Categoria Religião  Noticia Atualizada em 19-03-2009

Vaticano acusa multinacionais de se apropriar dos recursos da África
Bento XVI, durante uma missa em Iaundê
Vaticano acusa multinacionais de se apropriar dos recursos da África
Foto: AFP

Yaoundé, 19 mar (EFE).- O Vaticano acusou as multinacionais de "invadir" gradualmente o continente africano para se apropriar dos recursos naturais, com a cumplicidade dos dirigentes locais, sobre os quais diz que obstaculizam a democratização de seus países.

Assim afirma o "Instrumentum laboris" (documento de preparação) do 2º Sínodo de Bispos para a África, que acontecerá de 4 a 25 de outubro, no Vaticano, e debaterá sobre a Igreja no continente a serviço da reconciliação, da justiça e da paz.

O documento foi entregue hoje pelo papa Bento XVI em Yaoundé aos presidentes das 36 conferências episcopais africanas, a primeira vez que um pontífice viaja até o continente em questão para entregar aos prelados o texto que servirá de guia ao sínodo.

O texto, de 56 páginas, é dividido em quatro capítulos: a situação atual da Igreja na África, a urgência de reconciliação, justiça e paz no continente, a missão da Igreja e reflexão sobre os cristãos comprometidos em todos os campos da sociedade.

O texto afirma que a emancipação dos povos dos regimes ditatoriais anuncia uma nova era e o começo de uma "tímida cultura democrática", mas que o caminho é longo, porque o egoísmo, o lucro fácil, a corrupção e a avareza podem desestabilizar o continente africano.

O Vaticano ressalta no texto que alguns dirigentes políticos são insensíveis em relação às necessidades do povo, só buscam interesses pessoais, desprezando o bem comum, "perdem o sentido democrático, elaboram políticas sectárias, clientelistas, etnocentristas e incitam à divisão para poder reinar".

Em alguns países, ressalta, o partido no poder tende a se identificar com o Estado.

Após ressaltar que na África falta um mercado interno que poderia criar um ambiente econômico favorável, destaca o desemprego nas cidades, a degradação social, a alta taxa de criminalidade e a cada vez mais ampla separação entre ricos e pobres.

Sobre a presença das multinacionais, o Vaticano afirma que estas "continuam a invadir gradualmente o continente para se apropriar de seus recursos naturais".

O documento também fala sobre a família e ressalta a luta "contra comportamentos que estão em contradição com o plano divino sobre a mesma, como, por exemplo, o homossexualismo, a prostituição e o aborto".

Sobre as mulheres, várias igrejas africanas indicam que a dignidade da mulher deve ser "promovida" tanto dentro da Igreja quanto na sociedade.

Ressalta o diálogo ecumênico e sobre as religiões tradicionais africanas defende tomar os "elementos bons e nobres" que o cristianismo pode adotar, "purificando o incompatível com o Evangelho, a fim de obter uma cultura de reconciliação, justiça e paz".

O texto também fala da aids e, na mesma linha expressada pelo papa, propõe programas de formação para lutar com esta doença, que afeta 27 milhões de africanos. EFE

Vaticano acusa multinacionais de se apropriar dos recursos da África.

Bento XVI, durante uma missa em Iaundê.


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Por:  Alexandre Costa Pereira    |      Imprimir