Categoria Opinião  Noticia Atualizada em 04-04-2009

NARCISO ARAUJO: ELOGIO A LITERATURA
No próximo dia 16 de abril, marca a data do falecimento do advogado e poeta Narciso Araújo
NARCISO ARAUJO: ELOGIO A LITERATURA
Foto: http://www.antoniomiranda.com.br

No próximo dia 16 de abril, marca a data do falecimento do advogado e poeta Narciso Araújo, uma das mais brilhantes mentes da meada do século passado no país. Nascido em 1877, em Brejo dos Patos, então localidade de Itapemirim, estudou na famosa Escola Pedro II, no Rio de Janeiro, onde tem seu nome gravado no panteão dos alunos brilhantes.

Formou-se na tão famosa Faculdade de Direito do Largo do Machado. Poeta teve uma ativa participação no movimento Simbolista junto com Cruz e Souza, Nestor Vitor e Raul Pederneira. No auge de sua vida intelectual e para o desespero dos amigos, volta para Itapemirim.
Segundo pesquisa pessoal, foi devido a uma dívida financeira da família. Sinaliza ainda uma profunda ajuda desse capixaba no Movimento Modernista de 22, o maior evento de mudança na literatura brasileira.

Viveu o resto de sua existência na bucólica Vila do Itapemirim. Relatam que diversas pessoas vinham ao município para receber do Dr. Narciso, como era tratado, seu aval nas questões jurídicas. Poliglota, espiritualista, um erudito em sua época, foi homenageado em 1941 como "Príncipes dos Poetas Capixaba".

Sua vida foi de uma quase exclusão. Ficou conhecido como: "O Solitário de Itapemirim". Um dos momentos de maior prazer do poeta era as caminhadas noturnas com sua amiga Maria Magdalena Pisa pelas taciturnas ruas da sede. Essa pedagoga é uma história a parte. Uma mulher a frente do seu tempo, em 1961, então Secretária de Educação Estadual, deu o nome da escola hoje existente na Praça Domingos Martins, o nome do seu amado Narciso Araújo. Afirmam pessoas presentes em seu enterro que Magdalena Pisa deixou sobre o seu caixão cartas trocadas entre os dois envoltas em um plástico.

Narciso Araujo, escreveu muitas poesias, todas manuscritas e inéditas em simples cadernos. Uma pessoas que me confidenciou que às tem. Provavelmente do seu período final na Vila do Itapemirim. Recuperá-las é de fundamental importância para a história e a poesia.

Seu único livro Poesias editado pela José Olimpio, se encontra na Biblioteca de Itapemirim, numa condição não muito boa. As atendentes guardam o único exemplar existente como uma relíquia. Prefeita Norma Ayub, Secretário Eliário Leal, um conhecedor de sua vida, José Geraldo, um amante da cultura e itapemirinense de alma, essa livro de poesias deveria ser reeditado e ofertado a cada criança do nosso querida Itapemirim. Resgatar a obra e a vida de Narciso Araújo é resgatar a tão obscura historiografia brasileira. É mostrar para o mundo a grandeza de um homem que viveu e morreu em nosso abençoada solo, mas continua para muitos "O Solitário de Itapemirim".

Segue abaixo algumas de suas poesias:

A SAUDADE

A João Ribeiro

A saudade comum, essa consiste
em nos rememorar cada momento
quer que seja, cujo afastamento,
pungindo-nos o peito, o torna triste.

0utra saudade, todavia, existe
que nos agita. Vem do firmamento
no clarões do luar, e o pensamento,
por mais firme e tenaz, lhe não resiste.

É a saudade de ignotas primaveras,
é a saudade de quadros incriados,
é a saudade de coisas nunca tidas,

é a saudade infecunda das esferas,
onde os astros rolaram, conglobados,
desde as fundas idades escondidas.

Poesias, 1ª. parte, 1900-1915 (1942)


TARDES

Quando a tarde vem vindo e o crepúsculo desce
como uma ampla asa, e atrista os horizontes quedos,
eu creio ouvir, pelo ar, turturinos de prece,
uns murmúrios de amor, um frufruar de segredos.

Um sino badalando, aos poucos, esmorece;
a tristeza do bronze acorda n"alma medos,
e a almas sentem frio: — um frio que parece
vir o pólo da morte, através de degredos.

Há também tardes n"alma. Há mudez. Crepuscula.
O sino da saudade acorda e abre o passado
— livro que se fechou, sonho que não arrula.

E ansiamos reviver as esperanças mortas!
E ansiamos reentrar nesse templo doirado!
e — ai de nós! — um nevoeiro esconde-nos as portas ...

Ibidem


SONHAR

Vale a pena sonhar. O sonho alenta
e enflora a vida, o sonho a fortalece.
Ao clamor das nortadas da tormenta
o lábio sonhador murmura a prece.

A vida, muitas vezes, é um deserto
tão árido e de tão combusta areia,
que somente o sonhar nos abre, perto,
cantando, uma água viva que colmeia.

Quando, em gritos, na terra, arde a contenda
de idéias vãs e aspirações pequenas,
feliz a alma que sonha e busca a lenda
dessas alturas límpidas, serenas!

Feliz quem pode levantar sua ânsia,
na asa clara e fugaz da poesia,
para esse eterno azul, que sabe a infância
de cada estrela que de lá radia ...

Esta luta, no mundo, de hostes brutas,
incoerentes, bárbaras, selvagens,
não vale nada ante essas impolutas
constelações das célicas paisagens.

O sonho, sim... é que nos aproxima,
enquanto tudo vai no mundo, a rastros,
da seara que guarda lá em cima
toda a imortal vegetação dos astros.

O sonho, sim... nos leva a essas esferas,
pátrias gloriosas e galhardos mundos,
mundos eternos, onde as primaveras
têm seios mais sadios e fecundos.

O sonho, sim... percorre a trajetória
dos planetas, que rolam nos espaços,
muito acima da vida transitória,
que nós vivemos, de grilhões nos braços.

Vale a pena sonhar. Em redor, quando
tudo enegrece e se espedaça tudo,
é bom ao poeta olhar o céu, sonhando,
sonhando muito, extasiado e mudo,

e, no seu sonho compreender mistérios,
acordar forças que inda estão dormindo,
beber as ondas dos azuis etéreos,
sentir-se imenso espaço infindo.


    Fonte: Redação Maratimba.com
 
Por:  José Rubens Brumana    |      Imprimir