Categoria Politica  Noticia Atualizada em 22-03-2009

'Clube de amigos' do Senado faz folha de pagamento crescer
asto com pessoal saltou de R$ 2,1 bilh�es em 2007 para R$ 3 bilh�es neste ano; diretor recebia at� R$ 20 mil
'Clube de amigos' do Senado faz folha de pagamento crescer
Foto: M�dia

Nos �ltimos 45 dias, sem votar projetos, o Senado foi atropelado por uma crise �tica que paralisou a Casa e deixou como saldo a pior imagem para uma institui��o p�blica: a de que virou um espa�o para servir a interesses privados. Pela boca dos pr�prios parlamentares e de representantes da sociedade civil, que acompanharam de perto o desenrolar da crise, as pr�ticas do Senado s�o vistas como t�picas de "um clube de amigos" que fez "um pacto de sil�ncio".

A mistura de inefici�ncia e desmando pol�tico-administrativo consentida pelos pr�prios senadores pode ser medida s� com os n�meros da galopante folha salarial. Os R$ 2,1 bilh�es gastos em 2007 subiram para R$ 2,8 bilh�es no ano passado. Para este ano, a folha salarial � de R$ 3 bilh�es - 42,8% de aumento em dois anos. Uma conta f�cil de explicar porque muitos dos diretores do Senado, que cuidam s� de servi�os gerais, ganham at� R$ 20 mil mensais.

Foram as feridas pol�ticas abertas com a disputa pelo controle da Presid�ncia - ganha pelo senador Jos� Sarney (PMDB-AP) contra Ti�o Viana (PT-AC) - que destravaram a briga fratricida entre setores de PMDB e PT e deflagraram uma onda de revela��es sobre os maus costumes da Casa.

Isso resultou na descoberta de pagamentos de horas extras em m�s de recesso parlamentar (janeiro), fartura de cargos de dire��o (leia na p�gina 6), uso indevido de im�veis funcionais por diretores, m� utiliza��o de verbas indenizat�rias, entre outros problemas. Em um m�s e meio, esse turbilh�o se tornou o centro de cada conversa no Senado, e nada foi discutido ou votado fora dessa "agenda".

"O Senado est� praticando uma autofagia. Descemos abaixo do limite que poder�amos ir. N�o se vota nenhum projeto aqui dentro e nem a crise financeira internacional est� na pauta", constata o senador Delc�dio Amaral (PT-MS), que presidiu a Comiss�o Parlamentar de Inqu�rito (CPI) do Mensal�o, em 2005. "Vou ser sincero. Posso ser muito mais �til como homem p�blico n�o vindo ao Senado e discutindo fora daqui quest�es que tratam do pr�-sal ou do projeto do cadastro positivo, por exemplo", acrescenta o senador petista.

Delc�dio e outros senadores concordam que a crise �tica que explodiu em 2009 � fruto de um longo per�odo de h�bitos inadequados na Casa.

Desde o in�cio do ano, esses problemas j� provocaram, por exemplo, a queda de dois dos principais diretores do Senado (Agaciel Maia e Jo�o Carlos Zoghbi) e a descoberta do gigantesco e inexplic�vel organograma da Casa, que comportava absurdas 181 diretorias - sexta-feira, depois de muita press�o social, 50 desses cargos foram cortados.

?CLUBE DE AMIGOS?

"O Senado se tornou um clube de amigos", reconhece o senador Renato Casagrande (ES), l�der do PSB. "Alguns condutores do Senado transformaram o ambiente em algo muito ruim nos �ltimos anos", avalia. E completa: "H� muito tempo, o Senado tem gest�es ineficazes, muito viciadas. � uma institui��o que ficou anacr�nica e desconectada da sociedade".

A sequ�ncia de revela��es negativas envolvendo o Congresso n�o aconteceu por acaso. O marco dessa crise � a elei��o no dia 2 de fevereiro dos novos presidentes do Senado e da C�mara: Jos� Sarney e Michel Temer (PMDB-SP), respectivamente. Veteranos da vida pol�tica, a vit�ria dos dois foi interpretada como uma sinal de conservadorismo do Congresso. No caso da elei��o de Sarney, o grupo derrotado por ele - liderado pelo senador Ti�o Viana - qualificou o resultado como um atraso para o Parlamento.

A partir da�, come�am as den�ncias no Senado, fruto da n�o cicatriza��o da disputa de poder, embora Sarney e Viana neguem qualquer envolvimento com a produ��o dos esc�ndalos. O senador acreano acabou tendo, inclusive, que explicar o empr�stimo de um telefone celular da Casa usado pela filha dele numa viagem ao M�xico - ele pagou a conta, mas n�o revelou de quanto foi o gasto.

"A sensa��o que tenho � que, por conta dos efeitos da disputa pela Presid�ncia, se quebrou uma esp�cie de pacto de sil�ncio que existia entre os senadores sobre os problemas que existiam l�. Porque n�o � poss�vel se esconder dos senadores a quantidade de diretorias existentes ou o pagamento de horas extras quando n�o h� trabalho. Sabiam de tudo isso, mas a insatisfa��o m�tua entre os dois grupos que disputaram o comando provocou a quebra desse paradigma do pacto do sil�ncio", avalia o presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Cezar Britto.

JADER E ACM

A situa��o lembra a briga de 2001 que envolveu os ent�o poderosos senadores Antonio Carlos Magalh�es (PFL-BA), j� falecido, e Jader Barbalho (PMDB-PA), hoje deputado federal. Jader conquistou a Presid�ncia do Senado e passou a ser torpedeado por ACM, seu inimigo declarado. A guerra entre os dois senadores provocou o surgimento de uma s�rie de dossi�s com den�ncias contra ambos, tornando a situa��o dos dois insustent�vel - ambos renunciaram para escapar da cassa��o.

A guerra atual chegou a um grau de belicismo que assustou at� o Planalto. No meio da semana, a pedido do presidente da Rep�blica, PT e PMDB anunciaram uma tr�gua.

Fonte:  
Por:  Robson Souza Santos    |      Imprimir