito, que fica ao lado, também na Avenida do Estado, devem ser demolidos.

Zacarias explicou que a Prefeitura indenizou donos de apartamentos no prédio desocupado com valores entre R$ 25 mil e R$ 35 mil. Já os inquilinos teriam direito a indenização de R$ 2.400 para tentar retomar a vida em outro teto. Para conseguir o dinheiro, é preciso de cadastrar na Prefeitura. Mas havia um problema maior a ser resolvido: os moradores sem destino. "A Prefeitura está oferecendo albergues", afirmou o secretário, que esteve no local pela manhã.

Pelo menos seis caminhões estavam sendo carregados com móveis, bicicletas, colchões, geladeiras, fogões e outros pertences das 25 famílias retiradas (o número passado pelos advogados das pessoas indicava 35 famílias prejudicadas com o despejo). Funcionários da Prefeitura informaram que tudo iria para o endereço fornecido pelo morador ou então para algum depósito municipal.

Drama

A babá Selma disse que iria para casa de uma amiga ou "para debaixo do viaduto". "O prédio é maravilhoso, tinha um ambiente familiar", contou ela, que estava com a imagem da santa para que Nossa Senhorade Fátima "se despedisse" do apartamento 55, onde morava.

Ela admitiu que todos haviam sido avisados em dezembro de que haveria a ordem de despejo, mas não sabiaquando ia ocorrer. "Até tinha arrumado um apartamento em agosto, mas a síndica dizia que não era hora de sair".

Desempregado, o pernambucano Paulo Luciano Bezerra, 25, procurava pensar positivo. "Estou feliz porque pelo menos tenho saúde", afirmou ele, sentado junto às malas, sacolas e o botijão de gás que retirou do apartamento onde morava com três irmãos e mais dois amigos. Um dos irmãos de Paulo, o carregador Luciano Bezerra, 32, estava revoltado e preocupado, já que trabalha no Merdaco Municipal e só precisa atravessar a rua para chegar lá.

"Três dias da semana eu trabalho de meia-noite às 16h. Vou viver só assim, andando de ônibus?", questionou ele, caso tenha que morar longe. "Eu é não vou aguentar". Ele chegou no Edifício Mercúrio em 1994 e, com medo dodespejo, há alguns anos a mulher dele voltou para Pernambuco.

"Tenho que ficar para trabalhar", disse, enquanto via os funcionários da Prefeitura carregando os caminhões. Para compensar a tristeza, o grupo de rapazes despejados comia, no meio da rua mesmo, um prato de carne com batatas e dividiam uma pinga.

Ação civil pública

Em dezembro de 2008, a Defensoria Pública de São Paulo entrou com uma ação civil pública pedindo que as famílias do Edifício Mercúrio fossem inseridas em programas de habitação da Prefeitura. De acordo com os defensores, a ideia é que as pessoas continuem morando na Região Central da cidade, onde já têm a vida organizada.

"Saio com o coração partido", diz moradora do Edifício Mercúrio
Justiça determinou desapropriação de prédio no Centro de SP.
Ação foi nesta quarta e 25 famílias tiveram de deixar suas casas.

Fonte:

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Por:  Alexandre Costa Pereira    |      Imprimir