Categoria Geral  Noticia Atualizada em 07-04-2009

Alberto Fujimori: um político enigmático e com fome de poder
(1992) Fujimori cercado de militares
Alberto Fujimori: um político enigmático e com fome de poder
Foto: AFP

LIMA (AFP) — O ex-presidente peruano Alberto Fujimori, declarado nesta terça-feira culpado de violações dos direitos humanos, exerceu, durante 10 anos, um poder absoluto no Peru.

Fujimori, de 70 anos, realizou uma fulgurante carreira política que o levou três vezes à presidência, a primeira delas em 1990 quando, como um engenheiro agrônomo praticamente anônimo, derrotou nas eleições o escritor Mario Vargas Llosa.

As acusações que pesam contra o ex-presidente são: autor intelectual da matança no distrito de Barrios Altos, Lima, em 1991, em que morreram 15 pessoas, matança na Universidade de La Cantuta em 1992, assim como os sequestros do jornalista Gustavo Gorriti, correspondente na época do jornal espanhol El País, e do empresário Samuel Dyer.

Na década em que esteve no poder (1990-2000), "o chinês" - como é conhecido popularmente - foi campeão do neoliberalismo e recebeu aplausos das classes dirigentes do Peru, dos militares e dos organismos financeiros internacionais.

Paradoxalmente, sua campanha foi baseada no argumento de que não aplicaria esse modelo.

"Eu sou o choque", foi sua frase de combate ante as medidas econômicas propostas por Vargas Llosa.

Fujimori também obteve apoio de Washington por sua decisão de enfrentar as guerrilhas do Sendero Luminoso (maoísta) e o Movimento Revolucionário Tupac Amaru (MRTA, guevarista), e de erradicar os cultivos de coca, da qual o Peru é um dos maiores produtores mundiais.

Fujimori dissolveu o Congresso em 5 de abril de 2002, restabelecendo-o sete meses depois com a maioria de forças leais a ele.

Um dos episódios que lhe deu mais prestígio político foi o desenlace da tomada de reféns na embaixada do Japão em abril de 1997 pela MRTA.

Após quatro meses de sequestro, 71 de 72 reféns foram liberados (um deles morreu) e os 14 rebeldes foram mortos em uma operação que recebeu elogios dos governos e questionamentos de organismos de DH, que consideraram que os guerrilheiros foram executados.

O conflito interno deixou mais de 70.000 mortos e desaparecidos.

Mas a vitória sobre os grupos armados trouxe também acusações de graves violações aos direitos humanos e a formação do esquadrão da morte conhecido como Grupo Colina.

As matanças cometidas pelo grupo, que teria sido criado por Vladimiro Montesinos com a anuência de Fujimori, resultaram, provavelmente, na mais grave acusação contra o ex-presidente, a de ser cúmplice na autoria de crimes contra os direitos humans.

A estrela de Fujimori apagou em 2000 quando ele, em meio a escândalos de corrupção, renunciou à presidência via fax do estrangeiro, quando participava de uma cúpula da Apec em Brunei, antes de partir buscando asilo para o Japão, aproveitando-se de sua dupla nacionalidade.

Com seu perfil de homem frio, desconfiado, quase não tem amigos. Calculista e pouco comunicativo, gerou um estilo de governo em que suas principais decisões eram tomadas em um círculo de poucos assessores.

Segundo os adversários de Fujimori, através da aliança com Montesinos e com os chefes militares ele governou o país à margem das formalidades democráticas.

O ex-presidente é acusado, entre outras coisas, de ter acobertado as atividades de seu ex-assessor porque, segundo seus críticos, é impossível que Fujimori não soubesse das ilegalidades cometidas por Montesinos.

Depois de perder o poder, Fujimori disse em seu refúgio em Tóquio que nunca soube da corrupção de Montesinos, a quem ele classificou como um "câncer" que acabou com seu governo.

Durante cinco anos esteve no Japão, onde tentou manter sua vigência política. E logo em seguida fez uma jogada arriscada: em 6 de novembro de 2005 viajou para o Chile, onde foi detido.

Fujimori não foi eleito e o Chile o extraditou. Seu futuro já não depende dele, mas de sua filha Keiko, de 34 anos e sua herdeira política, que aspirará à presidência.
Em setembro de 2007, o ex-presidente Alberto Fujimori teve sua extradição para o Peru decidida pela justiça chilena.

Antes de chegar ao poder, Fujimori, formado em engenharia com especialidade em matemática, era professor universitário, além de ser louco por xadrez.

Apesar dos questionamentos, seus partidários ressaltam os feitos do regime de Fujimori, que fez do pragmatismo seu ideário político, convertendo-se em promotor do neoliberalismo econômico, fazendo do Peru um dos mercados mais abertos da América Latina e conseguindo estabilizar a economia depois de uma época de severa hiperinflação.

Alberto Fujimori: um político enigmático e com fome de poder.

(1992) Fujimori cercado de militares.


Fonte: AFP
 
Por:  Alexandre Costa Pereira    |      Imprimir